Após bater recordes em julho, o índice de famílias brasileiras endividadas chega a 74% em setembro. Os dados foram divulgados hoje (4) pela Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumido) desenvolvida pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o que representa alta de 1,1 ponto percentual frente a agosto e de 6,8 pontos ante 2020. Em contrapartida, a inadimplência no país aponta um cenário mais positivo.

Na contramão do indicador de endividamento, a inadimplência mostrou a segunda redução mensal consecutiva: o percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso atingiu 25,5% do total de famílias, 0,1 ponto percentual menor do que o nível de agosto, e 1 ponto abaixo do apurado em setembro de 2020. Para José Roberto Tadros, presidente da CNC, essa diminuição tende a se consolidar ao longo do ano, mostrando o esforço das famílias em manter seus compromissos financeiros em dia, seja por meio da renegociação, seja por maior controle dos gastos ou evitando o consumo de supérfluos.

“É positivo e surpreendente ver que os brasileiros estão conseguindo controlar seus gastos e equilibrar melhor o orçamento, mesmo absorvendo mais dívidas para dar conta de suas necessidades. Isso porque a inflação mais alta vem diminuindo o poder de compra das famílias, em especial as de menor renda. Parece haver uma maior compreensão sobre o uso do crédito, ferramenta importante de composição de renda em períodos de crise financeira”, destaca o presidente da Confederação.

CNC: inadimplência tende a diminuir mais

Izis Ferreira, economista da CNC responsável pela pesquisa, aponta que o maior endividamento da população está relacionado também a fatores como juros relativamente baixos no Brasil para a tomada de crédito, tornando a contratação mais acessível. Mas o cartão de crédito, modalidade mais difundida no endividamento e a que tem o maior custo, renovou mais uma vez a máxima histórica (2010), representando 84,6% do total de famílias com dívidas.

“Apesar da facilidade de acesso ao crédito em geral e no cartão, o aumento dos juros está em curso e tende a encarecer as dívidas e demais despesas em aberto. O recente aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), mesmo que temporário, acirra ainda mais esse custo. Por outro lado, predomina a tendência de redução nos dois indicadores de inadimplência da Peic, em que o indicador de contas atrasadas deve se aproximar de 25% até dezembro”, avalia a economista.

Tendências semelhantes por renda

O endividamento dos grupos de renda segue apresentando tendências semelhantes desde abril. Em setembro, para as famílias com renda de até dez salários mínimos, o percentual das endividadas saltou de 74,2% para 75% do total, também renovando a máxima histórica do indicador. No mesmo mês de 2020, 69% das famílias nessa faixa de renda estavam endividadas. Para as famílias com renda acima de dez salários mínimos, a proporção de endividados também alcançou o recorde, com incremento de 67,6% para 68,9% em setembro, ante 59% em setembro de 2020.

Entre as regiões, o Sul alcançou o maior percentual de famílias com dívidas (82,3%), mas é a que tem a menor incidência de famílias com contas atrasadas, por exemplo (20,8%). Já o Nordeste encerrou o terceiro trimestre com a segunda maior proporção de endividados (76,2%) e a maior incidência de famílias com contas atrasadas (32%).

(*) Crédito da foto: Unsplash