Buenos AiresUma das principais esquinas da cidade (fotos: arquivo HN)

Ouve-se por aí que Buenos Aires, capital e maior cidade da vizinha Argentina, é uma parte europeia na América do Sul e que é quase uma extensão do lugar que você mora no Brasil, por conta do alto índice de brasileiros que circulam nas ruas e lojas do destino. Como sempre, não é bem assim. Claro, é possível comparar as esquinas, os detalhes, com algo ou com algum local conhecido, mas basta olhar para o outro lado da rua e desvendar a identidade própria de uma metrópole charmosa, que, assim como qualquer outra grande cidade, tem seus encantos e mazelas, mas conquista, arrebata. Ainda buscando semelhanças, não é nenhum absurdo igualar o clima ao sentido nas capitais da região do Sul brasileiro – Florianópolis talvez. Chamativos monumentos com arquitetura arrojada lembram Brasília; altos arranha-céus evocam partes de São Paulo; vida cultural repleta como no Rio de Janeiro; construções históricas recordam Recife; boas opções gastronômicas trazem à memória Belo Horizonte. Lugar ideal para brasileiros, que são sim – e não apenas – o principal viajante a circular entre os portenhos. De acordo com dados do Improtur (Instituto de Promoção Turística da Argentina), em 2012 as visitas oriundas do Brasil foram as mais frequentes, alcançando 29,3% do total. Some os atributos que ligam o município a destinos brasileiros dois novos elementos: as boas opções de lojas e a desvalorização da moeda local perante ao nosso real. Com isso, o resultado são expectativas mais otimistas que os resultados anotados nas últimas temporadas. Querendo descobrir as delícias do destino mais buscado e frequentado por brasileiros, a reportagem conheceu in loco algumas partes da capital de uma nação capaz de atrair 5,7 milhões de visitantes no ano passado. Por Filip Calixto

Buenos Aires_Umas das ruas na região central do destino

Aeroporto Internacional Ministro Pistarini, conhecido como aeroporto internacional de Ezeiza. Esta é a porta de entrada mais utilizada por estrangeiros, é o principal local de desembarque aéreo da cidade. Dentro dele e nas imediações, já possível notar alguns traços do povo e da cidade que espera os que chegam. Belas construções, alta velocidade em estradas de asfalto impecável e por onde se olha fumaça, fruto de um hábito tão comum quanto o de beber água: o fumo. Nas margens das avenidas os outdoors exibem fotos de grandes esportistas como monumentos de adoração. A noite, na região central e em alguns bairros conhecidos pela boemia, os faróis e luminosos tornam as esquinas e bares convidativos. A população, vale dizer, não é a mais simpática com quem os vizinhos brasileiros podem cruzar, principalmente porque logo se identificam. Não sei ao certo como, mas é exato que não confundem-se.  Há pontes, viadutos, que contornam as ruas e parecem formar um labirinto, decifrado pela perseverança de quem os testa todos os dias. Sempre há uma grande obra, tapada por paredes de madeira e desenhos com o projeto – quase sempre futurista – finalizado. Nas vias, os veículos que transitam denunciam a situação econômica do lugar. Existem muitos automóveis antigos, mal conservados, disputando espaço com outros carros, comuns apenas por lá. Contudo, pelo que se escuta em conversas de rua, nada está perdido. A fé no governo, no futuro e, principalmente, nas religiões é artigo abundante. Confiança Parte das esperanças e da crença em dias mais fartos e melhores economicamente vem de um fato recente e ligado à religião mais popular naquele país – o catolicismo.

Buenos AiresNos prédios tremulam bandeiras do Vaticano

O acontecimento em questão foi a escolha de Jorge Mario Bergoglio – cardeal nascido em Buenos Aires e com forte ligação com a cidade – como o mais novo Papa. Nomeado Francisco I, o religioso assumiu o cargo em 28 de fevereiro deste ano, substituindo o alemão Bento XVI e é o primeiro sul-americano a ocupar o posto. A escolha do compatriota como líder da igreja é motivo de alegria evidente. Tanto é que a cada quarteirão é possível ver fotos do cardeal em postes, muros e placas. Também é comum observar bandeiras do Vaticano tremulando ao lado da argentina em sacadas, casas e até em estabelecimentos comerciais. Até mesmo na sinalização da cidade há mensagens comemorando o acontecido. Um dos painéis eletrônicos espalhados por avenidas da capital exibe o seguinte recado: "La ciudad celebra al Papa Francisco". Além de trazer alento para um povo que atravessa dificuldades no quesito econômico, Jorge Begoglio entrou para uma seleta lista de ídolos nacionais ao lado de nomes como Diego Armando Maradona, Jorge Luis Borges, Evita Perón e Carlos Gardel, entre outros.

Buenos AiresO painel homenageia o Papa Francisco

Tradições Os nomes acima mostram o quão importantes são as tradições para os moradores desta cidade. Sinalizam também a relevância que algumas personalidades tiveram na construção de uma cultura, cultivada com fervor. Como ilustração dessa veneração, a maior parte dos city tours dedica parte de seu tempo a cemitérios do destino. Para os locais, o espaço – em outros países visitados apenas em ocasiões simbólicas – é parte da rotina semanal. Ali há jovens conversando, pessoas trabalhando, crianças, muito movimento e, surpreenda-se, até gente que faz cooper. Inusitado mas respeitável e compreensível, a medida em que se analisa o simbolismo que o ambiente tem dentro dos costumes do povo. O mais famoso deles é o Cemitério da Recoleta, onde está enterrada Evita Perón. Histórias e estórias não faltam, algumas engraçadas outras nem tanto. Tampouco sustos e impressões. Mas é interessante perceber que existe rotina, movimentação e – sem trocadilhos – vida naquele lugar. Os residentes mostram com orgulho alguns mausoléus. Tem de tudo, desde túmulos cheios de tecnologia com portas eletrônicas, até pequenas grades que guardam ossos de nomes importantes na trajetória daquele país. O mesmo brio pode ser verificado quando o assunto é música. Tradicionais ou modernos reconhecem, o tango é o ritmo que representa a população. Por isto é tão fácil achar escolas e apresentações da dança na cidade. Tão simples como achar rodas de samba no Rio e na Bahia; tão corriqueiro e tradicional como música sertaneja em Goiás.

Buenos AiresRepletos, os cemitérios da cidade têm corredores estreitos

Hospitalidade Como grande metrópole que é, Buenos Aires também dispõem de uma grande oferta hoteleira com opções que vão de pequenos hotéis boutique – a maioria deles instalados no bairro de Palermo – e empreendimentos modernos, passando pela hotelaria econômica e pelos albergues. No aspecto luxo e tradicionalismo, destacam-se dois imóveis instalados no centro do município. O Alvear Palace Hotel e o Plaza Buenos Aires – que exibia a bandeira Marriott e após uma recente transação foi adquirido pelo mesmo grupo do Alvear. Atuando há mais de uma década no ramo de hotéis da cidade, Patricio Costa, gerente de Vendas do Alvear, assegura que o público brasileiro sempre foi um dos sustentáculos do turismo naquele país e de vital importância para o segmento de hospedagem. "O Brasil passa por uma boa situação econômica há alguns anos e isso alavancou o setor de turismo", articula. Segundo ele, nas últimas temporadas a participação de brasileiros não foi tão expressiva como se esperava, principalmente por conta do número de viajantes que escolheram destinos de outros continentes. "Nesses últimos tempos notamos uma baixa do mercado brasileiro e atribuo isto a facilidade que este consumidor passou a ter em outros destinos turísticos. Isso nos tirou um pouco do mercado mas, como tudo neste setor, é um ciclo e o próximo passo é que o viajante do Brasil passe a conhecer novos lugares na Argentina", comenta. Ainda que sem números oficiais referentes à participação tupiniquim nos hotéis portenhos, estima-se que, durante o ano passado, esses estabelecimentos tenham recebido mais de 970 mil pessoas vindas de cidades do Brasil.

Buenos AiresUm dos prédios mais antigos da cidade abriga a Universidade Pública de Direito

Turismo na Argentina Em números absolutos, concedidos pelo Improtur, após o brasileiro, o maior contingente que chega às terras argentinas vem da Europa (19,9%), em seguida aparecem os outros países da América do Sul ( 11,5%), e logo depois estão Estados Unidos e Canadá (9,1%). No aspecto turismo interno ou doméstico, o último índice – que faz menção ao ano de 2012 – aponta acréscimo de 9% na movimentação, quando a comparação é feita com o ano de 2011. Segundo a entidade, o brasileiro é responsável por quase 30% do movimento turístico da Argentina e trata-se de viajantes com forte identificação com os produtos e destinos oferecidos. Sobre a relação com os órgãos que cuidam do turismo no Brasil, Jaíme Rios, que representa a entidade por aqui, afirma que há cumplicidade. Segundo ele, a maior prova de afinidade entre os dois governos é a troca de know-how no campo do turismo e da eco aventura. "A Argentina tem a expertise no manejo de parques naturais e repassas ao Brasil esse conhecimento. Por sua vez, o Brasil já conquistou avanços no segmento de normas para a exploração dos esportes e atividades de aventura ao ar livre, transferindo a experiência para os atores desse nicho na Argentina", argumenta. Serviço www.argentina.travel