Após aumento no número de famílias endividadas em janeiro, uma nova edição da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) realizada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Produtos e Serviços) aponta mais uma alta em fevereiro. No mês passado, a quantidade de brasileiros com dívidas chegou a 66,7%, dado que corresponde a um crescimento de 0,2 ponto percentual frente ao primeiro mês do ano.

Por outro lado, a proporção de famílias que declararam estar “muito endividadas” caiu para 13,9%, a menor parcela desde setembro de 2019. A comparação anual também mostra redução do indicador. O percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso também caiu pelo sexto mês consecutivo, alcançando 24,5% em fevereiro, contra 24,8% em janeiro. A proporção é a menor registrada desde fevereiro de 2020 (24,1%), antes do início da pandemia.

Para o presidente da CNC, José Roberto Tadros, os indicadores vêm confirmando o que foi observado nos últimos meses, mas ainda é cedo para uma avaliação concreta do orçamento dos brasileiros em 2021. “Vimos que não houve uma explosão de inadimplência até fevereiro deste ano, mesmo com mais famílias endividadas, mas o agravamento da crise sanitária e a demora da vacinação ainda vão desafiar a economia do País, principalmente neste primeiro trimestre. Ao mesmo tempo em que as condições de crédito podem funcionar para a recomposição de renda, o impacto da crise no mercado de trabalho deve impor maior rigor às famílias na hora de consumir”.

A pesquisa da CNC mostra ainda que a parcela das famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso também diminuiu pelo sexto mês consecutivo, passando de 10,9%, em janeiro, para 10,5%, em fevereiro. É o menor nível desde abril de 2020 (9,9%).

CNC: famílias ricas se endividam mais

Em relação ao endividamento, para as famílias com renda de até 10 salários mínimos, o percentual das que se encontram endividadas manteve estabilidade na passagem mensal: 67,9% do total de famílias (em 2020, esse número foi de 66%). Já para as famílias com renda acima de 10 salários mínimos, a proporção do endividamento teve nova e forte alta: de 60,7%, em janeiro, para 62,1%, em fevereiro (61,1% em 2020). A economista da CNC responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, explica que a proporção de famílias com dívidas tem crescido de forma mais intensa entre as que têm mais de 10 salários mínimos mensais desde novembro do ano passado.

“As famílias consideradas mais ricas estão revertendo aos poucos a poupança acumulada durante a pandemia ao consumo. Já as famílias de menor renda, com o fim do auxílio emergencial, precisaram adotar maior rigor na organização dos orçamentos. Para este grupo, o endividamento manteve-se estável no primeiro bimestre do ano, mas pode voltar a subir, uma vez que o crédito pode suportar pequenas iniciativas de empreendedorismo, no contexto de evolução lenta do mercado de trabalho”, alerta.

A proporção de famílias que utilizam o cartão de crédito como principal modalidade de dívida se manteve em 80% do total, após máxima histórica de 80,5%, em janeiro. Outros tipos de dívida que mostraram crescimento no mês foram o cheque pré-datado e o crédito consignado.

(*) Crédito da capa: Pixabay