Em primeiro semestre conturbado em 2021, com mais restrições em razão da pandemia da Covid-19 e altos e baixos nos setores econômicos, o Brasil tem 70% das famílias endividadas no período. O levantamento, realizado pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), aponta que é o maior índice em 11 anos.

O estudo aponta ainda que mesmo com a ajuda de programas e renegociação de dívidas, quase 82% das famílias possuem pendências no cartão de crédito. Além disso, a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) mostra que o endividamento de junho chegou a 69,7%, alta de 1,7 ponto percentual frente maio e 2,5 pontos ante junho de 2020.

O percentual de famílias brasileiras com dívidas ou contas em atraso alcançou 25,1% em junho, acima do nível de maio e 0,3 ponto percentual menor que mesmo mês no ano passado. A parcela das famílias que declararam que não ter condições de pagar contas ou dívidas e que permanecerão inadimplentes também aumentou de 10,5% para 10,8% no mês a mês. O indicador está, no entanto, 0,8 ponto abaixo do observado em junho de 2020.

CNC - revisão projeção_José Roberto Tadros

Tadros: inflação e auxílio emergencial menor atrapalham

De acordo com José Roberto Tadros, presidente da CNC, além da pandemia, o orçamento das famílias na pandemia foi prejudicado diretamente por fatores como inflação mais elevada e redução no valor do auxílio emergencial.

“Ainda que os indicadores de inadimplência se encontrem mais baixos na comparação anual, os números mostram que as famílias têm se endividado mais ao longo do ano para conseguir manter algum nível de consumo, respaldadas por uma frágil segurança no mercado trabalho, e preços mais altos dos itens de primeira necessidade”, salienta.

Recentemente, outra pesquisa da CNC também apontou que a intenção de consumo das famílias brasileiras cresceu em junho.

CNC: Famílias de menor renda e inadimplência

O endividamento por grupos de renda apresentou tendências semelhantes em junho, com as famílias nos dois grupos de renda atingindo proporções recordes de dívidas. Para as que ganham até dez salários mínimos, o percentual de famílias endividadas saltou de 69% para 70,7% do total de famílias.

Em junho de 2020, 68,2% das famílias nessa faixa estavam endividadas. Às famílias com renda acima de dez salários mínimos, a proporção do endividamento também teve incremento forte: de 64,2% para 65,5% em junho, ante 60,7% em junho de 2020.

“As dívidas das famílias têm se alongado no período acima de um ano. O crédito vem ajudando o brasileiro, atua na recomposição de renda, mas a cada mês nós tememos que o orçamento familiar atinja um patamar de dificuldade que impeça ainda mais o consumo e dificulte a reorganização da economia”, resume explica Izis Ferreira, economista da CNC responsável pela pesquisa.

Cartão de crédito

A proporção das famílias que utilizam o cartão de crédito como principal tipo de dívida alcançou a máxima do indicador: 81,8% do total de famílias. Entre as famílias com mais de dez salários mensais, o cartão é o principal tipo de dívida para 82,6% delas. Crédito pessoal, carnês de lojas e financiamento de carro também se destacaram entre as modalidades mais procuradas em junho.

(*) Crédito da foto: Unsplash