Uma nova regra na Europa vem dando dor de cabeça para o Airbnb, que mesmo com esse revés segue em crescimento. Em vigor a partir de 6 de agosto, a determinação coloca Barcelona como a única cidade europeia a proibir aluguéis de curto prazo para acomodações privadas, mesmo que ainda seja permitida a locação de apartamentos inteiros, desde que o proprietário seja licenciado para tal.

A regra é baseada no rápido crescimento do turismo na cidade nos últimos 10 anos e integra um longo debate sobre criar alternativas para apoiar a economia local e garantir a qualidade de vida dos moradores.

A repressão às locações divide a opinião de autoridades e representantes da empresa. O governo municipal pontua que restringir a locação privada é uma das poucas alternativas de que dispõe para frear o chamado over tourism e evitar o agravamento dos problemas de moradia na cidade.

“Estamos muito felizes pelas pessoas virem a Barcelona e curtirem a cidade, porque a amamos e queremos compartilhá-la, mas é preciso haver regras de equilíbrio”, pontuou Janet Sanz, vice-prefeita de Barcelona e principal expoente da campanha de repressão, em entrevista ao New York Times.

O Airbnb, por outro lado, afirma que as locações intermediadas pela plataforma não trazem danos à cidade e ressaltou que o serviço é fonte de renda para muitos anfitriões de Barcelona. Representantes da plataforma também disseram que o serviço não afeta a disponibilidade de moradia, visto que a maioria dos proprietários que disponibilizam os espaços vivem nos mesmos imóveis.

“Em Barcelona, a ausência de regras claras para os anfitriões que alugam quartos em suas casas não tem impacto sobre o nosso negócio, mas estamos preocupados com o impacto das regras da prefeitura sobre as famílias locais”, declarou Patrick Robinson, vice-presidente de Políticas Públicas do Airbnb na Europa. Ele afirmou ainda que será possível desenvolver um trabalho em conjunto com as autoridades, a fim de buscar uma melhor solução para o impasse.

Entenda o problema

Barcelona passou a ser roteiro obrigatório para turistas após sediar a Olimpíada de 1992. O investimento feito durante o evento tornou a cidade mais atrativa e ela, consequentemente, tornou-se um destino turístico. Em 2019, sozinha, a capital catalã recebeu mais do que o dobro de turistas internacionais do que o Brasil.

Quando o Airbnb chegou à cidade, em 2009, ainda não havia uma regulamentação específica para este tipo de serviço, que passou a despertar interesse rapidamente. Em 2016, cerca de 20 mil quartos e apartamentos privados estavam disponíveis para locação pela plataforma, apontam dados do Inside Airbnb, relatório que acompanha as acomodações oferecidas pela empresa ao redor do mundo.

Os números também mostraram que, em 2017, o número de acomodações privadas oferecidas pela empresa superou o de apartamentos inteiros. À época, 45% das mais de 16 mil ofertas do Airbnb eram acomodações dentro de imóveis.

Com a falta de regulamentação, os anfitriões passaram a operar de forma “ilegal” e, ao mesmo tempo, o número de turistas na cidade aumentava consideravelmente, despertando protestos por parte dos moradores, que se incomodavam com o comportamento dos visitantes.

Estudo publicado pelo Journal of Urban Economics apontou que a atividade do Airbnb em Barcelona provocou alta de 7% no valor de aluguéis e de 17% no valor de aquisição de imóveis.

Fiscalização

Com relação a este tema, Robinson pontuou que a empresa colaborou com o governo municipal para a regulamentação. Ele acrescentou que o Airbnb solicita que os anfitriões aceitem permitir que seus nomes, endereços e números de documento sejam entregues às autoridades. O executivo afirmou ainda que mais de 7 mil pessoas que violaram as regras da plataforma tiveram suas ofertas retiradas, em conjunto com a prefeitura.

A vice-prefeita, por sua vez, ressaltou que a nova lei não permite exceções e que isso inclui os viajantes de negócios. Ela afirmou que o governo está coletando dados para oficializar as solicitações de retirada de ofertas. Atualmente, os custos com fiscalização figuram em cerca de US$ 12,5 milhões. Os anfitriões se posicionaram contra a medida, alegando que ela possui um caráter antidemocrático.

É difícil ainda dizer de que forma novas legislações como essa em grandes cidades turísticas, caso de  Barcelona, podem afetar os negócios do Airbnb. Por enquanto, um destino aqui e outro ali tem tomado decisões assim. No Brasil, esse caminho parece distante, e por motivos óbvios: over tourism não é nossa realidade. Ao contrário, hoje ainda faltam viajantes, especialmente de negócios (internacionais, com todo o potencial que o país tem, então, nem se fale).

Se a moda pega, contudo, talvez a plataforma tenha que repensar a maneira como se posiciona no mercado, assumindo de vez seu papel de OTA, em vez de uma plataforma de aluguel de curta temporada. O interesse maior na adesão de quartos de hotéis, plano postergado em função da pandemia, mas que já está novamente no radar do Airbnb, talvez indique que essa mudança de posicionamento esteja se materializando.

(*) Crédito da foto: Fotografin/Pixabay