Quem lê as notícias do Hotelier News já sabe o contexto: o lazer puxa a demanda e quem atua no segmento está numa situação mais confortável. Agora, quão melhor só números podem dizer e estudo da STR mostra como esse segmento se comportou. Certo é que a performance, melhor do que a do mercado corporativo, ainda não foi suficiente no ano passado, ficando muito abaixo do padrão pré-pandemia. Agora, é como o velho ditado: em terra de cego, quem tem olho é rei e, de certa forma, os resorts representam um pouco dessa imagem.

Panorama resorts - estudo STR_info 1Intitulado Balanço dos Resorts no Brasil 2020, a pesquisa analisou o desempenho dos resorts nacionais, que são bons termômetros do segmento de lazer, no ano passado. E já começa aí um dado interessante: a queda na ocupação anual frente a 2019 foi similar a de hotéis urbanos. A diferença está mesmo na diária média, com o primeiro grupo não só mantendo como elevando-a, enquanto o segundo teve recuo de 18%. Vale destacar também que 2020 começou aquecido para os resorts, com taxas médias ocupação superiores a 2019 – até a chegada da pandemia (veja ao lado).

Ainda assim, fica a pergunta: essa ocupação e a alta nos preços seriam suficientes para manter uma operação grande como de resorts? Como muitos desses empreendimentos têm parte expressiva na receita ligada ao departamento de eventos, por aí você já consegue medir as dificuldades do ano passado. Em resumo, nenhuma dessas propriedades escapou da obrigação de enxugar custos, desligar funcionários e recorrer ao programa de preservação de emprego do governo federal – e, claro, de queimar caixa. Essa realidade foi inerente para absolutamente toda hotelaria mundial.

Historicamente mais procurados, os empreendimentos no litoral seguiram mais demandados ao longo da retomada do mercado ocorrida no ano passado, mostram os dados da STR. Em novembro e dezembro, início de verão, as taxas de ocupação se aproximaram da faixa dos 60%, quase o dobro da performance dos resorts no interior. Entre os afiliados da Resorts Brasil, as propriedades interioranas superaram as localizadas na costa brasileira em termos de preço, elevando a diária média em 19,5% frente a 2019 (contra aumento de 17,9% das unidades próximas à praia).

Outro dado interessante se refere ao gosto do brasileiros pelo all inclusive. No geral, ao longo de 2020, resorts que operam nesse modelo performaram melhor do que os que atuam com outras modalidades (veja abaixo).

Panorama resorts - estudo STR_info 2

Resorts: momento atual

Mesmo com dificuldades, os resorts brasileiros tinham expectativas elevadas para 2021, até em função do final de ano promissor. Nada disso, contudo, confirmou-se e o segmento viveu uma espécie de déjà vu. A segunda onda de infecções de Covid-19 no país e o consequente endurecimento das medidas restritivas impostas por governos estaduais e municipais comprometeram os indicadores hoteleiros em datas vitais no calendário, como Réveillon, Carnaval e Páscoa.

Sem saída, alguns empreendimentos no interior de São Paulo optaram por fechar as portas novamente, como noticiamos em meados de março. Para esses resorts, a expectativa é de recuperar partes das perdas deste ano com a retomada do segmento Mice. Ainda assim, as incertezas são grandes no setor e tudo vai depender do ritmo de vacinação no país, apesar da boa notícia da aprovação do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos). Convenções de grandes empresas, contudo, parecem uma possibilidade remota e a aposta se concentra em ocasiões sociais, como shows, casamentos, festas de 15 anos e formaturas.

Em relação à demanda hospedagem, ela deve voltar, como foi no ano passado. Agora, como mostramos a partir dos dados da STR, ela ainda é insuficiente para equilibrar as contas dos resorts brasileiros.

(*) Crédito da capa: arthurgalvao/Pixabay

(**) Crédito dos infográficos: STR