Mesmo com real valorizado, quinhão da carga
tributária minimiza bons resultados da economia
(imagem: blog.software.pro.br)
 
O consumo está se mudando para a terra do Tio Sam, e o brasileiro figura no 3º lugar de quem constrói esta lista – para a alegria do turismo e da economia estadunidenses – perdendo apenas para japoneses e britânicos. O fato que desenha a beligerância que o Estado brasileiro tem à frente, caso queira uma luz de conversão que mantenha este turista em sua terra natal.
 
Dólar desvalorizado em comparação ao real e produtos com preços muito mais justos, haja vista que a carga tributária no Brasil está inflada por ontologia, criaram uma lealdade do turista brasileiro com os Estados Unidos que já é clima reinante. Dizer a este consumidor que seria de bom alvitre favorecer a economia de seu próprio País é como tentar argumentar com Platão em grego sobre estética.
 
Isto por que, com matemática infantil, nota-se a tangível diferença. Um iPhone 4, celeremente transformado em objeto de adoração no Brasil, custa coisa de, no máximo, US$ 300 no país presidido por Barack Obama, pouco mais de R$ 480. Por aqui, o adereço não sai por menos de R$ 1,4 mil – leia-se mais que o dobro do valor. Some-se a isso a intenção do Consulado norte-americano no Brasil de agilizar o atendimento para emissão de vistos para aquele país.
 
Para entender, em parte, o que se passa é preciso voltar no tempo, há cerca de 70 anos, quando o Brasil apontava como destino turístico, graças à divulgação feita por Carmen Miranda e posteriormente pela difusão da Bossa Nova.
 
Quando os anos de 1960 despontavam como a década dos grandes adventos culturais, infelizmente a virada ditadorial na Terra do Zé Carioca iniciou um período negro. As fôrmas de pudim são trocadas por panelas de pressão. Nada poderia sair, nem entrar. A base cultural começa a se sacudir.
 
Em meados dos anos de 1970, a importação de bens de consumo é proibida. Alguns anos depois, a Lei da Reserva da Informática entra em vigor, e o brasileiro se vê como periquitos engaiolados em busca de rações multissaborosas. Viajar para o exterior? Só se fosse levando os US$ 1 mil permitidos pelo Banco Central. O restante poderia ser comprado no mercado negro com ágio de mais de 50%.
Nas férias, milhares de brasileiros enchiam suas Variants e Brasílias e rumavam para casas litorâneas na tentativa de fugir àquele cenário.
 
E aí chegam os anos 1990. A cor parece que começa a voltar com a abertura de mercado. Em 1994, o Plano Real e a política do câmbio fixo seguram a inflação e mantêm o preço da moeda próximo ao preço do dólar até 1998. A sociedade, ávida por consumo, dá os primeiros sinais do vício que ainda estava por vir. Vinte anos depois, o brasileiro começa a ser considerado como um turista desejado. O resto da história reverbera o que se vê hoje.
 
Frente à situação, o Departamento de Comércio dos EUA estima que, além do aumento dos gastos, o número de turistas vai mais que dobrar nos próximos cinco anos, saltando de estimados 1,4 milhão, em 2011, para 3 milhões em 2016. A pergunta é o que será feito para quebrar hábitos tão arraigados e ao menos frear a estarrecida conta na qual o brasileiro consome com ar de basbaque.
 
Há sim espécie de culpa coletiva nisto, mas seria um non sequitur atribuir à mentalidade da população o cerne do causo. A resolução dos problemas nunca esteve tão dependente da perspectiva de equacionamento de tributos e desafios estruturais, de médio e longo prazos. É uma reforma que figura na pauta brasileira há tempos e tende, por decisões políticas, a ser postergada por mais uma década sem que haja muito algazarra.
 
Negar a evidência de que o País está favorecendo economias que por si só estão consolidadas, à revelia do que dizem os especialistas, é colocar panos quentes no que pode vir a ser um tiro no pé. O turista estrangeiro já minguou seu passeio pelas terras tupiniquins e a valorização da moeda tornou mais árdua a saída do brasileiro de seu País.
 
É hora de escolher se, nesta conjuntura visível feito tinta velha sob uma nova demão, o País vai rearticular-se e manter-se com o turismo e consumo domésticos. Assim, parece lógico que os microcosmos do setor no Brasil precisam ser revistos – antes que o momento profícuo fique cabisbaixo.