No último fim de semana, Sébastien Bazin falou sobre sua atual missão à frente da companhia durante participação no IHIF (International Hotel Investment Forum), realizado em Berlin. Entre outras coisas, o CEO da Accor mencionou a importância de proteger a individualidade, tendências mercadológicas os piores momentos da empresa na pandemia.

Em uma sessão de apresentação durante o evento, Bazin disse que a lição primordial aprendida durante a pandemia foi a humildade. “Tem sido difícil. Pela primeira vez na vida tive de aceitar que sou cego. Você sabe que tem que tomar decisões e não sabe se o governo tomou as medidas certas. Você não está no controle. Você não está mais no comando”, explicou para a plateia do IHIF.

“E é quando você não sabe muito que as decisões mais difíceis devem ser tomadas”, completou Bazin, se referindo a um momento extremamente delicado que a empresa teve que passar durante a pandemia.

23 de março de 2020

Essa foi a data mais difícil para Bazin à frente da Accor. “Tive duas horas para tomar a decisão de enviar um e-mail para 290 mil pessoas para dizer a eles que, a partir de 1º de abril, teríamos que fechar as portas (dos hotéis). E foi terrivelmente injusto, especialmente para nossas grandes equipes na África, América do Sul e Sudeste Asiático, onde os governos não estavam atuando fortemente no bem-estar social. Mais ainda, informava também que, depois de apenas quatro dias e muito de repente, eles não teriam mais salário. E isso foi minha culpa”, reconheceu.

“Enviei o e-mail às 13h e tive uma reunião do conselho às 17h para votar dividendos repassados ao mercado. Eu disse ao conselho, do qual sou presidente, que deveríamos suspendê-lo e implorei a eles que me dessem 25% desse montante de € 280 milhões para formar um fundo (Heartist) para ajudar os funcionários necessitados ”, complementou o CEO da Accor.

De acordo com Sébastien, até agora, 110 mil pessoas pediram subsídios, que é de aproximadamente € 400  por pessoa. “Para alguns que ganhavam € 4 por dia, isso mudou tudo.”

‘Aspectos positivos’ da pandemia.

Apesar das dificuldades, Bazin tenta manter o otimismo e olha o lado ‘positivo’ da pandemia. “Nunca deveria dizer isso, mas tenho gostado [desse período]. Tornou-se um momento em que você tem tempo para refletir, para ser generoso, para ser humilde, para se aproximar dos gestores locais. Agora sei seus nomes e certamente conheço suas habilidades. Meu trabalho é a estratégia, a visão, o balanço, mas aprendi a dar [aos gerentes] as chaves”, comentou.

Encontrar tempo para estreitar o relacionamento com os proprietários foi uma das maiores conquistas da pandemia, afirma o CEO da Accor. “Minha prioridade é proteger o navio Accor. Nunca estivemos tão próximos dos proprietários como nos últimos 18 meses – e agora está melhor”, acrescentou.

Entre altos e baixos, Bazin tenta colocar na balança o que deve funcionar ou não daqui para frente, mas já antevê mudanças nas segmentações de clientes. “Será diferente. Minha participação de 40% no lazer vai melhorar drasticamente, com os períodos mais longos de permanência dos hóspedes e mais conexão com o meio ambiente. Tenho procurado por isso nos últimos cinco anos e agora vai finalmente acontecer.”

Ainda assim, ele reconhece estar ainda bastante preocupado com a queda de 20% nas viagens de negócios internacionais, número que pode chegar até 25% em sua avaliação. “Espero estar errado. Nos últimos 15 anos, nossa operação se concentrou bastante em clientes que vêm de outros países ou de cidades próximas para viagens de negócios”, comentou.

Novos modelos de trabalho

Assim como as viagens de negócios, os modelos de trabalho também sofreram alterações. Bazin disse que não prevê um retorno em grande escala ao escritório, já que muitas pessoas que adotaram o home office deverão mantê-lo. “Temos que reconfigurar os espaços dos nossos hotéis para eles, e uma vantagem é que as OTAs não estarão envolvidas. Os novos requisitos do trabalho são diversão, descobertas e conhecer pessoas ”, afirma.

Ele acrescentou que as pessoas passaram a pandemia descobrindo que não querem pensar ou fazer as coisas da mesma forma que faziam antes. Os 2 mil colaboradores da sede da Accor, em Paris, foram reduzidas a 12 durante os dias mais sombrios, com aproximadamente 1 mil trabalhando em casa ou em licença.

“A maioria está de volta agora, e não há falta de pessoal”, disse. “Eles estão de volta com 100% do salário, mas alguns pouparam dinheiro durante a pandemia. Talvez um terço provavelmente não volte. Eles estão tentando descobrir quem são do outro lado da pandemia.”

Bazin disse que embora o foco principal seja ter o número certo de pessoas no local para receber os hóspedes, ele não pode mais impor uma equipe que trabalhe sempre nos finais de semana. “Frequentemente, são sempre as mesmas pessoas nos fins de semana”, finaliza.

(*) Crédito da imagem: OuiShare/Flickr.