Destino fetiche de muitos estrangeiros, a Floresta Amazônica é um dos cartões postais mais icônicos do Brasil. Cercada de mitos, lendas e mistérios, a maior floresta tropical do mundo parece um ótimo lugar para manter o distanciamento social envolto por uma fauna e flora únicas. Empreendimento de luxo focado em experiências, o Anavilhanas Jungle Lodge, que antes da pandemia tinha sua ocupação composta por 70% de turistas de outros países, agora vê suas UHs preenchidas por brasileiros que estão redescobrindo um dos lugares mais mágicos do país.

“Somos um hotel de experiência e tínhamos como missão introduzir o turista no que é a Amazônia. Mais da metade de nossos hóspedes eram estrangeiros e, de repente, perdemos essa parcela sem perspectiva de retorno. Hoje, temos um público brasileiro forte, porém não são clientes locais”, explica Guto Costa Filho, diretor da propriedade, em entrevista ao Hotelier News.

Por total falta de demanda, o Anavilhanas fechou as portas dia 24 de março e reabriu em 21 de julho. “Começamos a ter muitas solicitações de cancelamento e remarcações. Tanto o Anavilhanas quanto o Vila Amazônia, em Manaus, vinham com ocupações promissoras para 2020. A partir do momento que a maioria das reservas foram canceladas, não fazia sentido estar aberto”, conta Guto.

Mesmo em decretos e orientações expressas de paralisação das atividades hoteleiras, o executivo optou por suspender as operações por duas razões: a proibição de navegação fluvial e o fechamento do Parque Nacional de Anavilhanas, dois dos principais pontos turísticos das experiências propostas pelo hotel. “Sem a possibilidade de fazer os passeios não tinha o que fazer, ninguém vai apenas para pernoitar”.

Em julho, mesmo com o parque ainda fechado, Guto decidiu reabrir e adaptar experiências. “Readequamos os passeios sem precisar entrar no parque. Tivemos altas demandas, pois é um mês tradicionalmente de férias e dia 25 o hotel chegou ao máximo de sua capacidade na primeira etapa, que é de 60%. Precisamos até mesmo negar reservas. Já agosto foi mais brando e em nenhum momento nos aproximamos da lotação”.

Hoje, os passeios são feitos com número reduzido de pessoas, dando sempre preferência para clientes que estejam no mesmo grupo. “Isso traz tranquilidade. Estamos com o máximo de 50% dos assentos dos traslados ocupados também, sempre com janelas abertas e uso obrigatório de máscara”.

anavilhanas jungle lodge - retomada - interna

Hotel de selva tinha 70% de sua ocupação composta por estrangeiros

Anavilhanas Jungle Lodge: rotatividade de público

Por se tratar de um empreendimento de experiência, o Anavilhanas raramente recebe hóspedes habitués. Com perfil offline, Guto afirma que 95% dos clientes vêm por indicação de algum amigo ou parente. “Não estamos em OTAs, mas temos um canal de distribuição amplo com agências e operadoras. São método mais tradicionais de contato e reserva. Também temos uma forte demanda de clientes diretos”.

O diretor ainda destaca o privilégio do retorno ameno, sem grandes lotações, para que a equipe pudesse se adaptar aos protocolos e mudanças operacionais. “Não lotamos do dia para noite. Nossos colaboradores tiveram que reaprender alguns processos, pois nós operamos tudo: passeios, transfer, refeições e hospedagens. Foi um início intenso, mas passados três meses da reabertura isso já está natural”.

O hotel de selva ajustou seu tarifário, mantendo os valores de baixa temporada, inclusive aos finais de semana e feriados até o primeiro semestre de 2021. “Foi a forma que encontramos para não refazer tarifas. Entretanto, o consumo de bebidas está mais expressivo, principalmente no bar da piscina, o que acredito que tenha a ver com o momento de saída do confinamento”.

Há três meses de portas abertas, o Anavilhanas ainda não atingiu o breakeven. Com protocolos e adaptações, o hotel precisou investir no novo modelo operacional, mão de obra adicional e insumos. Para outubro, a expectativa é ultrapassar o ponto de equilíbrio e começar a compensar os prejuízos de março a setembro.

Perspectivas para 2021

Apesar do ano turbulento, Guto acredita que 2020 não foi totalmente perdido, com muitas oportunidades para o turismo doméstico. Para 2021, o diretor espera voltar a receber o público internacional a partir do segundo semestre. “Temos um planejamento e estamos prontos para o que acontecer. O único jeito é sobreviver. Vivemos uma epidemia de Zika Vírus há alguns anos, o que reduziu muito o fluxo de estrangeiros. Seja com vacina ou um sistema mais rápido de testagem, haverá uma retomada ano que vem”.

(*) Crédito das fotos: Divulgação/Anavilhanas Jungle Lodge