Embora seja esperado que a combinação de juros altos e inflação freie a retomada dos serviços em 2022, as atividades do setor continuam apresentando maior capacidade de recuperação. A análise da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) aponta que, em março, o segmento teve crescimento de 1,7% na receita frente ao mês anterior. O volume é a maior alta para o mês da série histórica do estudo, iniciado em 2011.

A avaliação é baseada nos dados da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços) de março, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo o estudo, o setor avançou em quatro dos últimos cinco meses, acumulando uma expansão de 7% em relação a fevereiro de 2020.

Contribuindo para esse avanço, o destaque vai para os serviços prestados às famílias (+2,4%) e os de transportes (+2,7%), mesmo com a alta de preços. Embora o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado nos últimos 12 meses esteja elevado (+12,1%), o ritmo de reajustes do setor segue vagaroso, correspondendo a pouco mais da metade do índice (+6,9%).

Para José Roberto Tadros, o “efeito de circulação” é um dos principais fatores para tal resultado. “Este tem impulsionado essas atividades desde a segunda metade do ano passado, os serviços ainda não têm sido tão afetados pela aceleração da inflação nos últimos meses quanto outros setores”, avalia o presidente da CNC.

Turismo em marcha lenta

Quanto ao turismo, o cenário devastador que a pandemia deixou ainda está se revertendo gradualmente. A expectativa da CNC é que o setor recupere os níveis de receitas anteriores à crise sanitária no terceiro trimestre do ano. Todavia, embora esteja reduzindo prejuízos, às atividades turísticas continuam operando “no vermelho”.

Com base nos dados do IBGE, a entidade avaliou que o prejuízo acumulado no turismo brasileiro desde o início da pandemia é de R$ 508,8 bilhões. Em março, a diferença entre a geração efetiva de receitas e o seu potencial mensal registrou perda de R$ 9,0 bilhões.

Diante do cenário, a projeção da CNC sobre crescimento do setor de serviços em 2022 mudou de +0,9% para +1,6%. Da mesma forma, o turismo tende a crescer menos este ano (+2,4%) do que em 2021 (+22,1%). O economista da entidade responsável pela análise, Fabio Bentes, avalia que, considerando as previsões de baixo crescimento econômico, a expectativa é que as atividades terciárias não apresentem taxas próximas às do ano passado.

“A tendência, portanto, é que o setor ainda apresente taxas expressivas no comparativo interanual nos próximos meses, em virtude da baixa base comparativa do início de 2021 e do efeito retardado sobre os preços de serviços, que deverá ganhar força adiante, na medida em que a difusão da inflação permanece elevada”, finaliza Bentes.

(*) Crédito da foto: Pixabay / Firmbee