Seguindo sua jornada pelo Norte do país, depois de Rondônia o Hotelier News aterrissa no Acre para relatar como anda a retomada na região. Ainda que com novos voos, o estado vem sofrendo com enchentes e crise sanitária devido a pandemia de Covid-19 e surtos de dengue. Diante de tantos desafios, o mercado hoteleiro aguarda o momento de se restabelecer.

Segundo Carlos Simão Neto, diretor geral da Nobile Suites Gran Lumni e presidente da ABIH-AC (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Acre), o cenário está crítico. “Neste momento estamos passando por um período difícil em todo estado. Devido à pandemia, estamos na fase vermelha e o comércio segue fechado, surto de dengue e a cheia dos rios que cortam as cidades, que geram consequentemente alagamentos e famílias desabrigadas”, contextualiza.

Até o momento, a associação contabilizou um fechamento definitivo, mas os números não favorecem o turismo local. “É um cenário sombrio. Diversas demissões, retração do setor, zero fluxo de caixa, sem acesso a crédito e nenhuma ação prática do setor público para socorrer o seguimento. Hoje, a ocupação está na casa dos 24% e com uma diária média de R$180”, divide o presidente.

Sem apoio e sem grandes perspectivas de mudança, o hoteleiro relata um momento de incertezas. “Os números conservadores apontam um primeiro trimestre de 2021 similar aos dados do terceiro trimestre de 2020, ou seja, uma ocupação média em torno dos 29%, contra 58% no mesmo período de 2019. No segundo trimestre em torno dos 38%, contra 61% no mesmo período de 2019”, explica Neto.

Considerando 2020 um ano de perda total e sem perspectiva breve de recuperação, o trabalho feito hoje é de diluir os prejuízos nas projeções futuras. “Um quarto que não foi vendido ontem, não conseguimos recuperar na venda hoje. É um produto que tem seu prazo de validade de um dia”, afirma o presidente.

Outro algoz da retomada local é a falta do executivo, que também assombra outras capitais do país. “O Acre sempre foi um destino muito mais procurado pelo público corporativo. O turismo de lazer, embora importante, sempre ocupou uma parcela pequena da demanda total. No aspecto do percentual de participação de cada segmento não mudou, mas o que mudou é que a demanda, de ambos os públicos, caiu demais”, analisa Diogo Lemos, diretor do Diff Hotel.

acre - carlos simao

                                                             Simão: ocupação está na casa dos 24%

Acre: operação durante a pandemia

Com o anúncio da disseminação do vírus, os hotéis Nobile Suites Gran Lumni e Diff Hotel tomaram caminhos opostos. O primeiro permaneceu de portas abertas durante todo o período, enquanto o segundo deixou de operar em março, retornando somente em novembro.

Os resultados, entretanto, não são tão diferentes entre si. “A ocupação média após a reabertura está abaixo dos 20%, mas vemos uma tendência de crescimento gradual, porém lento. Estamos trabalhando na contenção de custos para baixar o ponto de equilíbrio, para que, em breve, possamos atingi-lo e até ultrapassá-lo”, diz Lemos.

Situação similar à unidade da Nobile, que também não atingiu o ponto de equilíbrio. “Tivemos que aportar um orçamento na operação e a inadimplência dos parceiros é enorme. Esse descompasso desequilibra ainda mais o fluxo de caixa. Esperamos praticar os números de 2019 a partir de 2023”, comenta o diretor.

Acre - Diogo Lemos

                                        Lemos: redução de demanda impactou a malha aérea

Futuro de incertezas 

Falando em malha aérea, Lemos compara a situação ao dilema entre “ovo e a galinha”. “Quem veio primeiro? É claro que a diminuição de voos impacta o fluxo de pessoas, especialmente provenientes daqueles destinos importantes que deixaram de contar com voos diretos, como é o caso de Manaus e Porto Velho, que muitas vezes deixam de vir a Rio Branco pela dificuldade em chegar e pelo alto custo do transporte”, pontua.

“No entanto, tendo a crer que é a diminuição do público que tenha impactado mais a malha aérea do que o contrário. As companhias aéreas também são obrigadas a adequar suas operações para minimizar as consequências da crise sanitária que vivemos”, argumenta o diretor do Diff Hotel.

Ainda que na controvérsia entre a falta de público e o impacto da malha aérea, é fato que a diminuição no número de voos dificulta a chegada na região e com isso, adia a retomada. “O impacto foi gigantesco. Em 2020 tivemos 77 mil desembarques a menos em nosso aeroporto, comparado a 2019, segundo dados da Infraero. Isso influencia diretamente na ocupação dos hotéis”, finaliza Neto.

(*) Crédito da capa: Agência Acre

(**) Crédito das fotos: Divulgação