Na sexta-feira (17), a AHLA (American Hotel & Lodging Association) mexeu numa ferida que parte da indústria de hospitalidade ainda não quer cutucar. Em estudo feito em parceria com a Kalibri Labs, a ABIH dos Estados Unidos divulgou que as perdas no segmento corporativo este ano devem chegar a US$ 59 bilhões, quando comparadas a 2019. O que isso tem a ver com o Brasil? Bem, podemos vaticinar que esses prejuízos não vão se restringir aos EUA – e não podemos tampar o sol com a peneira, apesar do otimismo no lazer.

Principal fonte de receita do setor, o segmento vem enfrentando dificuldade para retomar no mundo todo. Restrições de viagens por parte das grandes empresas e as plataforma de reunião virtual são fatores usualmente apontados como os causadores dessa lenta recuperação. No entanto, especialistas apontam que, em um primeiro momento, o efeito do segundo pode provocar mudanças mais sensíveis a longo prazo. Em resumo, aquelas viagens preliminares a negócios serão substituídas pelo Zoom, apesar do cansaço geral com esse formato.

Certo é que, na visão da AHLA, o segmento corporativo não volta aos padrões pré-pandêmicos antes de 2024. Mais ainda, esse novo estudo foi feito após nova análise das entidade, que descobriu que a maioria dos viajantes a negócios está cancelando, reduzindo e adiando viagens em meio ao aumento de casos recente de Covid-19 nos EUA.

A entidade cita que isso vem também se refletindo no mercado de trabalho. A indústria hoteleira norte-americana deve encerrar 2021 com 500 mil empregos a menos frente a 2019. “Embora algumas indústrias tenham começado a se recuperar da pandemia, este relatório é um lembrete preocupante de que hotéis e seus funcionários ainda estão lutando”, afirma Chip Rogers, presidente da AHLA. “As viagens de negócios são essenciais para a viabilidade do nosso setor, especialmente nos meses de outono e inverno, quando o lazer normalmente começa a diminuir”, completa.

Demanda de negócios

Essa última fala de Rogers vale para todo e qualquer mercado – sem exceção. Então, transferindo sua fala para alguns milhares de quilômetros ao sul, é impossível não perceber que a situação da hotelaria brasileira ainda é difícil. Apesar da euforia com o segmento de lazer, que realmente vem performando bem, o corporativo ainda é cercado de incertezas.

O avanço da vacinação abre boas perspectivas para grupos e eventos, mas as viagens de negócios tradicionais ainda têm uma longa ladeira acima. A grande questão ainda é a falta de previsibilidade. Quanto vai cair esse mercado? Especialistas falam em 30%, mas quais serão as perdas de verdade? Por enquanto, ninguém tem essa resposta.

A reportagem do Hotelier News apurou que, nos corredores das grandes operadoras, a preocupação ainda persiste. No FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), invariavelmente as reuniões das lideranças da entidade abordam o tema. Em recente reportagem, Roberto Bertino foi direto ao ponto. Segundo o presidente da Nobile, ainda é muito difícil projetar a demanda futura de viagens de negócios.

“Essa projeção fica ainda mais difícil à medida que o aumento de novas cepas impede o retorno ao escritório de muitas empresas importantes”, afirma. “Alguns executivos de viagens são mais otimistas do que outros no que diz respeito ao retorno do corporativo. Embora crédulo de que a retomada vai se dar de forma mais rápida no Brasil, haja vista que 84% de nossa demanda de lazer e corporativa são domésticas, temos que ser moderados nesse otimismo”, completa Bertino.

Com a economia em viés de retração, os orçamentos de hotéis corporativos para 2022 ficam ainda mais desafiadores. Agora, resta ajustar as contas, redobrar a preocupação com os custos e esperar até tudo isso passar. No Hotelier News, esperamos que antes de 2024.

(*) Crédito da foto: mhouge/Pixabay