Nesta semana, o Hotelier News resolveu abordar um dos temas mais instigantes para toda hotelaria na sessão Opinião. Diante dos efeitos da pandemia, quais serão as principais transformações no segmento corporativo no pós-pandemia? Como ele vai se comportar? Ele voltará a ser como antes? Quais as principais tendências? Segue, abaixo, o que nós pensamos.


É difícil cravar o que acontecerá com o segmento corporativo no pós-pandemia. Em conversas com hoteleiros de todo país, notamos um misto de otimismo e resignação. Sabe-se, contudo, que haverá muitas mudanças – e ela começa pela demanda, que será menor e diferente. A dificuldade está mesmo em prever o tamanho dessa queda, porque a sociedade vive transformações profundas. Eventos presenciais serão trocados por híbridos? O Zoom potencialmente substituirá reuniões? São respostas que ainda não temos.

O que sabemos hoje com certeza é que, em grandes centros dependentes dos segmentos corporativo e Mice, a situação é grave. Mais ainda, talvez São Paulo simbolize melhor esse “drama”. Números do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil) referentes a 2020 mostram que o RevPar na cidade caiu 67% em comparação com o ano anterior, puxado principalmente pelo tombo de 63,9% na ocupação.

Um sopro de esperança surgiu no final do ano passado, mas rapidamente solapado pela intensidade da segunda onda, que redundou em medidas restritivas bastante rígidas que só agora começamos a sair. Em consequência, hotéis independentes não resistiram e fecharam as portas definitivamente e, provavelmente, muitos condo-hotéis devem ter batido novamente à porta dos investidores em busca de novos aportes. Algumas unidades totalmente focadas em feiras e congressos, caso do Novotel Expocenter, seguem fechados, aguardando a retomada do calendário da cidade.

Alguns players do segmento, como empresas dos setores farmacêutico e automotivo, podem reconsiderar retornar com os eventos presenciais. Grandes multinacionais, que seguem regras de compliance, ainda não têm data para retomar as viagens de seus executivos – muitos deles ainda trabalhando em home office. Há ainda a aviação comercial, que tem parte relevante da receita orienta do segmento de negócios. Com demanda menor, qual será o impacto no preço das passagens no pós-pandemia? Somos hoteleiros, e não vamos nos arriscar a responder a essa pergunta, mas, entenda, ela é importante para toda indústria de viagens.

Hotelier News - corporativo no pós-pandemia

 

“Enfim, são muitas variáveis, mas entendemos que ainda não é hora de jogar a toalha. A vacinação está avançando e, cedo ou tarde, a demanda vai voltar – menor, mas vai. O desafio do hoteleiro é saber se adaptar à nova realidade. Mais do que nunca, as vendas precisam continuar a ser incentivadas e preparar o time comercial será essencial. Investir em tecnologia também será mandatório.”

 

Ou seja, há ainda muitas incertezas que o hoteleiro não pode deixar de lado em suas avaliações e planos para o pós-pandemia. E, em meio a esse contexto desafiador, entendemos que os hotéis midscale – por terem sempre investido no corporativo – será a categoria mais impactada. Primeiro, pela provável diminuição na realização de pequenos eventos em seus salões. Segundo, pela queda certa na movimentação, estimada por especialistas em 30%, mesmo quando o mercado ganhar novamente tração. Há ainda, especialmente em grandes cidades, a competição do short-term rental, que ganha espaço e, também, atenção das operadoras.

Ao mesmo tempo, a hotelaria corporativa não se resume a São Paulo ou outra grande metrópole. Dados do FOHB e da STR mostram que há praças secundárias performando muito bem desde o ano passado. São cidades que giram em torno do agronegócio ou de grandes indústrias e empresas ali instaladas. Nesses municípios, PMEs (pequenas e médias empresas) continuam com seus negócios girando em torno desses conglomerados de maior porte. Na verdade, elas não podem parar. Sua sobrevivência depende disso – e o turismo de negócios agradece.

Enfim, são muitas variáveis, mas entendemos que ainda não é hora de jogar a toalha. A vacinação está avançando e, cedo ou tarde, a demanda vai voltar – menor, mas vai. O desafio do hoteleiro é saber se adaptar à nova realidade. Mais do que nunca, as vendas precisam continuar a ser incentivadas e preparar o time comercial será essencial. Investir em tecnologia também será mandatório. Se não têm eventos presenciais…. vamos de híbridos mesmo, por exemplo. Não geram muita hospedagem, mas trazem receitas que podem fazer a diferença.

É preciso também investir nas experiências que o meio de hospedagem possui e que se deve tirar do armário. Gastronomia, workshops, passeios e tours locais, ações que envolvam a vizinhança – afinal são os potenciais indicadores do negócio – e tudo que for criativo deve vir à tona. Aliás, essa é uma dica importante. Como as agências de publicidade, os hotéis precisam ter departamentos de criação (de experiências) para seus clientes. Mãos à obra que temos um mercado para reerguer!

(*) Crédito da capa: Free-Photos/Pixabay