Por Alfredo Lopes*


Alfredo Lopes
(foto: divulgação)

 

O turismo brasileiro vive um momento importante. Ao mesmo tempo em que vemos o governo federal, por meio do Ministério do Turismo (Mtur), investir cada vez mais no setor, seja em projetos de capacitação e incentivos por todo o país ou mesmo na divulgação do Brasil no exterior, o crescimento fica aquém do seu pleno potencial. Com a multiplicidade de atrativos que dispomos, deveríamos nos colocar entre as principais potências turísticas do mundo, mas, ao contrário, ainda estamos distante do que realmente podemos oferecer.

 

Engrenagem fundamental para o funcionamento de toda a indústria do turismo, a hotelaria, em especial, passa por alguns problemas conjecturais: a crise aérea, que mesmo após um ano de seu início ainda se encontra sem solução, se soma à falta de vôos internacionais para algumas cidades, caso do Rio de Janeiro, o que dificulta a chegada de turistas estrangeiros. Além disso, o câmbio desfavorável e a alta nos preços de alguns alimentos, juntos, também brecam o desenvolvimento mais acentuado.

 

Vemos, hoje, a hotelaria como um todo – e congratulo aqui as lideranças das principais entidades ligadas ao setor, como a Federação Nacional de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (FNHBRBS), o Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb), a Associação Brasileira de Resorts (Resorts Brasil) e, claro, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), da qual honrosamente faço parte –, unida em busca da recuperação. E recentes vitórias juntas ao governo federal ilustram bem isso.

 

Ainda assim, as medidas de desoneração fiscal para o setor hoteleiro, anunciadas no início de setembro pelo Ministério da Fazenda, não significam, necessariamente, a solução de todas as mazelas que nos atingem. Com o cenário atual de incertezas, estamos nos encaminhando para uma situação limítrofe. Vivemos espremidos entre a diminuição constante do faturamento, causada especialmente pela desvalorização do dólar, e o aumento progressivo dos nossos custos – sem contar os impostos.

 

Portanto, apesar de o governo ter a melhor das intenções, a redução da alíquota do Imposto sobre o Produto Industrializado (IPI) de 10% para 5% sobre as fechaduras eletrônicas, que francamente não tem quase nenhum peso no orçamento de um hotel, e a depreciação acelerada para bens móveis, que beneficiam os grandes empreendimentos hoteleiros, além da aprovação do Supersimples, que favorece os micros, pequenos e médios meios de hospedagem, são soluções paliativas perante a alta carga tributária de quase 40%, incluídos os custos com colaboradores, aos quais somos submetidos.

 

Está ficando cada vez mais difícil manter a qualidade do serviço sem mexer muito no preço final para o consumidor, que também já se ressente. Nossas demandas e reivindicações são mais abrangentes.

 

Enquanto isso, vamos em busca de alternativas para burlar a crise. Aqui no Rio, por exemplo, com o turismo internacional em baixa, longe de seus melhores dias, fruto da falta de assentos aéreos, desbalanceamento do dólar e da famigerada exigência do visto, os hotéis apostam em outros segmentos, como eventos e corporativo nacional. Nesse sentido, a parceria com o Rio Convention & Visitors Bureau (RC&VB), para a captação de eventos, e com empresas privadas, para movimentar o turismo de negócios, são fundamentais. Até aqui os resultados são favoráveis: segundo pesquisas da ABIH-RJ, em parceria com a Fecomercio-RJ, nos últimos meses a maior parte do público dos meios de hospedagem da capital é proveniente desses mercados.

 

Em países vizinhos há bons exemplos para nos espelharmos. A hotelaria de Buenos Aires, por exemplo, vive atualmente um momento muito bom. Na capital argentina, a competição é grande – todas as principais bandeiras internacionais estão lá instaladas –, mas, ainda assim, o mercado local exibe ocupações e diárias médias extraordinárias. O mercado chileno é outro que também vive franca expansão. Podemos fazer o mesmo, talvez alcançando índices ainda maiores, pois nosso potencial turístico é inegavelmente superior. O Rio de Janeiro, com todos estes problemas, ostenta uma das festas de réveillon mais conhecidas do mundo, sem contar o carnaval, que todos os anos lota os hotéis da cidade. Além disso, temos um parque hoteleiro qualificado e diversificado, que atende a todos os bolsos e gostos. Há demanda para o ano inteiro, só precisamos de mais apoio e incentivos. Torço para que todas estas medidas signifiquem o início de uma grande virada.

 

* Alfredo Lopes é presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ).

 

Contato

[email protected]