Independente de sua nacionalidade, o turista atual
tende a buscar vivenciar os costumes do país que visita
(imagem: mundodastribos.com)
 
Impondo-se a largas tacadas no mercado mundial, o turismo brasileiro, nos últimos anos, vivenciou crescimento no número de visitantes recebidos no País, é fato. Mas nem por isso o déficit de turistas estrangeiros minguou, e o fechamento do ano passado feito pelo Banco Central bateu a casa dos US$ 14 milhões.
 
Em parte, isto se deve à valorização do real, que torna o País caro para o turista estrangeiro – o que já foi esgotado por essas linhas enfatizando, inclusive, a crise no Velho Mundo. A isso, porém, some-se a latência de um setor que, no que tange ao lazer, amarga há tempos uma postura pouco inovadora, vale o tom construtivo da crítica.
 
À guisa de informação, é notório que a indústria turística tupiniquim se sustenta fortemente nos negócios, mas há de se assumir a necessidade de tornar elástica a participação do mercado de lazer neste quesito.
 
Novas interpretações e dinâmicas desta temática sugerem que os turistas esperam muito mais do que uma pausa, férias ou descansos padrões; eles querem por agora experimentar algo, com conceitos que por muitas vezes não estão atrelados à suntuosidade ou à ostentação. Não à toa, muitos hotéis ditos de luxo estão se rearticulando e tentando mesclar a rusticidade a elementos de arte ou afins. O exemplo coloca à prova que até mesmo a noção de viagem de luxo está sendo transposta para outros pontos, quando a experiência em ficar num lugar mais simples – contudo aconchegante – é o que vale, e não a estrutura em si.
 
Os destinos também entram no quesito. São Paulo, por exemplo, oferece milhares de opções – todas igualmente comuns a tantas metrópoles do mundo. Acrescente-se aí a falta de estrutura para locomoção e o trânsito estressante; o que a mais diferencia, juntamente com opções noturnas que se prolongam até que o dia se faça, o que é de fato atípico. Ainda assim, bons restaurantes, bares, boates e hotéis existem em muitas capitais do planeta.
 
Poucos meios de hospedagem na capital paulista se atrevem a sair do esmo para oferecer experiências temáticas, sejam elas condensadas em apartamentos com alguma decoração de uma tribo indígena de parelheiros ou com uma guitarra autografada por um roqueiro famoso.
 
Nossos hermanos saíram na frente e estão em vias em lançar um hotel para torcedores do time local Boca Juniores. O meio de hospedagem já tem praticamente fila de espera para uma reserva, e salve, de onde é que vem a maioria dos interessados? Do Brasil, é óbvio. É triste e lamentável ver a hotelaria brasileira deveras anticriativa, não inovando e sentando na mesmice.
 
Aqui cabe a proporção de experiência que o visitante pode vir a ter nestas incursões à capital paulista, não quando ele visita um museu, mas sim quando compreende as peculiaridades da cidade e seu modo de vida, o que as pessoas fazem, como se relacionam com a metrópole e afins – quando os bens possuídos passam a ser coadjuvantes e o que foi vivenciado protagoniza a viagem em si.
 
A gastronomia também é grande produtora de sentidos e emoções quanto a isso. Para entender um povo, porque não perscrutar a relação que os alimentos representam em sua vida, como isto é preparado, porque se come arroz e feijão cotidianamente, entre outros pontos. No contraste disto, o incentivo é para que o turista faça jus ao clichê e se farte com uma feijoada regada a caipirinha – como se a culinária brasileira fosse limitada a isso.
 
Entidades turísticas – seja um hotel, um restaurante, um destino ou um país – precisam, gradualmente, se dar conta de que é necessário oferecer um valor adicional ao visitante; valor este que em nenhum momento deve estar ligado a bens tangíveis. Por ontologia, os latinos têm meios e uma cultura díspar – se comparada à norte-americana e à europeia – para possibilitar isso.
 
A pergunta é se o turismo brasileiro está disposto a realizar tal incursão nesta nova fase. Um povo sincrético e uma realidade social completamente atípica ao resto do mundo o País possui – de forma que qualquer estrangeiro pode se deslumbrar.
 
Concomitantemente, algumas vertentes do setor já se aperceberam disso. É hora apenas de tornar coletivo para que algo se aprimore – abrindo mão do ostracismo.