Ricardo Aly, diretor Comercial do Paradise Golf & Convention
(foto: Giulia Ebohon) 

Termo recorrente nas análises econômicas e políticas brasileiras e responsável por gerar apreensões no mercado, instituições e nas ruas do País, a palavra crise se acomodou na língua, no tempo e no espaço, assim como acolhemos expressões que abarcam uma realidade considerada fora do habitual e interagem de maneira imprevista com o que é rotineiro. Substituindo a crise pelo termo inflação, podemos voltar há 30 anos e refazer um cenário conhecido pelo Brasil, quando foi implementado o Plano Cruzado com o intuito de evitar uma recessão econômica de larga escala. Nessa mesma época, Ricardo Aly, atual diretor Comercial do Paradise Golf & Convention, começava sua carreira no turismo.

Inflação alta e mercado desaquecido caracterizaram alguns períodos da economia brasileira, especialmente quando houve mudanças na moeda. A palavra crise, então, soa até familiar para quem observou e atuou no mercado durante esses anos de consolidação do Real. Talvez o conhecimento não sirva como blindagem, porém pode gerar uma experiência capaz de confrontar ou prevenir grandes perdas. Para Aly, a crise gera oportunidades, e a oportunidade no mercado hoteleiro está no cliente. Nesse sentido, criatividade e novos projetos são apontados como alternativa para conquistar e fidelizar hóspedes e, consequentemente amenizar, os efeitos e a reverberação da crise.  

"Estamos inseridos no segmento do turismo que, certamente, é um dos primeiros a entrar na crise e o último a sair. Particularmente, ela não me preocupa porque já estamos acostumados a viver em um País onde existe crise há tempos. O que precisamos é nos superar e fazer diferente, sem tirar o foco no hóspede que paga a conta. De fato, o turismo nacional aumentou em função do aumento do dólar, o que não é mais novidade nenhuma. Aumentou nos resorts, hotéis-fazenda e na praia, haja vista a invasão dos argentinos durante o último verão no litoral do sul do Brasil. Não quero que soe prepotência, mas é fato: em tempos de crise, ou você chora, ou vende lenços. E o Paradise resolveu vender lenços desde o ano passado! Há milagres? Não. Há receita? Não. É preciso ser ousado, criativo, ter senso empreendedor e trabalhar muito para dar resultados. E nós fizemos nossa lição de casa".

Atuando há 30 anos no turismo e 20 na hotelaria, Ricardo Aly considera-se um profissional completo. O título conta com o respaldo de sua bagagem profissional, que abrange passagens pela Accor, IHG (InterContinental Hotels Group), Tropical, Royal Palm, Blue Tree, Bourbon Hotéis e Resort e atualmente o Paradise Golf & Convention. 

"Neste período, trabalhei em grandes empresas hoteleiras, me especializei nos três segmentos citados [lazer, corporativo e eventos] e vivi intensamente cada um deles. Já estive do lado da mesa como cliente e também como fornecedor. Isso, sem dúvida alguma, me permite uma locomoção mais estratégica e me dá, além de uma visão completa sobre o setor, grande potencial de negociação o que, como diretor Comercial, é imprescindível.  

Em entrevista ao Hôtelier News, o diretor compartilha um pouco do conhecimento que adquiriu na sua carreira, e aponta possibilidades encontradas pelo Paradise em meio às incertezas econômicas que vêm ditando os rumos do Brasil.

*Por Giulia Ebohon


Profissional atual há 30 anos no segmento de turismo

Hôtelier News: Sobre a instabilidade econômica e política que marcou o ano passado e se estende até os dias de hoje. Esse cenário afetou os planos do Paradise? 
Ricardo Aly: A instabilidade econômica afetou o negócio de todos. Porém, no Paradise, conseguimos dar resultado e atender as expectativas dos nossos investidores. Em um cenário recessivo existe três tipos de empresas: as que estão em débito e fechando; as que estão empatando no negócio; e as que estão tendo resultados financeiros. Com certeza, afirmo que o Paradise está entre as que estão dando resultados aos proprietários.

HN: O que você considera fundamental para superar e até mesmo enxergar as oportunidades em um cenário de crise? Qual foi a postura do Paradise nesse sentido? 
Aly: Em um cenário de crise, a maior oportunidade continua sendo o cliente. Precisamos ser mais criativos e continuar com a nossa gestão de recursos que, independente de cenário, tem como objetivo atingir o ROI. Estamos crescendo no segmento lazer e isso é uma grande oportunidade para nós. Pensando nisso, já estamos com novos projetos para trazer novidades aos hóspedes. Atualmente estamos atualizando os apartamentos e algumas áreas do hotel. Além disso, acabamos de anunciar a ampliação do nosso Golf Club, que está sendo quadruplicado e mudando de local.

HN: Algumas empresas estão optando por ampliar seu portfólio de hotéis para regiões menos exploradas no interior dos Estados brasileiros. Pensando em destinos que estão com super oferta de hotéis, como você avalia essa estratégia e quais são os benefícios de atuar em um mercado competitivo?
Aly: Primeiro, é preciso que a hotelaria se proteja e que avalie com cautela e cuidado todo pote de ouro que aparece no final do arco-íris. Para isso existem os estudos de viabilidade hoteleira adotados pelas grandes redes e com dados extraídos de pesquisas confiáveis, elaboradas exatamente para este fim. Isso porque ampliar portfólio meramente por uma questão de estratégia de negócio, sem o devido estudo de viabilidade, pode ser perigoso. O negócio tem que se sustentar, caso contrário teremos mais investidores descontentes. Se arriscar em ambientes de alta oferta é sempre um risco como estratégia, ainda mais no nosso País, onde está difícil prevermos com assertividade. Na outra ponta, atuar em mercado extremamente competitivo, para mim, é desafiador porque temos que matar vários leões por dia e sermos muito criativos. E é disso que eu gosto.


Fachada do  Paradise Golf & Convention
(foto: divulgação / Paradise Golf & Convention)

HN: Quais foram os maiores desafios que enfrentou durante sua trajetória profissional?
Aly: Os maiores desafios eu enfrentei no passado e continuo enfrentando diariamente. Iniciei minha carreira muito jovem ainda, e aos 23 anos, quando assumi minha primeira gerência de vendas. Basicamente, vivi em cenários de altos e baixos e fui forjado a trabalhar em momentos fartos e de sequidão de clientes e de budget. Mas, sem dúvida alguma, para mim, pessoas são o maior e melhor desafio que tive em todos os tempos. Depois, segundo e tão importante quanto o primeiro, é preciso aprender a conviver respeitando as diferenças, inclusive quando as motivações são mais pessoais que profissionais – e aí, o ego destas pessoas é um perigo, pois pode atrapalhar seus planos e até mesmo levar (ou tentar) a desistir. Cheguei até aqui com muito trabalho, resiliência, foco e Fé. Graças a Deus, passei por diversos obstáculos e mantive minha retidão.

HN: Atualmente os hotéis independentes respondem por grande parte do parque hoteleiro brasileiro. Quais benefícios você apontaria em trabalhar nessa categoria? E em grandes redes? 
Aly: Na verdade, quem atua em Vendas & Marketing não tem segredo para trabalhar em um hotel em função de ser independente ou de rede. Eu gosto muito da hotelaria independente porque consegue colocar o coração no atendimento. E também gosto de cadeias hoteleiras multimarcas com grandes estruturas. Fui gestor de grandes e pequenas equipes e posso afirmar que os desafios são os mesmos. É muito particular avaliar benefícios numa situação em que o fim comum é atender hospedes. Eu amo muito o que faço e me completo em qualquer ambos os modelos de gestão – própria ou de rede hoteleira.

HN:De que maneira a padronização de serviços, comum em redes internacionais, pode dar lugar também para experiências inovadoras? 
Aly: Esse tópico é muito importante porque a padronização de atendimento é necessária. O cliente não pode ter susto quando se hospeda em seu hotel pela segunda vez ou nas demais. O hóspede tem que se sentir acolhido com o calor humano, porém, dentro de um padrão de atendimento que vise a entrega que a marca promete. Gerar experiência aos hóspedes é um grande desafio. Ser memorável é para poucos. O empreendimento vai mais além que um bom quarto e um bom banho…Isso é básico na hospitalidade. Portanto, propiciar experiências inovadoras é importante para se manter clientes fiéis.

HN: Qual é o seu maior desafio como diretor Comercial? 
Aly: O maior desafio é garantir a satisfação dos clientes e atingir os resultados dos investidores. Outro tão importante é fazer com que Vendas & Marketing andem juntos com a operação de modo a garantir nossa entrega que, ao fim e ao cabo, é nossa promessa como empresa e como grupo de profissionais. Faço parte da engrenagem "Equipe", se eles vencem, eu venço e vice-versa. Dependemos uns dos outros para o sucesso. Meu papel é como o de um maestro, eu afino e dou o tom e a equipe toca com foco e dedicação, os resultados aparecem. Nosso principal objetivo é que clientes e investidores fiquem satisfeitos.

HN: Você acredita que existe um segmento que se sobressai no mercado hoteleiro nacional? 
Aly: De modo geral, tanto o turismo de lazer como o turismo de negócios têm seus desafios e diferenciais. É preciso encontrar o ponto de equilíbrio e a estratégia de cada negócio. No entanto, no meu ponto de vista, o Turismo Corporativo (Negócios e Eventos) é o segmento mais representativo na indústria, pois representa, de modo geral, cerca de 80% de share. Sem dúvida nenhuma, é o que mantém o negócio.  

HN: Quanto aos diferentes departamentos que levam ao bom funcionamento do Paradise, qual é a importância do Comercial? E como você acha que deve ocorrer o diálogo com os outros setores?
Aly: O departamento de Vendas & Marketing é tão importante como os demais. Mas se diferencia por uma questão que, para nós, é fundamental: entendemos o departamento, por ser a área responsável por trazer receitas e gerar resultados, é o coração do negócio, é o motor principal de um hotel. Como diz a frase “ No Money, No Music”… Vendas é o combustível. O diálogo com os outros setores precisa ser, acima de tudo, de interação e integração, reconhecendo a importância de cada um nesta engrenagem.

HN: A ocupação do hotel é afetada pela sazonalidade? Se sim, como vocês lidam com ela? 
Aly: Sim, todo hotel é atingido por sazonalidade. A nossa é muito linear porque 70% da nossa ocupação é oriunda de eventos e os 30% restantes, são gerados no lazer. Trabalhamos com a gestão de Revenue Management, o que nos permite gerenciar e otimizar a nossa ocupação. Essa ferramenta é muito importante para atingimento de melhores resultados.

HN: Quais são as peculiaridades de atuar no Paradise, em um destino como Mogi das Cruzes? 
Aly: Esta lógica é diferente. O Paradise é o destino. Ele está inserido em Mogi das Cruzes, para se confirmar como o destino escolhido por nossos hóspedes. Geramos negócios e oportunidades para a cidade que nos apoia afim de aumentarmos o tráfego de turistas na região. As peculiaridades que posso destacar é que o Paradise engaja pessoas que querem sonhar com a gente e que pensem coletivamente em atender hóspedes com satisfação. Queremos gente nutritivas e não mini robôs. Alguns podem dizer que é clichê, mas para nós é verdade: gostamos e queremos gente que gosta de gente.

*(ilustrações: Pixabay/PeggyMarco) 

Serviço
paradiseresort.com.br