Peter Kutuchian
(foto: Filip Calixto)

O município paulista de Santos, localizado a cerca de 70 km de São Paulo, é um dos mais antigos do País, sendo a quinta cidade mais importante para a economia brasileira, entre as não capitais, e com o maior porto da América Latina. Além do turismo, o destino tem uma forte vocação para eventos, inclusive os esportivos como beach tênis, triathlon e vôlei de praia, entre outros praticados na areia ou no mar. Santos conta ainda com um dos maiores centros de convenções do País, com uma área total de 25 mil metros quadrados. Outros pontos positivos são a proximidade com os aeroportos de São Paulo e a excelente infraestrutura rodoviária que faz essa ligação, o que aumenta ainda mais sua atratividade para o segmento de eventos.

Os atrativos turísticos incluem o maior jardim de orla do mundo; a Laje de Santos, segundo melhor ponto de mergulho do Brasil; o Centro Histórico, com o Museu do Café; o Estádio da Vila Belmiro, retratando a história do Rei Pelé e do Príncipe Neymar; o Aquário de Santos, que é o segundo parque público mais visitado de São Paulo; e uma gastronomia que está em desenvolvimento e que apresenta atrativos diferenciados.

Mesmo com todos esses fatores positivos, a hotelaria de Santos e a do Guarujá, onde redes importantes se fazem presentes, pegou carona no mau momento econômico brasileiro, assim como outras praças importantes como Belo Horizonte, Porto Alegre, Manaus e Rio de Janeiro. As taxas de ocupação giram em torno de 50%, em que mais da metade desse índice provém dos resultados garantidos pelos pernoites gerados nos finais de semana. Nos dias úteis, os principais empreendimentos locais – que somam mais de 1,2 mil leitos – veem ocupados apenas um terço de seu inventário, e isso nas melhores das hipóteses. Obviamente há exceções, devido à conquista de um grupo ou outro, em razão de eventos corporativos ou sociais.

Além disso, dois setores estratégicos para movimentar o turismo corporativo – petrolífero e siderúrgico – estão sensíveis e sem uma previsão de recuperação no curto prazo. A Usiminas, por exemplo, fechou sua planta em Cubatão no início do ano passado e a previsão é que volte a religar seus altos-fornos apenas num prazo de três a cinco anos. Já os problemas da Petrobras são conhecidos e a estatal depende de três fatores para voltar a ocupar seu papel de indutor da economia nacional: liquidação de dívidas; a retomada dos leilões para a exploração conjunta na camada do pré-sal; e uma recuperação gradual do preço do barril de petróleo, que desde janeiro de 2016, quando atingiu seu valor (US$ 31) mais baixo nesta década, vem apontando um crescimento contínuo. Especialistas no mercado preveem que, em 2017, o barril chegue a US$ 75.

Em cima desse cenário, não vejo a hotelaria de Santos se recuperando tão cedo. Vale registrar que a região tem inaugurações programadas em um horizonte curto, casos do Braúna ibis Budget (175 quartos), bem como do Park Inn e do Sheraton, que terão 241 e 213 UH’s, respectivamente. Há ainda alguns projetos com destinos incertos, como o Innside by Meliá, cujas obras ainda não começaram, e o ibis Ecoplaza, em Cubatão, que terá, caso abra, 152 apartamentos. Essas aberturas elevarão o número de leitos e, provavelmente, promoverão um ajuste negativo das tarifas, que já estão abaixo das praticadas antes da crise atual.

No médio e longo prazos, a situação não é tão desmotivadora. O aumento da oferta de leitos garante à cidade a possibilidade de sediar eventos de grande porte, dando gás ao bom trabalho realizado pelo Santos e Região CVB na captação de eventos. Além disso, a entidade trabalha não somente o município, mas para toda região denominada Costa da Mata Atlântica, que engloba ainda os municípios de Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande e São Vicente. Tal característica permite a concentração e a distribuição pelos produtos turísticos, seja para os turistas que vêm a lazer ou negócios. Quanto maior a união, mais possibilidades podem ser criadas.

O que falta para o desenvolvimento turístico ser sinônimo de sucesso são os investimentos hoteleiros passarem a ser gerados pela própria hotelaria, em vez de serem regidos apenas pelo mercado imobiliário e o da construção civil, que muitas vezes não avalia as premissas necessárias para o desenvolvimento saudável. Essa premissa garante o retorno ao segmento primário e não apenas para a parcela que sai de cena quando o empreendimento é entregue.

O mercado da região necessita cada vez mais, portanto, de investidores hoteleiros, profissionais ao extremo e que sejam amparados por subsídios coerentes pelas esferas governamentais. Então, vamos trabalhar porque o copo tem muito espaço ainda para encher.  

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Peter Kutuchian é formado em Administração de empresas com ênfase em Hotelaria pela Fisp/FMU, iniciou sua carreira na hotelaria, em 1991, no Maksoud Plaza como recepcionista. Atuou como caixa da Recepção no ex-Sheraton Mofarrej, depois entrou na Meliá como gerente noturno do atual Sheraton São Paulo WTC. Ainda na Meliá, implantou e abriu o Tryp by Wyndham Itaim e, posteriormente, o atual Slaviero Essential SP Moema. Em 2003, foi um dos fundadores do Hôtelier News, portal que mantem como publisher.

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