No primeiro trimestre deste ano, os brasileiros voltaram a gastar. O consumo de serviços pelas famílias encerrou o período com crescimento 4,15% frente a fevereiro de 2020, período pré-pandemia. Na comparação com o último trimestre de 2021, o avanço foi de 1,5%, de acordo com dados da FGV (Fundação Getulio Vargas). Na hotelaria e turismo, o reflexo foi positivo, apesar da incerteza econômica provocada por fatores como a alta da inflação e desafios para elevar a diária média. Como já mostramos aqui em outras reportagens, mais e mais executivos do setor  relatam maior dinamismo nos negócios.

“As pessoas estavam trancadas dentro de casa. Não saíam, não iam para hotéis, bares nem restaurantes. Com a melhora da situação, elas voltaram a sair. A demanda por viagens subiu muito”, destaca Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais da FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da FGV).

Segundo Paulo Roberto Caputo, presidente da Atrio Hotel Management, destinos como o Rio de Janeiro já vivem clima de normalidade desde o fim do ano passado. O executivo destaca também a retomada da ocupação nos hotéis de São Paulo, tanto de lazer, quanto corporativos.

“No curto prazo, a retomada está dada. Temos desafios, mas eles são mais operacionais – como a escassez de mão de obra – do que de demanda”, pontua o executivo em entrevista ao Estadão. O executivo acrescenta ainda que a receita por quarto aumentou 15% no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período de 2019.

O tema, inclusive, foi pauta de um episódio do Hotel Trends. Na ocasião, Paulo Mélega, vice-presidente de Operações da Atrio, fez considerações acerca da retomada do setor hoteleiro, melhoria da eficiência dos empreendimentos, entre outros pontos.

Recuperação da diária média

Hotelaria - Andre Sena_matéria Estadão

Sena: setor tem oportunidade de expansão com marcas

André Sena, CDO (Chief Digital Officer) da Accor para a América do Sul, analisa que, embora a demanda por eventos em São Paulo esteja crescendo, as diárias médias não alcançaram o nível anterior à pandemia, o que garantiria mais fôlego para a recuperação do setor no médio prazo.

“Em São Paulo, as taxas de ocupação ainda estão um pouco abaixo. A diária média, por sua vez, vem crescendo consideravelmente, mas ainda há algo para recuperar”, afirma o executivo, também em entrevista ao Estadão. Novamente, essa avaliação foi pauta do Hotel Trends, quando a dupla Vinicius Medeiros e Pedro Cypriano entrevistaram Ricardo Souza, da OTA Insight.

De acordo com dados da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), as atividades turísticas somaram prejuízo de R$ 508,8 bilhões de março de 2020 a março de 2022. Fabio Bentes, economista da entidade, afirma que o setor só voltará a operar no nível pré-pandemia apenas no terceiro trimestre deste ano.

Outros indicadores

Segundo a Pesquisa Mensal de Serviços, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o agregado especial de atividades turísticas cresceu 4,5% em março em relação ao mês anterior. Por outro lado, no período, o segmento ainda permanecia 6,5% abaixo de fevereiro de 2020 (antes da pandemia). Complementando a ideia de recuperação, dados do instituto também revelam que, de fevereiro a abril, o desemprego recuou 10,5%.

Sena acredita que fatores estruturais devem contribuir para a continuidade do crescimento da hotelaria no médio e longo prazo, com muito espaço para as redes ampliarem sua participação no mercado. Segundo ele, apenas 10% dos empreendimentos hoteleiros do Brasil pertencem a alguma marca estabelecida.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Rosewood Hotels & Resorts