Pela primeira vez desde fevereiro deste ano, a inadimplência dos brasileiros voltou a registrar alta. De acordo com a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), realizada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), diversos fatores colaboraram para que o resultado alcançasse, em novembro, o maior nível desde setembro de 2020 – período em que foi registrada alta de 26,1% – entre eles o endividamento recorde registrado em outubro e os desafios econômicos impostos aos orçamentos domésticos.

O índice representa elevação de 0,5% em relação a outubro e 0,4% na comparação anual, sendo o maior nível para meses de novembro na série histórica da análise, iniciada em janeiro de 2010. A parcela que afirmou não ter condições de pagar suas dívidas ou contas em atraso e que, portanto, permanecerá inadimplente, permaneceu estável, registrando 10,1%, queda de 1,4 ponto frente ao mesmo mês de 2020.

Por sua vez, o percentual de famílias que relatou ter dívidas a vencer – cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e casa – cresceu pelo 12º mês consecutivo, atingindo 75,6%, alta de um ponto percentual em relação a outubro e de 9,6 pontos em relação ao mesmo período do ano passado.

Apesar dos juros maiores, as concessões de crédito com recursos livres para pessoas físicas seguem aumentando consideravelmente. Segundo dados do Bacen (Banco Central), o mês de outubro registrou crescimento real de 3,3% nas concessões de crédito. No saldo das operações, o aumento real foi de 1% nas transações com recursos livres.

De acordo com José Roberto Tadros, presidente da CNC, na tentativa de ancorar melhor as expectativas inflacionárias futuras, o Copom (Comitê de Política Monetária) apertou o ritmo de alta dos juros. “Até o momento, isso não foi suficiente para abrandar a dinâmica do endividamento e o crédito segue sendo a saída do brasileiro para recompor a renda”, afirma.

CNC: endividamento por faixa de renda

Izis Ferreira, economista responsável pela pesquisa, aponta o uso do crédito como mais relevante ao grupo das famílias com rendimento de até dez salários mínimos. De outubro para novembro, o número de endividados nessa faixa de renda subiu de 75,9% para 77%. No mesmo mês do ano passado, o indicador registrava 67,9%, ou seja, em 2021 o aumento foi de quase dez pontos percentuais. “Para esse grupo em especial, a inflação corrente ao consumidor girando próxima a 11% ao ano acirra o orçamento familiar e aumenta a necessidade do crédito para organizar as despesas”, explica.

Nas famílias com renda acima de dez salários mínimos, a tendência também é de alta. Nesse grupo, a proporção de envidados alcançou o maior patamar da série histórica, registrando aumento mensal de 69,5% para 70,3%. Na comparação anual, o crescimento foi de 11 pontos percentuais diante dos 59,3% observados em 2020. “As famílias no grupo de renda mais elevado têm revertido suas poupanças, ampliadas durante a pandemia, para o consumo de serviços, auxiliando a retomada recente da atividade econômica do setor”, completa.

O indicador de inadimplência apresentou divergências entre os dois grupos. A proporção de famílias com contas ou dívidas em atraso na faixa de renda mais baixa voltou a subir, de 28,9% para 29,4%, alcançando maior nível desde setembro do ano passado. Já no grupo com renda mais alta, o percentual caiu de 11,6% para 11,4%, atingindo o menor patamar desde julho de 2020.

Dívidas por mais tempo

Entre os endividados, o número de famílias com dívidas por mais de um ano também tem subido de forma significativa desde o fim do primeiro trimestre, atingindo máxima histórica de 36,2%, o que indica que os consumidores estão buscando alongar os prazos de pagamento de suas dívidas, fazendo com que as parcelas caibam no orçamento e diminuindo, assim, o comprometimento da renda.

Ainda segundo a pesquisa da CNC, o prazo médio de atraso na quitação das dívidas também aumentou no período, chegando a 61,6 dias. Apesar da queda de 1,4 ponto percentual na comparação anual, o número de atrasos acima de 90 dias é o maior desde agosto deste ano, alcançando 41,6% dos inadimplentes.

(*) Crédito da foto: rupixen/Pixabay