Quanto mais anos no mercado, mais conhecimento profissional acumulado e, naturalmente, mais alta a faixa salarial. Não necessariamente essa máxima é uma regra, mas ela acontece bastante no mercado de trabalho. Por este e outros motivos, muitos hotéis tradicionalmente dão preferência aos mais os jovens em processos seletivos. Com a dificuldade em encontrar mão de obra qualificada no setor, trabalhadores seniores, com mais de 50 anos, não só podem ser uma alternativa, como também podem trazer experiência e melhor entendimento sobre o público mais velho.

Pesquisa acadêmica feita em Hong Kong, e reproduzida pela Hospitalitynet, aponta que funcionários com mais de 50 anos de idade representam menos de um quinto do quadros de colaboradores dos hoteleiros no país. Já os acima de 65 anos são apenas 3% da mão de obra dos hotéis locais. De acordo com Lucila Quintino, sócia e fundadora da HotelConsult, esse fenômeno é uma realidade no Brasil, mas o cenário está em fase de mudanças.

“Isso é fato. Não vemos pessoas tão maduras na operação, porém percebemos que isso vem mudando após a pandemia. Pelo que analisamos das últimas contratações, com a falta de mão de obra qualificada, os hotéis têm mostrado maior flexibilidade em relação à idade”, conta Lucila em entrevista ao Hotelier News.

“Embora esteja mudando, a hotelaria está um tanto atrasada em relação ao mercado de trabalho. Em outros setores, há inclusive um forte movimento para contratação de pessoas de maior idade, até mesmo gerando consultorias de RH especializadas nesse público”, continua.

Trabalhadores seniores - lucila quintino

Pandemia reverteu o quadro, segundo Lucila

Estereótipos

O estudo citado no início do texto foi realizado pela SHTM (School of Hotel and Tourism Management), da Universidade Politécnica de Hong Kong. A pesquisa revelou que muitos executivos e empregadores hoteleiros possuem percepções negativas sobre trabalhadores mais velhos. Alguns dos estereótipos incluem dificuldade de adaptação, em especial com novas tecnologias, além de baixa competência física e mental para tarefas difíceis.

Todavia, os estereótipos nem sempre são negativos, como maior confiabilidade, compromisso com a organização, habilidades sociais e orientadas para o cliente, precisão e estabilidade emocional. Por conta desses, existem posições as quais muitos acreditam se encaixar melhor para os mais experientes.

Para Lucila, esses padrões podem até fazer jus a certas tendências de comportamento, mas definitivamente não são regras e não devem ser consideradas dessa forma. “É muito mais uma questão de como cada um é como pessoa. Não tem necessariamente relação com idade, mas com a competência comportamental, a flexibilidade de se adaptar, disposição, abertura, entre vários outros fatores.”

“Existe certo preconceito das empresas, mas isso depende muito da cultura organizacional e de como o RH enxerga a questão. O ideal é atingir um equilíbrio, mesclar gerações e saber identificar onde cada um se encaixa melhor, de forma que todos possam contribuir e agregar valor”, comenta a executiva. “É importante que os empregadores tenham uma mente mais aberta, pois os mais velhos trazem uma experiência muito enriquecedora.”

Publico sênior

Outro ponto que vale ressaltar é que trabalhadores mais velhos podem contribuir com um melhor entendimento das necessidades de clientes seniores, segmento que está em rápida ascensão. “A empatia, aquilo que você consegue entender do outro é crucial para um melhor atendimento. Empreendimentos lifestyle, por exemplo, costumam ter profissionais mais jovens, visto que os hóspedes também têm essa faixa etária”, finaliza Lucila.

(*) Crédito da capa: Reprodução/Jornal Contábil

(**) Crédito da foto: Divulgação/Hotel Consult