Depois de mostrar como anda a situação na região Sul, a reportagem do Hotelier News parte rumo ao Centro-Oeste. E começamos a viagem por Goiás, estado com destinos de lazer consolidados e segmentos Mice e corporativo movimentados. E, para construir esse cenário, ouvimos atores de todas as áreas do setor: redes, resorts e a hotelaria independente.

“É notório que as cidades turísticas do interior do estado, como Pirenópolis, Caldas Novas e Aruanã, têm sido mais procuradas. Lazer e ecoturismo estão com demanda maior. Na capital, que é mais corporativa e de eventos, a procura é menor.” A afirmação é de Fernando Carlos Pereira, presidente da ABIH-GO, que traz um retrato similar a de outros estados.

“Como até semana passada os eventos estavam proibidos, o mercado não está aquecido na capital. Na região metropolitana de Goiânia, temos o turismo religioso em Trindade, que também está devagar”, destaca. “O perfil do público que vai até lá é formado por idosos, pertencentes ao grupo de risco. Então, o movimento por lá está bem baixo.”

Quanto à ocupação, os números chegaram a patamares muito abaixo do que a hotelaria goiana estava habituada. “O primeiro semestre foi um período muito difícil. A taxa de ocupação não atingiu 10%. E, em algumas cidades goianas, o fechamento de hotéis foi total por certo período”, destaca Pereira.

Mesmo diante de limitações, grande parte da hotelaria goiana já retornou às atividades. “No momento, cerca de 90% dos empreendimentos do estado já estão funcionando, porém com restrições de capacidade”, aponta Pereira. “Pelas informações que levantamos, o fechamento definitivo de hotéis no estado foi em torno de 10%”, completa.

Goiás e os hotéis

Aberto durante todo período de pandemia, o Castro’s Park acompanhou de perto as baixas no setor. “No início, foi obrigatório o fechamento. No entanto, quem estivesse com hóspedes poderia manter as portas abertas. E foi o que fizemos”, explica Olavo de Castro, diretor de Habitações. “Logo na sequência, foi liberado atender ao público essencial, então nós nunca fechamos”, acrescenta.

Quanto à ocupação no período, Castro conta que a situação foi crítica, mas vem crescendo. “Em abril, atingimos 2% de ocupação. Em maio, chegamos a 5% e, em junho, fomos para 10%. Julho aumentou pouco, na faixa de 20%. Fechamos agosto com 27% e, agora em setembro, foi o primeiro mês que não tivemos crescimento no indicador”, explica.

Com seis empreendimentos no estado, a Atlantica Hotels International assiste a uma retomada mais rápida, e se planejou para isso. “A ocupação dos hotéis tem melhorado mensalmente. Hoje, a média está em 50% acumulado e tivemos picos de 65% nos últimos dois meses”, pontua Alexandre Barros, diretor de Operações. Segundo ele, a expectativa é que, com maiores liberações, os números voltem a crescer. “Por decreto estadual, os hotéis ainda têm limitação de 65% da capacidade”, explica.

Na Aviva, as atividades foram paralisadas em 22 de março, com a reabertura iniciada de forma gradual em julho. “O período em que suspendemos as atividades foi importante para revisitarmos processos e abrir com rígidos protocolos de segurança”, avalia Miguel Diniz, recém-anunciado como gerente geral de Marketing & Vendas da Aviva.

“Vale comentar que temos o Aviva Vacation Club, de férias compartilhadas, e que conta com 35 mil clientes na base. Durante o período em que suspendemos as atividades fizemos um forte trabalho com esses clientes. Inclusive, conseguimos remarcar 96% das reservas”, completa.

Goiás - retomada_Alexandre Barros

Segundo Barros, hotéis da Atlantica em Goiás tiveram picos de 65% de ocupação nos últimos meses

O público da retomada goiana

Mesmo sem eventos, os hotéis da Atlântica continuam a receber executivos. “O hóspede de negócios continua sendo o mais assíduo. Notamos que este público corporativo tem permanecido mais dias, mas com retornos ao destino menos frequentes”, comenta Barros. “O público de lazer, formado por famílias e casais que querem se divertir com segurança, também tem aumentado.”

Já o Castro’s Park hospedou no início da pandemia muitos trabalhadores de serviços essenciais. “Profissionais da saúde e de companhias elétricas, por exemplo”, explica Castro. “Depois, recebemos pessoas com negócios na cidade que precisavam viajar. Aos poucos esse público de negócio foi crescendo”, acrescenta.

O retorno do futebol também ajudou a alavancar os números durante a pandemia. “Goiás tem dois times da Série A do Brasileirão: Goiás e o Atlético Goianiense. Com isso, temos tido um volume de times de futebol se hospedando conosco”, revela Castro. Ele acrescenta que o hotel experimenta uma inversão nos dias mais demandados. “Nossa ocupação maior sempre foi durante a semana. Agora, o sábado tem sido a nossa maior ocupação”, pontua.

Já na Aviva, sem a opção dos eventos, é o lazer regional que garante a ocupação do complexo em Rio Quemte. “Temos observado muitos hóspedes que estão vindo de carro e de cidades mais próximas”, revela Diniz. O executivo destaca ainda números da Fecomercio de Goiás, que apontam para a total paralisação do segmento Mice.

“São 150 centros de convenções, salas e salões de hotéis fechados (no estado). Inclusive a área mais prejudicada é dos eventos, já que é a única atividade que ainda não retornou do fechamento para contenção do coronavírus”, diz Diniz. “Tanto Rio Quente Resorts quanto o Hot Park estão operando com uma capacidade máxima de ocupação de 50%”, completa.

Goiás - retomada_Miguel Diniz

Diniz: 2020 não é perdido e, apesar dos desafios, o ano trouxe muitos aprendizados para a Aviva 

Recuperação de caixa

Para o Castro’s Park, o ano fica marcado pela tentativa de reduzir ao máximo os danos provocados pela pandemia. Segundo o diretor do hotel goiano, as perdas levaram a dispensas na equipe. “Começamos o ano com 127 colaboradores e terminaremos com 74. Por mais que façamos todas as negociações, há ainda o custo de desligamento”, explica Castro. “Vamos ter uma faixa de R$ 3,5 milhões de prejuízo no ano”, prevê.

Por outro lado, a Atlantica encontra uma situação um pouco mais favorável. “Já atingimos o ponto de equilíbrio em alguns hotéis. Acreditamos que a retomada aos patamares anteriores será no segundo semestre de 2021”, estima Barros. Mais ainda, o executivo vê valiosos aprendizados ganhos na pandemia. “Não falamos em recuperação neste ano, se compararmos aos patamares anteriores. No entanto, não é um ano perdido. Com certeza foi e ainda está sendo difícil, mas fomos surpreendidos positivamente em Goiás.”

Visão parecida tem a Aviva. “Não consideramos que seja um ano perdido. Com isso tudo estamos tirando muitos aprendizados, revendo processos, tornando o nosso negócio ainda mais ágil e digital”, revela Diniz. “Gradualmente, as pessoas retomam projetos de viagem, inclusive o turismo nacional, sobretudo o rodoviário, começa a mostrar sinais de recuperação. Deve ser uma tendência de viagem que irá crescer daqui em diante”, completa.

Já o presidente da ABIH-GO aguarda com ansiedade a recuperação mais forte do segmento Mice. “A retomada na capital vai se destacar a partir de agora que os eventos foram autorizados”, aposta Pereira. “Foi liberado para até 150 pessoas, com distanciamento de um metro das cadeiras e respeitando o limite de 50% de ocupação”, acrescenta Castro. “Só essa pequena liberação já deve trazer aumento de ocupação”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Secom/Prefeitura de Caldas Novas

(**) Crédito das fotos: Divulgação/Aviva e Atlantica Hotels International