Nesta semana, o Hotelier News resolveu abordar um dos temas mais instigantes para toda hotelaria na sessão Opinião. Diante dos efeitos da pandemia, quais serão as principais transformações no segmento corporativo no pós-pandemia? Como ele vai se comportar? Ele voltará a ser como antes? Quais as principais tendências? Convidados Marcelo Marinho, diretor executivo da ICH Administração de Hotéis,  para opinar.


Zoom fatigue. Novo termo incorporado ao jargão corporativo e traduz o estresse causado pelo excesso de encontros virtuais. Eles existem há décadas, mas, devido a pandemia, ganharam relevância excepcional. O Zoom viu o número de usuários pular de 10 milhões para 300 milhões em poucos meses. Crescimento visto também no Microsoft Teams e Google Meetings.

A adoção dessas tecnologias, de forma acidental e imperativa, trouxe benefícios para organizações e novos hábitos para o mundo pós-pandemia. Número maior de pessoas continuará trabalhando remotamente. O palestrante requisitado internacionalmente falará em um mesmo dia em vários países. A capacidade das salas não será mais problema. Executivos poderão cursar escolas de ponta no exterior sem sair de casa.

Mas eles estarão dispostos a deixar de lado a experiência de vivenciar novas culturas in loco? Aulas com grandes gurus valem muito, mas são os contatos presenciais com colegas o maior benefício para muitos CEOs. Não só a troca de experiências reais, mas a construção de relações de confiança e amizade.

O mesmo nas transações comerciais. Nada supera a negociação presencial. Da deferência de se deslocar até o cliente, mostrando sua importância, até o famoso aperto de mão. Verifica-se hoje uma demanda reprimida por reencontrar parceiros, reestabelecer relações que ficaram enfraquecidas e recuperar o convívio perdido.

 

Marcelo Marinho - corporativo no pós-pandemia“Turismo corporativo é investimento. Cria relacionamentos de maior durabilidade há centenas de anos. Não à toa o uso das videoconferências foi tão limitado até então. Tecnologia deve trabalhar por nós, não o inverso. Trabalho precisa ser motivo de realização, não de fadiga. Eis o novo normal.”

Marcelo Marinho, diretor executivo da ICH Administração de Hotéis

 

Ciências lembram que somos seres sociais e criamos relações estruturadas de forte subjetividade. Nosso cérebro foi programado a decodificar comportamentos não-verbais como respiração, olhares e outros sinais corporais. O Zoom fatigue é resultado dessa dificuldade de leitura e mais sensações que conhecemos: invasão de privacidade, percepção de aprisionamento, problemas técnicos, música do vizinho, o choro das crianças. Há também a autocrítica ao olhar para si na tela o tempo todo e a sensação de vigilância, com gravação das reuniões.

Estudos apontam que, diante da tela com tantos rostos, nosso cérebro se esforça mais para decodificar mensagens e poucas delas são assimiladas. O intervalo de 1,2 segundo, causado pelo delay nas transmissões, traz a falsa impressão de que os demais estão desinteressados em nossas ideias.

Podem relações irem adiante com essas adversidades? Como fica a produtividade? É nítida a decepção dos profissionais com suas performances. Não se trata apenas da rotina, mas sabemos que o convívio e o bate-papo informal fazem brotar novas ideias, fortalecem identidades e a cultura organizacional.

Turismo corporativo é investimento. Cria relacionamentos de maior durabilidade há centenas de anos. Não à toa o uso das videoconferências foi tão limitado até então. Tecnologia deve trabalhar por nós, não o inverso. Trabalho precisa ser motivo de realização, não de fadiga. Eis o novo normal.

(*) Crédito da capa: Getty Images

(**) Crédito da foto: Ricardo Lage/ICH Administração de Hotéis