A taxa de desemprego recorde escancara a realidade do mercado de trabalho no país. Pior, não se chegou ainda ao fundo do poço graças ao programa emergencial de manutenção de empregos. Prorrogado em julho, o projeto possibilita a suspensão de contratos e redução de jornada e salários por até 180 dias. Na hotelaria, é unânime a visão de que, sem novo prolongamento desse prazo (que está chegando ao fim), nova chuva de demissões ocorrerá.

Hoje, a hotelaria vê uma retomada de contratações no mercado, principalmente em produtos de lazer. A hotelaria de negócios, contudo, segue sem fazer contratações. Ao contrário, hotéis corporativos estão aflitos com a baixa demanda e a perspectiva da volta dos contratos que foram suspensos. “Hoje, a hotelaria de lazer repõe uma pequena parte da mão de obra que foi desligada. A situação continua delicada, principalmente no corporativo”, avalia Orlando Souza, presidente executivo do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil).

“A grande questão é a exigência de estabilidade dentro do programa. Se a demanda ainda não estiver como esperado após esse período, que tem a mesma duração do tempo de contrato suspenso, o risco de novas demissões é real”, comenta Souza. “Por isso que nova prorrogação do programa é essencial”, completou.

Presidente da FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação), Alexandre Sampaio tem visão parecida. “A materialização de recuperação lenta do nosso setor vai resultar efetivamente no aumento significativo do desemprego. E isso vale para o turismo como um todo”, observa. “Digo isso em face da dificuldade de obtenção de crédito e do possível fim dos programas de manutenção e financiamento de folha”, acrescenta.

Emprego e prorrogação

A boa notícia é que o governo deve prorrogar por mais tempo o programa de manutenção de emprego. Ontem (30), tanto o ministro da Economia Paulo Guedes, como Bruno Bianco, secretário especial de Previdência e Trabalho, deram garantias. “Se há uma demanda, não há porque não se fazer a prorrogação. Programa bem feito, que evita demissão, traz renda ao trabalhador, garante o emprego”, afirmou Bianco.

Emprego - ainda em risco_Orlando Souza

Souza: continuação dos programas de manutenção de emprego e de pagamento de folha é essencial

Segundo o Ministério da Economia, até 18 de setembro, o programa permitiu 18,4 milhões de acordos entre empregados e empregadores. Na estimativa de Guedes, foram preservados 11 milhões de empregos a partir desses acordos, já que alguns deles foram renovados. Até o momento, o custo do projeto é de R$ 25,5 bilhões, sendo que seu orçamento total é de R$ 51,6 bilhões.

Ao sancionar a MP 936 (hoje lei 1420), o presidente Jair Bolsonaro deu prerrogativa ao Ministério da Economia para definir de forma setorial quais setores teriam aumento do prazo de suspensão dos contratos e redução de jornada e salários. “Acredito que, no início do ano, a pasta já saberá quem vai precisar de bote salva-vidas ou não. Alguns setores apresentam recuperação de demanda, mas a hotelaria não está entre elas”, diz Souza.

“Famílias estão viajando e vemos uma retomada do lazer, mas não é a salvação da lavoura. Boa parte da base de hotéis do FOHB, por exemplo, depende do corporativo e de eventos. Os dois segmentos terão curva de recuperação mais lenta”, diz Souza. “O caso do Maksoud Plaza deixou claro que a situação é ainda muito delicada. Continuamos mantendo conversas com o governo, concentrando nossos pleitos e demandas no Ministério do Turismo. São elas: manutenção dos programas de emprego, ações de promoção do turismo doméstica e Reforma Tributária”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Peter Kutuchian/Hotelier News

(**) Crédito da foto: Divulgação/FOHB