Gabriela Otto
(foto: arquivo pessoal)

Quando você faz um bom trabalho, quer ser reconhecido, certo?
Pois saiba que existem muitas pessoas muito confortáveis com o anonimato.

Sabe aquele funcionário competente e comprometido, que não faz autopromoção, e até foge dos holofotes?
Pois ele é mais um na legião de ‘invisíveis’ da sua empresa. 
E justamente por serem low profile, se tornam um desafio para os gestores, pois é fácil considerá-los garantidos. No entanto, é preciso entendê-los, ou o risco de perdê-los é grande.

Eles são encontrados em posições diversas, até o topo. David Zweig, escritor que estuda o comportamento dos invisíveis, afirma: “Para eles, qualquer tempo gasto cortejando elogios ou fama é um tempo roubado do trabalho importante e interessante que eles têm. Sua relação com o reconhecimento é muitas vezes oposta ao que a maioria aprecia: quanto melhor fazem seu trabalho, mais desaparecem. Pode acontecer de só serem notados se algo sair errado.” 

Ser um invisível tem menos a ver com ser visto, e mais com motivação. Faça o teste. Se você responder ‘sim’ para a maioria das perguntas abaixo, talvez seja um invisível:
– Fala mais ‘nós’ do que ‘eu’?
– O que o deixa satisfeito é o trabalho em si?
– Ser meticuloso faz parte da sua ética de trabalho?
– É extremamente responsável?
– Não fica atrás de elogios do chefe?
– Tem uma percepção tranquila de si mesmo (‘se basta’)?
– Lidera pelo exemplo?
– Quanto mais responsabilidade, mais honrado se sente?

Eles nos ensinam que poder e visibilidade nem sempre andam juntos.
 
Alguns arquétipos do profissional invisível:
– Ghostwriter (escritor que não assina suas obras) – Você conhece Alan Dean Foster? E Star Wars? Pois é, ele escreveu. 
– Anestesista 
– Editor
– Perfumista

E quem são os invisíveis no seu hotel? Seria…
– …o assistente de reservas que tem o maior índice de conversão, mas você nem sabe o nome?
– …o garçom que todos os clientes elogiam e você nem cumprimenta ao entrar no restaurante?
– …o vendedor que sempre bate suas metas individuais, e que você não reconhece porque o resultado geral do hotel não foi alcançado?
– …ou o gerente daquela área que não dá problema, mas você acha meio ‘mole’, porque não se posiciona nas reuniões de comitê?

São pessoas que, quanto melhor fazem seu trabalho, menos os percebemos.

Na cultura de celebridades que vivemos, muitas vezes os invisíveis são incompreendidos. Durante muitos anos, os alunos e profissionais mais cultuados foram os extrovertidos.  Mas livros como o best seller O Poder dos Quietos, de Susan Cain, revela que muitas pessoas fazem melhor seu trabalho sozinhas. A veneração atual pelos escritórios abertos, por exemplo, muitas vezes não proporciona os melhores resultados, apenas desvia a atenção para os que defendem seus pontos de vista falando mais alto.

Portanto, cuidado para não se perder no ‘barulho’, e deixar as qualidades silenciosas passarem desapercebidas. Se um invisível percebe que a empresa é paternalista ou promove profissionais com performances questionáveis, imediatamente começa a atualizar o currículo.

Então como lidar com eles?

1) Identifique-os;
2) Reconheça-os como modelos, aqueles que ‘jogam’ para o time;
3) Recompense-os de forma justa (muitos sabem o valor que tem);
4) Converse abertamente e saiba o que funciona para eles;
5) Certifique-se que seu trabalho seja interessante.

A recompensa de saber lidar com os invisíveis não é só mantê-los (pois eles fazem toda a diferença no seu negócio), mas internalizar sua ética e excelência na cultura da empresa.

Por fim, tenha estrelas em posições que exijam esse perfil, mas mantenha muitos invisíveis satisfeitos.

Se quiser saber mais sobre o assunto, recomendo o livro The Invisibles (ainda sem tradução para o português), de David Zweig.

Mas independente da leitura, valorize seus invisíveis!

** Gabriela Otto é formada em Comunicação Social pela PUC/RS, Pós em Marketing pela ESPM e MBA Executivo pela FAAP/SP, além de inúmeros cursos de qualificação profissional, incluindo uma certificação internacional para Leadership Development Trainer. Com 20 anos de trajetória em Marketing, Formação de Pessoas, Vendas Estratégicas, Canais de Distribuição e Revenue Management, Gabriela tem experiências marcantes em empresas como Caesar Park, InterContinental, Sofitel Luxury Hotels e Worldhotels, sendo responsável pela divisão América Latina nas duas últimas. Atualmente é Sócia Diretora da GO Associados, empresa especializada na Capacitação de Pessoas, Marketing, Mercado de Luxo e Hotelaria & Turismo. Além disso é Palestrante, Articulista, Blogueira e Professora da ESPM e outras universidades de renome.

Contato
[email protected]
www.gabrielaotto.com.br
gabrielaotto.blogspot.com