(imagem: favip.edu.br)

A condução do último ano para a hotelaria brasileira trouxe algumas alterações cíclicas e copiosas dignas de análise. Do início de 2012 para cá, não foram poucos os hotéis que passaram de uma administradora à outra, numa pequena guerra velada que tende a mudar a percepção do cliente quanto aos empreendimentos.

A faceta congrega nomes como Blue Tree – que assumiu unidades em Búzios e em Congonhas, manteve sua presença num hotel de Macaé após disputa e perdeu para a GJP a gestão de um meio de hospedagem na capital paulista. A corporação de Guilherme Paulus, a GPJ, inclusive angariou a administração de um resort independente no Rio. A Accor seguiu na briga com o BHG (Brazil Hospitality Group) pelo emblemático Sofitel Rio de Janeiro; e a companhia brasileira que opera com marcas da Louvre passou à frente dos franceses com o antigo Mercure São Luis Mont Blanc. O espanhol Serhs também tocou uma queda de braço com a Atlantica por uma unidade em Guarulhos. Enfim, não foram poucos os causos que envolveram empresas com relevância no segmento.

Fato é que, previsível e saudável em algumas esferas, essa concorrência ocultada e em grande número nos últimos tempos mostra um mercado que se articula e altera suas práticas à medida que o dinheiro entra, ou não. São muitos os comentários, por baixo do tapete, de que o investidor não estava contente com o cifrão e por isso viu na mudança uma forma de melhorar os dividendos, cada qual defendendo seu discurso de que tem o melhor a oferecer.

Em certa medida, é uma leitura comum e bem tupiniquim, que corrobora com o imaginário popular do hipercapitalismo: o lucro sempre é a moeda de troca, se é que a metonímia vale aqui.

Mas há outras farpas aí. Noutro sentido, com tais alterações o cliente perder referência e acreditar que a marca anterior não tinha credibilidade e vinha fazendo um trabalho pouco profícuo – ainda que sua hospedagem no local não tenha ocorrido em momento algum com um percalço digno de nota. Por alto, há um aparente marketing negativo e ilusório neste aspecto, que reverbera também para a administradora recém-chegada, uma vez que ela pode não atender o hóspede com o mesmo padrão da concorrente anterior, para o bem ou para o mal. Às claras, a faca de dois gumes entra em cena.

Outro sintoma é que a administradora pode abrir mão de um empreendimento por este não ser mais rentável em seu modelo de gestão. É algo que pouco acontece na atual condição do mercado brasileiro – com números que seguem numa crescente e operadoras que sempre analisam os projetos com estudos -, mas que de fato é possível e pode abrir margem para equívocos. De um lado, a nova marca compraria o projeto sem poder mantê-los com índices saudáveis, o que afetaria o investidor e colocaria o empreendimento na UTI, algo pouco palatável para uma indústria que pretende se manter robustecida.

Vê-se com tristeza, contudo, que em nenhum momento a noção de aprimorar o que é oferecido ao cliente e o nível de profissionalismo que se trabalha são balizadores para a troca de operadoras. Fica um vão negro e esquecido neste sentido, abrindo mais uma das tantas lacunas quando se pensa em fazer a hotelaria brasileira atender da mesma forma célebre em outros grandes mercados mundiais o fazem.

São detalhes ainda no obscurantismo, já que não se tem notícia, pensando nos últimos cinco anos, de uma toada tão fervorosa quanto à troca de administradoras. É ponto novo, que pode soar, em parte, como amadurecimento, já que aparentemente as empresas hoteleiras estão oferecendo barganhas distintas para atrair o investidor e, para tanto, precisam se aprimorar para melhorar o que é ofertado. O baralho marcado, contudo, permanece o mesmo se não for um serviço mais capacitado que está em jogo para obter uma nova unidade em seu portfólio, e sim a elasticidade dos bolsos.