Como elevar o GOP dos hotéis em 2025?
10 de outubro de 2024Com 2025 batendo à porta, a hotelaria se vê mergulhada em números, dados, reuniões e estratégias para um ano vindouro melhor. Para desempenhar resultados mais assertivos, contudo, é preciso olhar para o passado. Em 2023, por exemplo, os hotéis consolidaram uma tendência iniciada em 2022 de forte crescimento de diárias e avanço moderado na taxa de ocupação. No entanto, os índices de RevPar não consolidaram um aumento do GOP (Lucro Operacional) de empreendimentos urbanos. Neste contexto, o que fazer para ser mais rentável na última linha?
De acordo com o relatório Hotelaria em Números 2024, desenvolvido pela JLL, a média de ocupação dos hotéis no ano de 2023 foi de 60,8%, acima do nível pré-pandemia. A diária média foi de R$ 390,80, crescimento de quase 35% em relação a 2022. Como consequência, o RevPar apresentou expansão de quase 40%. Já o GOP médio de 2023 foi de 37% em relação à Receita Total, ligeiramente acima do alcançado em 2022.
As principais explicações para esse baixo crescimento da lucratividade, apesar do alto crescimento do RevPar, foram a inflação e o aumento significativo da folha de pagamento. “Nosso estudo, divulgado em setembro, pode parecer atrasado, mas focamos nas principais métricas do setor e nas estruturas de custos. Com a hotelaria em fase de construção orçamentária, o levantamento pode ser um bom orientador sobre como e onde os hotéis estão gastando”, diz Ricardo Mader, diretor de Valuation and Risk Advisory da JLL, em entrevista à reportagem do Hotelier News.
Mader reforça que, mesmo com os indicadores subindo, ainda não atingiram o patamar histórico de 2013/2014, mas considera o cenário atual positivo. “A ocupação está crescendo e a diária segue com grande impacto no resultado financeiro final. Acredito que vamos vivenciar uma continuidade de aumento de demanda, pois temos um ciclo baixo de desenvolvimento de novos hotéis devido às taxas de juros, questões econômicas e custos de construção”, avalia.
Segundo o executivo da JLL, desenvolver novos empreendimentos não é uma prioridade dos investidores, logo, ele prevê que a oferta não deve crescer de forma expressiva tão cedo. “Temos projetos em andamento, o setor não está parado, mas é um índice baixo para o tamanho continental do mercado. Com a economia crescendo, haverá desequilíbrio entre oferta e demanda, o que pode beneficiar os hotéis”, acrescenta.
E o GOP, como fica?
Os números de 2024, obviamente, não estão fechados, mas Mader projeta uma continuidade das tendências iniciadas nos últimos dois anos. “Veremos margens de GOP melhores este ano. As diárias estavam muito baixas, mas esse caminho que o setor está percorrendo não pode ser deixado para trás. Não podemos reduzir preços de jeito nenhum”, comenta o sócio da JLL, em uma mensagem-chave para todo e qualquer hoteleiro.
O fenômeno da falta de mão de obra também afeta essa equação. Como consequência, os hotéis tiveram que contratar funcionários extras, que são mais caros que colaboradores contratados.
Isso pode ser observado, por exemplo, nos resultados dos hotéis urbanos, que tiveram crescimento de despesas com salários e encargos de cerca de 1,4 ponto percentual em hospedagem e 2 pontos percentuais em A&B (Alimentos e Bebidas em relação) em 2023 frente ao ano anterior. No caso dos flats, o crescimento do repasse de salários e encargos foi de 3,8 pontos percentuais.
“Vejo muitos empreendimentos promovendo melhorias em A&B, sabendo atuar de forma mais assertiva neste departamento, com mudanças de menus e conceitos de restaurantes. O consumidor está pegando o hábito de frequentar espaços de hotéis, o que é uma tendência muito benéfica. Nas grandes cidades mundiais, essa tendência cresceu demais”, pontua Mader.
Alexandre Gehlen, diretor geral da ICH Administração Hoteleira, explica que, em 2024, a rede vem sentindo aumento tanto de ocupação, quanto de diária média, além de uma inflação mais controlada – fatores que devem beneficiar o GOP. “A expectativa é que a margem suba em relação a 2023”, diz.
O fim do Perse
De acordo com o estudo da JLL, as receitas devem ter crescimento em 2025, mas é importante haver um controle rigoroso dos custos para a manutenção das margens dos resultados. Isso é especialmente importante em razão da insegurança sobre até quando poderão se beneficiar do Perse (Programa Emergencial da Retomada do Setor de Eventos).
“O Perse foi muito positivo para o setor, uma verdadeira benção, mas temos que voltar a viver sem ele, como sempre foi. Hoteleiro sempre é muito negativo sobre as perspectivas do setor. Se fosse apostar em um cenário para 2025, diria que a ocupação vai subir. Afinal, a economia está crescendo e a demanda não acompanhará?”, questiona Mader. “Já os preços, não acredito que vão crescer tanto”, completa.
Para o próximo ano, a construção orçamentária da ICH prevê decréscimo de margem com o fim do Perse. “Vamos precisar manter uma margem saudável acima de 35%. Se olharmos para o retrovisor, há 10 anos, o GOP estava em quase 40%. Nos anos seguintes, em 2017, caiu para menos de 20% com a super oferta e a economia andando de lado. Em 2018, subimos para 25%, 2019 entramos na casa dos 28%. Em seguida, veio a pandemia”, relembra Gehlen.
Em 2022 e 2023, a ICH recompôs suas margens, com mais de 30% de GOP. A expectativa para 2024 é fechar acima de 25%. “Vejo dois componentes essenciais para manter um GOP saudável: crescimento da economia e equilíbrio entre oferta e demanda”, aponta Gehlen.
Em fase de construção orçamentária, a operadora manterá um perfil mais conservador para 2025. “Espero que o Perse se mantenha no ano que vem, pois um terço do benefício foi para recompor fundos de hotéis e condomínios. Outro terço utilizamos para reformas de ativos e o restante foi repassado ao investidor”, revela o diretor da ICH. “Vamos seguir em linha com o que fizemos em 2023”, complementa.
Oferta hoteleira
O levantamento da JLL ainda apresentou um panorama da oferta hoteleira em 2023, mas vale ressaltar que não existem números oficiais sobre a oferta de hotéis no país. A consultoria desenvolveu o resultado de acordo com a sua base de dados, construída a partir de sites especializados e informações do mercado.
A JLL identificou hotéis que são afiliados a cadeias hoteleiras nacionais e internacionais, além de propriedades independentes. Os empreendimentos pertencentes a redes nacionais com menos de 600 quartos também foram considerados como independentes.
O percentual de empreendimentos afiliados a cadeias hoteleiras ainda é pequeno em número de hotéis (16,8%), mas em número de apartamentos é mais representativo, chegando a 42,2%, do total de UHs disponíveis no Brasil, demonstrando que os hotéis afiliados a redes têm em média maior número de quartos, especialmente os de portfólio internacional.
No ranking das marcas hoteleiras do Brasil, a Accor aparece em primeiro lugar, seguida por Ameris e Atlantica.
Na lista de maiores operadoras atuantes no mercado brasileiro, a rede francesa também aparece no topo do ranking.
Por fim, a gigante hoteleira ainda conta com quatro marcas entre as primeiras colocadas na lista das principais bandeiras do mercado nacional.
Para acessar o estudo completo da JLL, acesse o link.
(*) Crédito da foto: Hotelier News
(**) Crédito das imagens: Divulgação/JLL