Parte da população começou a receber as primeiras parcelas mensais do Auxílio Brasil, que deve injetar ao menos R$ 84 bilhões na economia em 2022. Segundo estimativa levantada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), do montante, aproximadamente 70% (R$ 59,15 bilhões) deverão ser transformados em consumo imediato pelas 17,5 milhões de famílias beneficiadas.

Segundo Mariana Aldrigui, bacharel em Turismo, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP e pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo), os recursos do programa não deverão ter reflexo direto na indústria de viagens. “Inicialmente, não há relação desses recursos com gastos em viagens. Com o Auxílio, as famílias passarão a gastar no comércio e serviços, o que obviamente ajuda a reaquecer a economia como um todo”, pontuou em entrevista ao Hotelier News.

Por outro lado, ela explica que o setor pode se beneficiar indiretamente. “Uma economia reaquecida gera empregos, aumenta o poder de compra e cria um cenário no qual os donos de empresas podem oferecer benefícios como férias aos seus colaboradores, o que acaba movimentando o segmento”, completa.

A CNC aponta ainda que, do valor a ser injetado no consumo, R$ 28,04 bilhões serão gastos no varejo e R$ 31,12 bilhões no setor de serviços. Posteriormente, mais de 25% (R$ 21,62 bilhões) devem ser usados para quitação de dívidas e 3,83% (R$ 3,21 bilhões) devem ser poupados.

Para José Roberto Tadros, presidente da entidade, as projeções podem ser explicadas pelo cenário financeiro do país. “Diante das ainda frágeis condições econômicas e das características de consumo do público elegível ao benefício, a maior parte dos recursos deve ser direcionada para o consumo imediato”, ressalta.

Vale lembrar que são elegíveis ao Auxílio Brasil famílias em situação de pobreza (renda familiar per capita de R$ 100,01 a R$ 200,00) ou pobreza extrema (renda familiar per capita de até R$ 100,00), que tenham gestantes, lactantes, crianças, adolescentes e jovens entre 0 e 21 anos incompletos.

Comprometimento com dívidas

Fabio Bentes, economista responsável pelo levantamento, explica que a definição de consumo imediato depende de fatores como massa de rendimentos, nível de preços ou grau de endividamento da população. Ele observa que, quanto maiores as dívidas, maior tende a ser a parcela destinada à quitação. De acordo com os dados da entidade, que observou em 2021 a maior taxa de endividamento em 11 anos, para cada ponto percentual de comprometimento da renda, o estímulo ao consumo sofre baixa de 0,71%.

Segundo o Banco Central do Brasil, em 2021, 30,3% da renda média dos brasileiros estava comprometida com dívidas. O resultado representa o maior patamar da série histórica iniciada em 2005.

“Mesmo com a breve redução desse percentual entre o segundo e terceiro trimestres em 2020, os desdobramentos econômicos da crise sanitária voltaram a pressionar o endividamento familiar. Assim, diante desse avanço, a tendência é de que uma parcela significativa do Auxílio Brasil seja direcionada para a redução desse endividamento”, avalia Bentes.

A CNC também observa que, caso o percentual da renda comprometida com dívidas regredisse ao mesmo patamar do período pré-pandemia (24,7%), a destinação de recursos para consumo imediato teria acréscimo de R$ 6,75, somando R$ 65,91, número superior à primeira estimativa.

(*) Crédito da foto: joelfotos/Pixabay