Hotelaria independente no País pode vir a expandir,
notadamente se melhor avaliada pela própria imprensa
(foto: desembarque.com.br)

 
Finley Peter Dunne, mordaz jornalista do século 19, escreveu certa vez que a função da imprensa é “confortar os aflitos e afligir os confortáveis” – desnudando a tragédia dos pouco robustos e expondo o tom sorrateiro dos mais providos. A questão vale à hotelaria nacional, notadamente, frisando-se que não há poliânicos neste mercado, mas ainda assim os independentes figuram como aflitos enquanto as grandes redes, com nome autoexplicativo, fazem coro aos confortáveis.
 
O tema não é de hoje, e por essas linhas inclusive já foi dito que a hotelaria só faz crescer, mas não para todos. E a imprensa tem papel determinante neste sentido, seja para o sucesso ou para o fracasso.
 
Atualmente, os hotéis brasileiros independentes estão numa escala superior aos 90% e representam mais de 75% dos leitos existentes no País. Em estudo recente, as consultorias CB Richard Ellis e Neoturis estimaram que, no Brasil, existam 6 mil empreendimentos hoteleiros, sendo 78% deles de padrão médio ou simples – equivalente à vertente econômica. Destes, apenas 3% estão sob gestão de alguma marca hoteleira.
 
Ainda assim, o cenário é de holofotes – que se voltam sempre aos “confortáveis”, e estes pequenos empreendimentos têm como agrura o obscurantismo. Isto sem falar no cotidiano básico do hoteleiro autônomo: estrutura financeira pouco competitiva, capital humano minguado, investimento em publicidade irrisório, entre outros dramas.
 
Seja em momentos de crise, ou até mesmo de efusão do mercado, empresas menos competitivas tendem a ser mais afetadas. Isto porque, ao menos na condição de um setor em expansão como este, o cliente segue a linha de crescimento e torna-se mais exigente – impondo aí uma reengenharia na cadeia dos serviços oferecidos.
 
As redes, por etimologia, estão melhor interligadas e articuladas para tanto, vivendo, neste caso, um ciclo dialético para não estacionar no mercado. Tal momento é tão consolidado entre essas cadeias que, comumente, elas se negam até mesmo a falar com a imprensa especializada sobre algum material divulgado – haja vista que essas publicações não são, especula-se, foco principal de atuação. 
 
Já o independente amarga as adversidades – vendo cada vez mais a concorrência, notadamente robustecida, aumentar seus índices de ocupação, diária média e afins. E o pior: poucos têm dinamismo e habilidade para transformar suas ações em notícias.
 
E aí reside o ofício da mídia – principalmente a especializada -, mudando o foco e abrindo espaço para que esta gritante fatia do mercado também entre na pauta. Se presentes nas manchetes, os hotéis autônomos tenderiam a mudanças, estimulados por uma maior procura por parte da demanda e, por conseguinte, por uma maior necessidade de se aprimorar e atender hóspedes mais críticos. É um ciclo que pode rodar sem que a menor fatia do setor quanto à representatividade – que está nas mãos das cadeias hoteleiras e, paradoxalmente, acumula as maiores cifras – seja afetada.
 
O resultado seria o aprimoramento – antes de mais nada da cultura que vale para o onisciente coletivo. O setor impreca por outros olhares que podem trazer mais frutos e por um cenário profícuo como o atual – mas que perdure anos a fio. A imprensa é parte disto.