Muitos fatores têm jogado contra a indústria de hotéis nos últimos meses. No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, violência e crise econômica são questões bastante palpáveis, mas é difícil cravar a mais preponderante. Fato é que os níveis de ocupação nunca estiveram tão baixos. Fontes ouvidas pelo Hotelier News falam em índices beirando 30%, com algumas regiões – caso da Barra da Tijuca, que fica longe da zona mais procurada por turistas – registrando números inferiores.

Muito se fala também do boom da oferta hoteleira para a Copa do Mundo de 2014 e, principalmente, para a Olimpíada e Paralimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. Na época, houve até um “respiro”, com bons números: durante o Mundial da Fifa, a ocupação média ficou em 76%, com os hotéis quatro estrelas operando em 81% no mês de agosto de 2014. Índices positivos também foram observados durante a Rio2016, mas nos meses seguintes o indicador não chegaria nunca mais a esses patamares, apontam dados da ABIH-RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro). 

Diante desse quadro de crise econômica sem precedentes no estado, associada à violência urbana e um cenário de sobreoferta no mercado, como a hotelaria carioca pode reagir? A reportagem do Hotelier News ouviu dois dos dirigentes mais conhecidos do setor no Rio de Janeiro para tentar traçar caminhos para driblar o mau momento.

Alfredo LopesLopes: foco é na área de eventos​

Buscas da hotelaria carioca

Alfredo Lopes, presidente da ABIH-RJ, acredita que o setor deve direcionar todo seu esforço para o segmento de eventos, principalmente corporativos. Segundo o dirigente, esse tipo de reserva correspondia a 47% do turismo carioca em 2016, número mais recente levantado pela entidade.

"O turismo de lazer é sazonal, então contamos com ele em determinados períodos no ano. O nosso objetivo é a captação de hóspedes corporativos, melhorando os indicadores de segurança da cidade, por exemplo", explica Lopes.

Neste tópico em especial, pode-se citar o encontro promovido pela ABIH-RJ em junho, no Belmond Copacabana Palace. Na ocasião, representantes da hotelaria carioca tiveram um encontro com o ministro Vinicius Lummertz e o general Richard Nunes, secretário estadual de Segurança do Rio de Janeiro.

Lopes recomenda ainda mais investimentos por parte dos hotéis da cidade na área de A&B (Alimentos & Bebidas). Na mira do dirigente estão não só turistas, mas também os próprios cariocas. Segundo o presidente da ABIH-RJ, essa tem sido uma tendência no setor para incrementar o faturamento. "Fazemos o que é possível de acordo com nossa realidade, tendo em vista que não há verba repassada pelo governo para investirmos em áreas importantes da cidade, incluindo o turismo", conta.

Hotelaria CariocaSampaio: "é preciso ter paciência"

Momento de resiliência

Nas palavras de Alexandre Sampaio, presidente do FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação), existem três abordagens possíveis. A mais óbvia, segundo o executivo, é buscar parcerias em diferentes esferas que abasteçam não só a hotelaria, mas o turismo local como um todo.

O segundo ponto é a redução de custos dos hotéis, algo que já acontece, de acordo com o dirigente. "Além de economizar com energia, recursos hídricos e outros requisitos, os empreendimentos deveriam começar a pensar em reduzir a oferta", avalia. "Isso seria uma decisão mais enérgica, mas talvez necessária, pois não existe demanda para suprir todos os custos inerentes à atividade", explica.

Por fim, outra saída seria procurar vias jurídicas, promovendo maior diálogo com prefeitura e o governo do estado, para flexibilizar leis. Isso permitiria, por exemplo, a transformação de quartos de hotéis em apart-hotéis. Na visão de Sampaio, a medida poderia incrementar a receita por meio da venda dessas unidades.

Para ele, o cenário político no estado e no país não ajudam. Para complicar, a fragilidade de mercados sul-americanos, como o argentino, que enfrenta uma forte recessão, dificulta uma recuperação mais acelerada.

"Só nos resta esperar por uma melhorar resolução do cenário político e econômico, dentro e fora do Brasil. Por hora, a hotelaria carioca não tem condição alguma de reverter essa maré negativa", finaliza.

(*) Crédito da Capa: Poswiecie/Pixabay

(**) Crédito da Foto: Alexandre Macieira/ABIH-RJ

(***) Crédito da Foto: Lucas Kina/Hotelier News