Enquanto o projeto de um terceiro aeroporto em São Paulo não sai do papel, o Aeroporto de Congonhas segue como a joia da coroa na cidade (e da Infraero). Ao que tudo indica, contudo, por pouco tempo. Isso porque o governo federal deve receber hoje (1) sinal verde do TCU (Tribunal de Contas da União) para a concessão de 15 terminais aeroportuários no país, incluindo Congonhas.

Pelo que se especula nos corredores de Brasília, o processo de concessão desses terminais deve ser aprovado por unanimidade pelos ministros do órgão de controle. Com isso, o plano do Ministério da Infraestrutura é lançar o edital já na próxima semana, realizando o leilão até 15 de agosto, informa o O Globo. Saindo tudo dentro desse plano, a ideia é deixar o certame dos aeroportos imune ao ambiente das eleições.

Congonhas - concessão à iniciativa privada

Reforme em Congonhas prevê novo terminal de embarque

Segundo informações da Folha de São Paulo, os ativos em análise para concessão respondem por 15,8% da movimentação de passageiros no transporte aéreo nacional. Caso sejam totalmente concedidos, a expectativa é que garantam investimentos de R$ 7,3 bilhões ao longo do contrato.

Vale destacar que o governo Jair Bolsonaro se aproxima do fim do mandato sem cumprir sua promessa de concluir a venda de todos os 49 aeroportos da Infraero, o que tornaria a autarquia em uma operadora regional e prestadora de serviços para os terminais concedidos. Neste processo, houve avanços e contratempos.

No ano passado, por exemplo, o governo federal realizou leilão na B3 para a concessão de 22 aeroportos em 12 estados, arrecadando R$ 3,3 bilhões em outorgas. A concorrência foi feita pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) em três blocos: Norte, Sul e Central. Neles, estavam os terminais Manaus (AM), Porto Velho (RO), Curitiba (PR), Foz do Iguaçu (PR), Navegantes (SC), Goiânia (GO), São Luís (MA) e Teresina (PI), entre outros.

Os contratempos, além do atraso da concessão desses 15 últimos terminais, têm relação direta com a não inclusão do Santos Dumont nesta nova rodada de concessões, o que estava inicialmente previsto. A retirada do aeroporto do certame ocorreu após contestações do governo fluminense. Com isso, o Ministério da Infraestrutura optou por leiloá-lo em conjunto com o Aeroporto Internacional do Galeão, também do Rio de Janeiro, que foi alvo de um pedido de devolução por parte da atual concessionária, a Changi Airports.

O que está em jogo?

Tendo o esperado sinal verde do TCU, o governo federal vai leiloar os 15 aeroportos agrupados em três blocos. O primeiro, voltado para a aviação geral, inclui o Campo de Marte (SP) e o Aeroporto de Jacarepaguá (RJ), com outorgas e investimentos previstos de R$ 138 milhões e R$ 506 milhões, respectivamente. O segundo, por sua vez, é formado pelos terminais de Belém e Macapá, com aportes estimados em R$ 875 milhões e pagamento por parte dos vencedores pelo direito de exploração de R$ 57 milhões.

Por fim, o terceiro bloco é liderado por Congonhas, contando ainda com os terminais de Campo Grande, Corumbá (MS), Ponta Porã (MS), Santarém (PA), Marabá (PA), Carajás (PA), Altamira (PA), Uberlândia (MG), Uberaba (MG) e Montes Claros (MG). O investimento previsto é de R$ 5,89 bilhões, sendo R$ 3,8 bilhões apenas no aeroporto paulista, com outorga de R$ 255 milhões.

Visão do mercado

Consultado pela reportagem do Hotelier News, Eduardo Sanovicz disse que a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) apoia amplamente a privatização dos aeroportos desde o início das rodadas de concessões. “Desde 2012, quando esse processo começou, a infraestrutura aeroportuária melhorou muito, tanto para nós que operamos, quanto para os passageiros”, observa.  “A infraestrutura objetiva, ou seja, a ampliação dos espaços de permanência, também teve grande avanço, por exemplo”, complementa.

Sanovicz destaca que a próxima rodada de concessões está sendo acompanhado de perto por todo mercado. “Há grande expectativa, até porque Congonhas é uma espécie de joia da coroa”, destaca o dirigente, acrescentando que a indústria também aguarda um desfecho para a privatização do Galeão e do Santos Dumont. “Creio que essa pauta não avançou em função do debate em torno de demanda de voos nos dois terminais. O problema enfrentando pelo Rio é o crescimento da economia, o ambiente econômico para que a demanda aumente. Não é um tema ligado ao número de pousos e decolagens no Galeão”, acrescenta.

Ainda assim, embora a entidade veja com bons olhos as privatizações, Sanovicz aponta um desafio neste relacionamento com as futuras e atuais concessionárias. “O desafio é a alta das taxas aeroportuárias”, afirma o dirigente da Abear. Vale destacar que, hoje, as empresas aéreas vivem um período de elevação dos custos, muito em função do crescimento no preço do querosene de aviação, o que tem se refletido também no aumento das passagens aéreas. “Já colocamos esse assunto em debate e é mesmo um tema a ser enfrentado em nossa agenda”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Paulo Rezende/Força Aérea Brasileira

(**) Crédito da foto: Divulgação/Infraero