A malha aérea doméstica está relativamente próxima dos padrões pré-crise, levando otimismo para hotéis de todo Brasil. Em ritmo mais lento, a internacional também se recupera, o que vem despertando o interesse – até pelos preços competitivos – de muitos turistas nacionais. OTAs como Kayak, Decolar e ViajaNet já colocam alguns destinos estrangeiros entre os mais procurados por brasileiros no segundo semestre. Diante disso, é para a hotelaria de lazer ficar preocupada?

É bom citar que o câmbio deu uma trégua recentemente, com o dólar estacionando na casa de R$ 5,20 nas últimas semanas, depois de bater em R$ 5,70 em dezembro. É provável que essa queda na divisa norte-americana tenha estimulado a procura por destinos estrangeiros, mas outros fatores, como o avanço da vacinação, também têm deixado os brasileiros mais seguros para encarar voos longos.

Segundo a ViajaNet, os usuários priorizaram destinos internacionais para a procura de viagens para as férias de julho, que levaram 62% das consultas na plataforma. Santiago e Paris lideraram as buscas, seguidos por Orlando, Nova York e Miami, além de Madri e Lisboa.

No ranking da Decolar, Orlando também esteve lá entre as mais buscadas, impulsionado pela comemoração de 50 anos do complexo Walt Disney World. Já no metabuscador Kayak, destinos internacionais também ficaram em alta, com destaque para Lisboa.

É para preocupar?

Para Pedro Cypriano, managing partner da HotelInvest, a preocupação não é para tanto. Na avaliação do consultor, a julgar o ritmo de retomada do turismo internacional, a volta aos padrões de 2019 ainda deve demorar.

“Não apenas por conta da pandemia, que eventualmente sairá de cena, mas também por conta do câmbio”, acredita Cypriano. “Com toda incerteza política e econômica, nenhum economista prevê queda na cotação do dólar nos próximos anos. Na prática, isso vai continuar incentivando viagens domésticas, não tenho dúvida disso”, completa.

Ainda assim, Cypriano pondera sobre a sensibilidade do setor de luxo frente a esse crescimento do turismo internacional. “A hotelaria mais sofisticada conta com clientes menos sensíveis a preço. Ainda que o dólar esteja caro, uma vez que as restrições sanitárias deixem de existir, esses tendem a ser os primeiros a voltar a viajar num ritmo mais acelerado” explica.

“Portanto, é possível que exista impacto, mas não acredito que vá acabar com todo esse mercado que se construiu nos últimos meses, até porque parte desses consumidores nem conhecia tais propriedades. Agora que já visitou, deve continuar demandando esse produto, por mais que uma parcela migre para o internacional.” conclui.

Visão do setor

OTAs - Marcelo Picka - destinos internacionais

Picka: internacional poderá ser compensando pelo corporativo

Em linhas gerais, o setor de lazer tem visão parecida com a de Cypriano. Recém-eleito, presidente da Resorts Brasil, Marcelo Picka estima uma retomada gradual do turismo internacional. Ainda assim, em contato com o Hotelier News, ele disse acreditar que o mercado vai conseguir se ajustar, mesmo que o volume de viagens de turistas brasileiros para o exterior supere a expectativa.

“Apesar do câmbio desfavorável, o aumento da cobertura da vacinação e a flexibilização das restrições devolverá os destinos internacionais para a rota de sempre. Mesmo com uma alta demanda represada, isso deve acontecer de maneira gradual e ao mesmo tempo em que os segmentos de eventos e turismo de negócios estarão em aceleração no país, ajudando a equilibrar a questão”, aposta.

Picka também acredita que, após finalmente conhecerem de perto os resorts brasileiros, os turistas não vão “abandonar” tão rapidamente os produtos nacionais. “Trabalhamos intensamente ao longo desses meses de pandemia para receber os turistas de forma segura, investindo em inovação e proporcionando experiências incríveis e isso gerou incontáveis e genuínas conexões com os nossos hóspedes. Esta diferenciação fez com que os turistas valorizassem mais os destinos regionais e passassem a enxergar as belezas, a gastronomia sem igual e as múltiplas possibilidades que o Brasil tem a oferecer.

“Esse relacionamento que construímos não será rompido com a liberação das fronteiras, mas precisamos ficar atentos aos dados apresentados pelas OTAs para continuarmos atraindo os turistas nacionais (e internacionais) com competência, contribuindo para a retomada do setor, como sempre”, finaliza.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Disney Parks