O ano passado foi um período de transições e mudanças para todos, e para Ana Masagão não foi diferente. Em um momento de reflexão sobre sua vida profissional, a executiva com mais de 20 anos de carreira na hotelaria decidiu mudar de ares e realizar o sonho antigo de empreender e, ao menos por hora, ela deixa o mercado em que consolidou seu nome.

Após passagens breves pelo Palácio Tangará e GJP Hotels & Resorts, Ana passou a questionar quais os rumos que gostaria de dar para sua trajetória. “Meus últimos movimentos na hotelaria me fizeram refletir sobre o meu momento profissional e de vida. Eu estava muito bem no Royal Palm Plaza e surgiu a oportunidade de ir para o Tangará”, conta. “Não deu certo e muitas coisas aconteceram ao mesmo tempo. Cheguei a GJP e logo em seguida veio a pandemia”.

Com a crise, a rede optou por fazer alterações estratégicas na empresa, nas quais a executiva não se identificava, culminando em sua saída. “Chegamos a um acordo de que eu não era a pessoa ideal e o trabalho proposto também não era o que eu queria fazer. Ajudei na preparação para a retomada, trazendo a parceria com o Sírio-Libanês, sendo a primeira rede a trazer um grande player de saúde”, destaca.

Após a ruptura com a GJP, surgiram oportunidades para continuar a atuar no segmento, como projetos de consultoria e capacitação. Apesar do amor declarado pela hotelaria, ela afirma que não era o momento. “Não era o que eu queria agora. Precisava entender o que eu poderia fazer de diferente como profissional e de alguma forma na hotelaria isso não estava acontecendo. Estava replicando os mesmos modelos e entrando muita resistência por parte dos hoteleiros para inovar. Não quero estar com 50 anos fazendo a mesma coisa. Quero crescer e não ser uma profissional obsoleta”.

Ana Masagão e a estreia no varejo

Como com toda a crise surgem oportunidades, Ana uniu forças com uma amiga que já atuava no setor de varejo. Com sociedade firmada, ela atua agora como diretora geral da Lado Basic, uma marca de moda pautada em sustentabilidade, slow fashion e incentivadora de pequenos produtores.

“É uma marca que preza pela sustentabilidade e consumo consciente. Existe todo um conceito bacana no DNA. Não se trata de uma loja de massa, mas também não é inacessível. Vou atuar com o mesmo target que trabalhava na hotelaria, mas que tem bastante mercado no Brasil”, explica.

A marca, que possui cinco anos de atividades, precisava de uma pessoa para alavancar a presença no digital. Apesar de garantir não entender nada de moda, a executiva chega para somar com sua expertise de vendas e distribuição. “Acompanho a Lado Basic desde o começo e vi a marca crescer. Vou tirar tudo que aprendi na hotelaria e aplicar no varejo, que hoje depende muito do e-commerce. No momento estamos fora do ar, mas em janeiro vamos voltar. O varejo atua com muitos sistemas e isso ajuda muito”.

Intercâmbio de expertises

Com a necessidade de expandir para mercados secundários, Ana viu uma grande oportunidade de aplicar conhecimentos conquistados na hotelaria. “Quero aplicar técnicas de Revenue Management, canais de distribuição, CRM, conectar os distribuidores e criar essa grande teia que temos no turismo levando para o varejo”.

Um dos objetivos da executiva é implementar sua expertise em estoque, preços e inventário como forma de otimizar a gestão dos produtos. “O varejo já começa com a projeção de 30% do estoque perdido. Em uma empresa menor é mais eficiente levar a experiência por meio de dados tanto para as lojas físicas quanto digitais. Quero criar um novo modelo dentro desse universo”.

Para o futuro, Ana Masagão revela que tem muitos planos para a empresa e pretende unir os projetos aos contatos firmados em seus anos de hotelaria. “Tenho muito o que aprender do mercado ainda, não sei nada, mas tenho muitas ideias. Vamos esperar a pandemia baixar, pois temos outras prioridades agora, mas existe sim o desejo de unir moda e hotelaria em um co-branding”.

Se ela volta para a hotelaria, é cedo para dizer. Entretanto, a executiva afirma que pretende manter conexões com o setor e continuar contribuindo de alguma forma. “Estou de olho no mercado sempre. Não dá pra saber se vou voltar, no momento minha energia está dedicada a esse negócio. Quero continuar ligada à hotelaria com projetos, associações e pessoas que conheci para ajudar de alguma forma”.

(*) Crédito da foto: Arquivo pessoal