(imagem: programacensuralivre.blogspot.com.br)
 
Não é de hoje que certos temas estão à baila da hotelaria. A questão da diária média, principalmente quanto à oscilação e à elevação sintomática do último biênio, tem ganhado latência. Entende-se latência, vale sublinhar, aquilo que está subentendido e faz-se num ocultismo quase coletivo. Poucos assumem, mas é notório que os preços das tarifas em algumas praças estão exacerbados – e podem vir a ser sinônimo de labuta num tempo futuro.
 
Os potentados da indústria hoteleira defendem que tal desenrolar se deve a uma recuperação do que fora perdido nos idos da crise dos flats, iniciada em meados de 2003. À época, os hotéis se viram fadados à, com o perdão do termo chulo, prostituição do mercado em decorrência da construção desenfreada – e como via de regra não planejada – de condo-hotéis e afins. Nesse período, havia um burburinho de que as empresas que faziam uso da rede hoteleira se favoreceram ao barganhar preços e impor à hotelaria a condição de setor vitimado pelo seu próprio excesso de oferta.
 
Isso se estendeu até 2009, praticamente, quando do refreamento da crise econômica mundial e, acredita-se, da reverberação positiva deste levante no Brasil.
 
Não poderia ser diferente, e era a hora de dar o troco. A resolução positiva desse cenário vem se construindo a conta gotas dos últimos três anos para cá, tendo se revelado aos poucos mas copiosamente – a exemplo da divulgação pela SPTuris (São Paulo Turismo) de que a diária média na capital paulista, no mês de fevereiro último, chegou à casa dos R$ 271,05 – maior valor desde 2008, quando o Observatório do Turismo foi iniciado.
 
Outro dado para baliza foi divulgado também por esses dias pela Abracorp (Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas), num apontamento de que, em 2011, a rede Windsor – que tem seu portfólio de empreendimentos congregado apenas na capital fluminense – praticou tarifas médias de R$ 441, cerca de 50% a mais que grande parte de outras redes nacionais. São números que fomentam o discurso de que a hotelaria goza de tempo áureo e vive de práticas nem sempre entendidas como justas pelo hóspede – o que pode ter efeito nefasto.
 
O ranço mercenário, no Rio de Janeiro, acabou ganhando olhos, num caso específico, do Ministério da Justiça, que cobrou explicações sobre as tarifas base para a Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável) e intimou a FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação); o Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes; e a ABIH-RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro) a prestar esclarecimentos sobre a suposta recusa de prestação de serviços e possível aumento abusivo dos preços cobrados pela rede hoteleira do município.
 
Advogando pelo setor hoteleiro quanto à ascensão dos valores há alguns pormenores. Conta pontos nesta história o fato de a economia brasileira viver de um deleite – ainda que incerto – no qual o poderio de compra da população se elevou; ecoando positivamente na iniciativa privada que também angariou mais poder para gastar – e os hotéis se balizam vez ou outra nisso. Some-se aí o boom imobiliário que certamente existe para a hotelaria paulistana e fluminense, é fato – alavancando o preço dos imóveis e inviabilizando a prática de uma tarifa com valor menos dispendioso. O jargão desoneração fiscal para o setor também faz coro neste rol.
 
Daí a exigência de se por na balança tal questão. Ninguém se atreve a afirmar, mas corre no meio que o desenho de País caro – que em contrapartida não faz jus ao preço quanto à infraestrutura, à mobilidade urbana e até mesmo ao atendimento ao turista – já é via de regra para o turista estrangeiro e até mesmo doméstico. Em vez de postergar a ocasião azada, a postura de tarifas ásperas pode vir a fazer com que o setor venha a enfrentar uma rearticulação da dinâmica de eventos e hospedagem – obrigando a hotelaria a repetir a fase minguada do passado.
 
Interessa a todo País que isto não ocorra e, especulação ou não, é necessário afastar o risco de contágio.