Um levantamento mais aprofundado da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) identificou uma taxa recorde de 72,9% das famílias brasileiras endividadas em agosto. Os dados da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), além de negativos, são explicados por dois fatores principais: precariedade no mercado de trabalho e elevação da inflação no país.

O estudo esmiúça ainda as regiões com a maior proporção neste índice, sendo o Acre — 93,7% das famílias com dívidas neste mês. Neste caso, o rendimento per capita mensal dos acreanos é o 10º menor no Brasil. Ainda de acordo com a CNC, em outro extremo, Santa Catarina é o estado com menos famílias endividadas (50%), seguido do Piauí.

“Não é uma conta simples de soma e subtração. O crédito tem ajudado muita gente na recomposição da renda. Na pandemia, muitos têm recorrido à informalidade e investido em pequenas atividades para garantir seu sustento, por isso o acesso ao crédito é tão importante. Mas há uma necessidade grande de planejamento do orçamento familiar para que esse alívio não vire um problema ainda maior do que o que se tinha inicialmente, uma bola de neve”, afirma José Roberto Tadros, presidente da CNC.

CNC: inadimplência e cartão

Por outro lado, a entidade identificou também que a inadimplência está, por enquanto, controlada. Segundo Izis Ferreira, economista da CNC responsável pela pesquisa, o aumento das dívidas cria um alerta sobre a saúde financeira das famílias brasileiras, mas a estabilidade do outro fator representa a capacidade de cumprir acordos. Isso, no entanto, essa diferença pode ser momentânea.

“Mesmo com a inadimplência controlada até o momento, a alta nos juros amplia o risco para o acirramento desses indicadores à frente, num cenário de predomínio de restrições nos orçamentos das famílias, especialmente as de menor renda. O crédito mais caro e as despesas elevadas restringem a capacidade de consumo das famílias. Enquanto faltarem sinais mais robustos de recuperação no mercado de trabalho formal e na renda, com alívio da inflação, as necessidades de recomposição dos rendimentos pelos mais vulneráveis seguirão elevadas. Com isso, o endividamento no País pode aumentar ainda mais”, explica.

Por fim, em agosto, a proporção de dívidas no cartão de crédito renovou o recorde histórico, alcançando 83,6% das famílias endividadas no País. A proporção de pessoas com dívidas nessa modalidade está quase 5 pontos percentuais acima do patamar de fevereiro de 2020, antes da decretação da pandemia.

Os financiamentos de automóveis, por sua vez, aumentaram quase 3 pontos percentuais, enquanto as dívidas nos carnês, muito difundidas entre as famílias de menor renda, cresceram 2 pontos percentuais.

(*) Crédito da foto: Dylan Gillis/Unsplash