accor- reestruturação - bazinSébastien Bazin é CEO global da rede francesa

Em maio, o Hotelier News publicou uma entrevista exclusiva com Patrick Mendes, CEO da Accor para América do Sul, onde o executivo explicou os planos de ação da rede para a retomada do setor. Mesmo com foco no mercado brasileiro, o executivo já dava sinais de que algo estava mudando na empresa em nível mundial. Em matéria veiculada na quarta-feira (4) pelo jornal francês Les Echos, Sébastien Bazin falou sobre o projeto de reestruturação da gigante da hotelaria, que segundo ele, já vinha sendo gestado antes da pandemia.

A crise causada pelo coronavírus foi o catalisador para as transformações dentro da Accor acontecerem. Visando maior agilidade nas tomadas de decisão e menos hierarquização em sua organização, a rede francesa vem repensando seu modelo de negócios em busca de maior lucratividade diante de um cenário complexo para a hotelaria como um todo. “Hoje precisamos repensar nossa organização para estar alinhada com essa nova realidade. Queremos nos tornar muito mais ágeis, simplificando nossa organização, nossos processos, nossos circuitos de tomada de decisão”, destaca Bazin.

Além de mudanças organizacionais, o CEO ainda fala sobre os impactos da pandemia, planejamento financeiro, recuperação na retomada e expectativas para o retorno das viagens de negócios no pós-pandemia.

accor- reestruturação- internaAccor chegou a paralisar 90% de seu inventário

Accor: transformação da rede

Abaixo, o Hotelier News separou os principais tópicos abordados da entrevista:

Impacto da pandemia

Mesmo empresas consolidadas como a Accor sofreram grandes perdas nos últimos meses. No primeiro semestre, a rede francesa teve prejuízos de € 1,5 bilhão e chegou a quase 100% de seu inventário paralisado. “Nossos números refletem a violência do choque causado para toda a indústria do turismo. Quando 90% dos seus hotéis estão fechados, como foi o caso de abril no auge da crise, as receitas só podem cair. Nossa receita caiu 49% (em uma base comparável) e RevPAR em 60%”, conta. Apesar da queda nos indicadores, Bazin afirma que nem tudo são más notícias: a rede gastou menos do que o esperado no início da crise, seguiu com seus planos de expansão e manteve a liquidez de US$ 4 bilhões.

Reestruturação

Grandes crises podem resultar em grandes oportunidades. Foi com esse direcionamento que a Accor enfrentou as consequências da pandemia, aproveitando o momento de paralisação para se reestruturar. Segundo o CEO, o projeto organizacional é de longa data, mas ainda não havia sido colocado em prática.

Após o gerenciamento da crise nos primeiros meses, o grupo enxergou que era a hora de arregaçar as mangas. “Passamos do gerenciamento cíclico da crise para uma revisão estrutural de nossa organização. Antes da pandemia, já tínhamos a ambição de revisar nossa organização em profundidade e aproveitamos o fato de nos encontrarmos quase paralisados ​​para pegar o touro pelos chifres”.

Com a proposta de revisar os modelos de negócios, a Accor planeja passar de uma empresa de “ativos pesados” para “ativos leves”, segundo Bazin. Ao longo dos anos, a rede se tornou um grupo de serviços e consultoria, o que levou a um novo direcionamento. “Hoje precisamos repensar nossa organização para estar alinhada com essa nova realidade. Queremos nos tornar muito mais ágeis, simplificando nossa organização, nossos processos, nossos circuitos de tomada de decisão”. Para implementar as mudanças, o CEO explica que foi utilizado o método de orçamento de base zero, que consiste em revisar os processos organizacionais. 

Entre os principais pontos da reestruturação estão: maior agilidade nas tomadas de decisões e redução de níveis hierárquicos, que de acordo com Bazin burocratizam os processos. “As melhores decisões são tomadas o mais próximo possível do campo. Precisamos de um escritório central que controle e capacite, mas também dê mais liberdade e responsabilidades àqueles que estão em contato diário com nossos clientes e proprietários”.

Planos econômicos

Para colocar as mudanças em ação, gastos serão reduzidos, dando atenção aos colaboradores da rede. “Reduziremos permanentemente nossos custos em € 200 milhões por ano, com base em € 1,2 bilhões para atividades de gerenciamento de hotéis e franqueador, ou seja, 17%. Essas iniciativas abrangerão cerca de 1.000 pessoas das 18.000 que ocupam cargos no nível da sede. Ainda é muito cedo para discutir as conseqüências por país, e discutiremos esses assuntos primeiro com nossos parceiros sociais”, explica.

Em termos concretos, a rede busca explorar caminhos que auxiliem os funcionários a planejarem seu futuro. Um dos exemplos disso, é o fundo criado durante a pandemia para ajudar os colaboradores mais afetados, que já beneficiou 35 mil pessoas. “Para eles, investiremos nos próximos dois anos em treinamento e suporte. Quando a atividade recomeçar, precisaremos dessas habilidades ou eles escolherão fazer um novo trabalho em outro lugar, mas terão construído seu futuro. E, finalmente, agimos em transparência e diálogo, compartilhando as mesmas informações com os mercados e com nossos parceiros sociais”.

Apesar dos cortes, Bazin garante que este não é um plano de crise, mas sim o resultado da evolução do modelo de negócios da empresa. “Não é porque é a crise que vamos vender marcas ou reduzir o tamanho. Certamente precisamos intensificar nossos esforços em nossas marcas e mercados mais lucrativos”.

Sinais de recuperação

Sobre a recuperação do setor perante à crise, o executivo afirma que mercados como a China e Europa já vem dando sinais de retomada. “Sim, é gradual, mas existe, e até muito claro na China, onde as taxas de ocupação estão aumentando em 10 pontos por mês, com 90% de clientes domésticos. Também há uma recuperação real na costa européia, onde as taxas de ocupação estão aumentando de cinco a oito pontos por semana e atingindo 55 a 60%”.

Mercado corporativo

Mesmo com algumas praças se recuperando, o mercado de viagens corporativas ainda é uma incógnita para a maioria dos hoteleiros. Para Bazin, o setor seguirá em declínio, mas será retomado em 2021. “Todos os principais grupos estão prevendo uma queda nas viagens de negócios de pelo menos 25 a 30% até o próximo verão. Ele será retomado, mas podemos esperar um declínio estrutural de cerca de 10%”.

(*) Crédito das fotos: Divulgação/Accor