José Ruy Veloso Campos
(foto: divulgação/Camila Gutierrez)

A Comissão Especial do Desenvolvimento Nacional do Senado Federal aprovou, no dia 9 de novembro último, projeto que amplia o leque dos jogos de azar legalizados no país (PLS 186/2014).

A matéria deve ir ainda para o Plenário e é pauta apresentada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros. O objetivo, de acordo com o projeto, é “incentivar a retomada do crescimento econômico do país”.

Não é um tema novo para os brasileiros desde que, em abril de 1946, o então presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu os jogos no Brasil e mandou fechar os cassinos da época. 

À época da proibição o país tinha 71 cassinos, e os principais estavam nas cidades mais importantes como: Rio de Janeiro tinha três; Niterói, um; Teresópolis, um; Santos, três; Guarujá, um; Poços de Caldas, dois; Araxá, um; Belo Horizonte, um; Salvador, um; Curitiba, um; Petrópolis, um.

As cidades termais se valeram de um decreto (3.987) de janeiro de 1920 que permitia que vigorassem, temporariamente, em estações termais, balneárias e climáticas, jogos de azar em clubes e cassinos. E que quinze por cento do lucro líquido dessas atividades deveriam ser aplicados na saúde pública. 

A autorização para o funcionamento de cassinos no país volta à cena pelas janelas do legislativo, por razões nem sempre identificáveis.

E não vejo como uma iniciativa ruim, a depender de como se pretende detalhar o projeto.

Lá no final dos anos oitenta ou começo de 90, escrevi sobre o assunto para o jornal O Estado de São Paulo. Minha fantasia era a de que fosse autorizado o jogo em um determinado estado do país com o óbvio foco no seu desenvolvimento econômico através do turismo. 

Sim. Um modelo parecido com Las Vegas. Uma vez definida a região, surgiriam no local investimentos correlatos como hotéis e empreendimentos de lazer e diversão. Um misto de Vegas e Orlando. Um cluster de turismo com base no jogo. 

Os modelos de cassinos de setenta anos atrás certamente não existem mais. À época a população urbana era muito menor, as viagens mais caras e difíceis e não existiam tantos recursos eletrônicos para jogos como hoje.

Um hotel-cassino não sobrevive apenas de hóspedes jogadores. Precisam de mais.

E Vegas é o exemplo. Uma programação de shows, lutas, feiras, convenções e grande demanda para locações de filmes através de seu serviço de Film Permits – Las Vegas fazem da cidade um caldeirão de atividades. Somem-se a isso os passeios regionais, parques de diversões e diferentes atrações nas terras secas do deserto de Nevada.  

Essa é a ideia para uma Las Vegas à brasileira.

Um estado nordestino que possa somar a tudo isso praias agradáveis, passeios e água morna, parece uma receita ideal. 

Numa perspectiva de ampliar o tema, sempre com o foco no desenvolvimento econômico do local escolhido, pode-se pensar em investir nisso em Palmas, no Tocantins, ou em algum lugar nos sertões da Bahia ou de Minas Gerais.

Como elemento alavancador do desenvolvimento econômico e formador de cluster de turismo, não faria sentido esse tipo de investimento no estado de São Paulo ou na cidade do Rio de Janeiro. 

Uma fonte confiável me contou que grupos interessados na elaboração das regras para essa atividade falam em autorização para um número de cassinos, por estado da União com base em sua população. 

Não faz sentido autorizar cassinos conforme a população do estado ou conforme a sua extensão territorial. Como limitar isso? Como impedir que salões mambembes mantidos por milícias no Rio de Janeiro, por exemplo, explorem a população de baixa renda?

A autorização para esse tipo de atividade pode gerar bons investimentos, novos empregos regionais e o desenvolvimento de um cluster de turismo e lazer, como já apontamos. Mas está longe de “incentivar a retomada do desenvolvimento econômico do país” como pretende o seu autor, o polêmico senador Renan Calheiros. 

E a autorização para loterias privadas? E o jogo do bicho?  Como ficariam essas atividades? Nas mãos de quem?

E não custa também lembrar que uma onda de parques temáticos no Brasil teve início nos anos 90. E acabou em grandes dívidas por volta de 2010.

Feliz Natal!

Fonte histórica: PAIXÃO, Dario Luiz Dias. “1930/1945, A verdadeira Belle Époque do turismo brasileiro: o luxo e os espetáculos dos hotéis-cassinos imperam na era getulista”.

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José Ruy Veloso Campos é mestre em Comunicação e Turismo pela ECA/USP, especialista em Gestão Educacional pela UNICAMP, graduação em Letras pela Universidade S Francisco, Marketing Hoteleiro pelo Centro Internacional de Glion.   

 

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