Com a flexibilização das medidas restritivas, proporcionada pelo avanço da vacinação contra a Covid-19, o turismo tem reaquecido de forma gradual. De acordo com levantamento recente da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), que apontou endividamento recorde em outubro, a expectativa é de que o setor contrate 478,1 mil trabalhadores formais entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022. Destes, 81,7 mil serão empregos temporários com o intuito de atender à demanda da alta temporada.

Segundo o Índice de Atividades Turísticas, apurado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o volume de receitas do setor avançou 49,1% desde o fim da segunda onda da pandemia no Brasil. Embora o indicador ainda esteja 20,7% abaixo do registrado antes do início da crise, este é o melhor resultado desde fevereiro do ano passado.

A entidade projeta que, com a permanência dos indicadores positivos, as atividades turísticas atinjam faturamento de R$ 171,9 bilhões ao longo da próxima alta temporada, contribuindo para elevar, a partir de maio de 2022, o volume de receitas a níveis pré-pandemia.

José Roberto Tadros, presidente da CNC, observa que o comportamento dos preços setoriais é um sinal da reativação parcial das atividades. “Embora, durante a primeira onda da pandemia de Covid-19, os serviços turísticos tenham ficado mais baratos, apresentando redução de 6,3% nas diárias de hotéis e pousadas, e de 28,5% nas passagens aéreas, por exemplo, nos últimos meses a retomada da demanda e principalmente a evolução de tarifas como a energia elétrica, vêm pressionando praticamente todos os preços da economia”, analisa.

Em 2021, a energia elétrica acumulou alta de 24,97%, representando 19% nos custos em serviços de hospedagem e 15% em bares e restaurantes. Ainda assim, de março de 2020 a outubro de 2021, a variação média dos preços dos serviços turísticos (+7,8%) operou abaixo da inflação medida pelo IPCA-15 (+11,8%) e alguns dos serviços típicos do setor ainda observaram preços inferiores aos praticados antes do início da crise sanitária, como hospedagem (-5,7%), transporte por aplicativo (-6,7%) e passagens rodoviárias intermunicipais (-10,7%).

CNC: avanço na vacinação proporciona alta de vagas

O estudo realizado pela CNC aponta ainda que os impactos positivos da flexibilização vêm sendo observados na geração de postos de trabalho formal nas atividades turísticas. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), em 2020, quando o setor apresentou retração de 36% no volume de receitas, a diferença entre o número de admissões (897,51 mil) e desligamentos (1,3 milhão) foi responsável pelo saldo negativo anual de 238,68 mil vagas. Por outro lado, entre janeiro e setembro de 2021, antes do início das contratações para a alta temporada, as empresas já haviam registrado saldo positivo de 167,53 mil postos formais, a maior parte gerada a partir do avanço da vacinação, em maio.

Fabio Bentes, economista responsável pela pesquisa, analisa que, tradicionalmente, o setor de bares e restaurantes é o que mais oferece oportunidades de emprego temporárias nesta época do ano. “ Para a temporada iniciada este ano, o ramo deverá responder por 77,5% ou 63,4 mil vagas. Outro ramo que costuma se destacar é o de hospedagem que, em geral, oferece durante o período a quase totalidade (97,2%) das suas vagas temporárias ao longo de 12 meses. Para a alta temporada 2021/2022, este segmento deverá responder por 13,8% (11,2 mil) do total de empregos criados no turismo”, afirma.

A pesquisa também aponta que os principais profissionais demandados pelo setor ao longo da alta temporada deverão ser recepcionistas (14,49 mil vagas), cozinheiros e auxiliares (8,09 mil), camareiros (7,30 mil), garçons e auxiliares (4,76 mil) e auxiliares de lavanderia (7,76 mil). No recorte regional, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais deverão oferecer metade do total de vagas.

Para Alexandre Sampaio, presidente da FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação), o início da primeira alta temporada após a flexibilização não só gera expectativas positivas, mas também ajuda a definir o andamento da economia. “Este período costuma concentrar até 44% da receita anual, frequentemente fazendo a diferença entre um ano positivo ou negativo para as empresas do setor, especialmente para micro e pequenos estabelecimentos”, ressalta.

(*) Crédito da foto: fancycrave1/Pixabay