O PIB do terceiro trimestre cresceu 7,7%, frente aos três meses anteriores, segundo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado veio aquém das projeções da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo), de 9,0%. Apesar dos números abaixo do esperado, a entidade prevê a recuperação da economia aos níveis pré-pandemia já no primeiro trimestre de 2021.

“Mesmo crescendo abaixo do esperado, o resultado do PIB mostra que já iniciamos o caminho de retomada do crescimento da economia, após a crise sem precedentes do segundo trimestre. No entanto, essa reação exigirá muito esforço do governo e do setor privado, já que os efeitos da pandemia sobre a atividade econômica ainda deverão se fazer sentir nos próximos meses”, avalia José Roberto Tadros, presidente da CNC.

A partir dos resultados do terceiro trimestre, a expectativa da CNC é de uma nova alta no quarto trimestre do ano (+1,8% em relação ao terceiro), ou seja, em patamar inferior à expansão divulgada pelo IBGE. “Essa desaceleração se deve a dois fatores. Primeiramente, com o avanço de 7,7% do PIB, a base de comparação será maior – o que certamente impedirá o registro de um novo avanço tão significativo. Além disso, o valor do auxílio emergencial – tão importante para a retomada do crescimento – tem sido menor nos três últimos meses do ano. Neste cenário, a volta do PIB ao nível pré-pandemia deverá ocorrer no primeiro trimestre do próximo ano”, explica Fabio Bentes, economista da entidade.

Nas projeções, em 2020 a economia deve encolher cerca de 4,3%, com o consumo das famílias e o comércio cedendo 4,5% e 5,2%, respectivamente. Para 2021, diante da perspectiva cada vez mais concreta de aplicação de vacinas contra a Covid-19 e a menor taxa básica de juros da história, a CNC prevê avanço de 3,4%.

CNC: terceiro trimestre

No terceiro trimestre de 2020, a alta computada pelo IBGE foi insuficiente para compensar a retração recorde verificada no segundo trimestre deste ano (-9,6%). Com o avanço no terceiro trimestre, a economia ainda se encontra 2,6% abaixo do nível de atividade verificado no período pré-pandemia. Nos últimos quatro trimestres encerrados em março, o PIB brasileiro totalizou R$ 7,37 trilhões.

Sob a ótica da produção, a indústria (+14,8%) foi o setor que melhor reagiu no trimestre, especialmente por conta do crescimento de 23,7% da indústria de transformação. O setor de serviços também acusou avanço recorde (+6,3%), influenciado pelos desempenhos das atividades de transporte (+12,5%) e pelo comércio (+15,9) – atividades que haviam sido diretamente afetadas pelas medidas de isolamento social e a consequente diminuição da circulação de pessoas. Das doze atividades pesquisadas, apenas a agropecuária (-0,5%) não avançou. Entretanto, no acumulado do ano este é o único grande setor a registrar avanço (+2,4%).

Pelo lado da demanda, após caírem 16,5% no segundo trimestre, os investimentos reagiram (+11,0%), bem como as despesas de consumo das famílias (+7,6% contra -11,3% na fase mais aguda da pandemia). Assim, a relação FBCF/ PIB alcançou 16,2% – maior patamar em um ano; no entanto, muito aquém dos 20% observados antes da recessão de 2015-2016.

Indicadores referentes ao segundo trimestre já apontavam uma reação significativa do nível de atividade econômica a partir de julho. De acordo, por exemplo, com estatísticas fornecidas pela Secretaria do Trabalho, ligada ao Ministério da Economia, entre julho e setembro deste ano, o saldo entre admissões e demissões no mercado de trabalho formal foi positivo em 694 mil postos de trabalho, revertendo parcialmente o saldo altamente negativo do segundo trimestre (-1,2 milhão de vagas formais). O aumento da taxa de desocupação medida pela PNAD contínua, apesar de indesejável para a sociedade, reflete a retomada da procura por emprego diante do processo de reabertura da economia, em marcha desde a virada do primeiro para o segundo semestre deste ano.

Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, houve queda de 3,9% – a terceira consecutiva nesta base de comparação. Antes da divulgação dos resultados pelo IBGE, a CNC projetava recuo de 3,5%. Apenas cinco dos doze setores pesquisados acusaram avanços no período, com destaque para atividades financeiras (+6,0%), serviços de utilidade pública como fornecimento de água, serviço de esgoto, gás e energia elétrica (+3,8%) e atividades imobiliárias (+2,7%). Sob a ótica dos gastos, os cinco agregados recuaram, destacando-se os investimentos (-7,8%) e o consumo das famílias (-6,0%).

(*) Crédito da foto: joelfotos/Pixabay