The View Bar, do Transamérica Prime
International Plaza
(foto: Nathalia Abreu)
 
Aquele estereótipo de um turista cansado e solitário – camisa amassada, batendo o pé ao som de algum clássico do jazz dos anos de 1960 e com um copo de bourbon à mão – já não figura mais na noite dos bares e lounges de hotéis em São Paulo. Mais do que o próprio executivo que procura um momento de descontração após um dia exaustivo na capital paulista, festeiros de toda a estirpe têm ocupado cada vez mais esses espaços nos empreendimentos da metrópole.
 
A oferta de estabelecimentos é grande, principalmente na região dos Jardins, e a atual tendência de crescimento faz com que hoteleiros e proprietários de bares sempre busquem um plus para atrair novos clientes e agradar aos fiéis frequentadores.
 
Devido a este vasto “cardápio de opções”, os bares de hotéis têm ganhado alguns holofotes, o que, notadamente, deve atrair cada vez mais visitantes. Hoje, muitos não hóspedes também procuram tomar um drink ou até mesmo chacoalhar o esqueleto em espaços instalados dentro dos hotéis.
 
Os motivos? Mais do que diversão, a questão de uma segurança melhor – se assim se pode dizer – parece ficar latente, haja vista os mais de 30 assaltos ocorridos em restaurantes e bares das zonas Oeste e Sul desde o início do ano. Tal fator contribui para que hotéis sejam mais procurados na hora de relaxar nas noites paulistanas.
 
Como fruto da mudança, os hotéis e seus respectivos espaços de entretenimento passam por constantes atualizações, transformando os bares em ambientes agradáveis e sofisticados, capazes de receber bem a todos os públicos.
 
Para entender a nova fase, o Hôtelier News foi para o outro lado do balcão. O resultado? Novos clientes, ambientes mais descontraídos, mais uma fonte de receita e a máxima do bem-servir transposta para a mesa do boteco, com o perdão do impropério.
 
Por Dênis Matos, Nathalia Abreu e Thais Queiroz
 
 Hélio Trindade, gerente do The View Bar, e Moussa Pedro,
gerente geral do Transamérica Prime International Plaza
(foto: Nathalia Abreu)

 
Um caso típico de espaço que recebe também visitantes é o The View Bar, localizado no 30º andar do Transamérica Prime International Plaza, próximo à avenida que leva no nome o gentílico de São Paulo. A vista privilegiada é um dos atrativos que convida os altos executivos da região a experimentarem o The View. De acordo com Hélio Trindade, gerente do bar e do restaurante, o público lá é mais maduro e elitizado, prezando principalmente pela segurança. “É diferente de um estabelecimento aberto a diversas faixas etárias e classes sociais”, esclarece.
 
Para ele, a sensação de segurança é sim um dos principais fatores que influencia no aumento da procura. “Não vamos criticar o sistema de segurança de modo geral, mas hoje as pessoas nos procuram porque há um pouco mais de zelo dentro de um bar de hotel do que num bar de rua. Estamos há 100 metros da rua e, primeiro, o frequentador passa pelo segurança, pelo taxista, pelo manobrista etc”, garante Trindade.
 
Olhar clínico
Moussa Pedro, gerente geral do Transamérica Prime International, complementa que não há uma triagem ostensiva, mas obrigatoriamente a pessoa passa pelos seguranças do hotel e por outras pessoas treinadas e capacitadas antes de chegar ao bar – o que garante mais atenção na seleção de quem entra e sai, segundo ele. “Nossos seguranças têm olhos clínicos para avaliar quem é o usuário e quem não é. Também existe o ponto de vista da acessibilidade. Como são 30 andares até o bar, ele está mais afastado, e isso traz uma preocupação maior para as pessoas que possivelmente seriam mal intencionadas, pois elas estão presas no ambiente. A ação é, portanto, inibida”, acredita.
 
Grupos de amigos num happy hour, casais em clima de romantismo, solteiros em busca de companhia, moradores da região – seja lá qual for o perfil, a segurança é senso comum quando se pensa em estar num bar. Wadim Malcolm Alvarez, gerente de A&B do Hilton São Paulo Morumbi, conta que o hotel tem como rotina de segurança identificar se o cliente do Canvas, bar do hotel, é hóspede ou não. Já a gerente de A&B do InterContinental São Paulo, Amanda Cunha, relata que o bar do hotel possui staff treinado, distribuído em pontos estratégicos, trabalhando diariamente por 24 horas. “Além disso, câmeras estão espalhadas em todo o hotel”, articula a executiva.
 

O Canvas Bar, do Hilton Morumbi preserva o ambiente
clean. A clientela costuma frequentá-lo para assistir
eventos culturais e esportivos
(foto: divulgação)
Tato com o novo cliente
A segurança é ponto importante, mas não é suficiente para garantir a fidelidade do cliente. Sendo assim, os hotéis têm investido também em estratégias que englobam atrações culturais, esportivas, de lazer e gastronomia.
 
O gerente geral do Novotel Jaraguá, Carlos Bernardo, comenta que o bar, apesar de comportar apenas 12 clientes, tem grande movimentação nos finais de semana, quando há apresentações no Teatro Jaraguá, estabelecimento integrado ao complexo Novotel.  Lá, são as atrações culturais que fomentam a visitação do espaço.
 
No Badebec, restaurante e bar instalado no Sheraton São Paulo WTC, são arquitetos e frequentadores do shopping D&D, anexo ao hotel, que circulam pelo espaço. “O hotel faz parte do Casa Cor há 10 anos, um grande evento de arquitetura. Então tudo o que passa pelo D&D acaba reverberando no bar também. Arquitetos marcam reuniões aqui,  pessoas acabam de sair de congressos que acontecem no próprio hotel e vão para o bar. Ele tem uma ligação fácil, pois é uma passagem que o hóspede, obrigatoriamente, cruza para ir do shopping ao hotel, ou vice-versa”, pontua Lourdes Bottura, proprietária do Badebec.
 
Lourdes acrescenta que é uma clientela que tem crescido, estimulada até mesmo por reformas recentes que foram feitas. “Houve uma reforma do restaurante, que antes era meio inadequado quanto à questão estética. Hoje ele é muito aconchegante e tem uma choperia, o que muitos turistas estrangeiros gostam”.
 
Os hóspedes têm acesso ao Bar Brahma, do Pestana São Paulo,
pelo lobby do hotel. Os detalhes da marca estão por toda parte
(foto: arquivo HN – confira o hotel In Loco)
 
A choperia, inclusive, foi uma das formas que o Pestana São Paulo utilizou para melhor oferecer serviços no bar, que comporta 60 pessoas na área interna e 30 na externa. Joaquim Paz, gerente geral do hotel, diz que o espaço, conhecido por ter um quiosque Brahma, tem como motes boa bebida, boa comida e boa música. “Trabalhamos com promoções como 2ª em dobro de chopp e 3ª em dobro de caipirinha. O bar também oferece música ao vivo às quintas e sextas, das 19h às 22h, e sábado, junto com uma feijoada, das 12h às 16h”, explica.
 
Já o Hilton Morumbi investe na transmissão de jogos de futebol para reunir a clientela. “Contamos com um video wall de alta tecnologia, onde transmitimos eventos esportivos”, conta Alvarez.
No geral, além de ações promocionais, grande parte dos hotéis trabalha em conjunto com as assessorias de imprensa para divulgar eventos e novidades dos bares, seja pela mídia especializada ou por intermédio das redes sociais.
 
Propaganda? Não trabalhamos
No entanto, não é o caso no Unique. Melissa Oliveira, diretora de Operações do hotel boutique, acredita que o Skye, bar interno do hotel, se tornou cartão postal da cidade. Por esta razão, ela não vê necessidade de desenvolver estratégias de divulgação ou de promoção. “A divulgação é boca a boca e por meio das muitas matérias que saem nacional e internacionalmente”, conta. Melissa defende também que o bar é um fenômeno de sucesso desde a sua abertura.
 
Além de ações dos manuais de Marketing e Administração, incrementar o espaço, seja no que tange à estética ou aos serviços, é um dos maiores viabilizadores. A proprietária do Badebec adianta que um grande televisor de LCD está para ser instalado no espaço. “Uma mesa de antepastos será montada, com queijos, frios, pastas. Isso vai ser sempre às 18h, com cara de happy hour mesmo. Estamos incrementando o cardápio para que as pessoas nos visitem mais”, confessa.
 
No bar do Transamérica Prime International Plaza, além da habitual música ao vivo, algumas medidas são tomadas anualmente. “Temos um trabalho que vai até 1º de outubro, com duração de seis meses, no qual oferecemos 50% de desconto para o hóspede no happy hour em todo o cardápio de bebidas”, menciona o gerente do The View. Além disto, há cinco anos acontecem ações em datas especiais, quando o hotel faz as famosas vendas casadas de hospedagem e jantar. “Dificilmente tínhamos uma mesa vendida que sem apartamento reservado. O objetivo desta estratégia é proporcionar ao usuário a união do útil ao agradável”, complementa.
 
O jargão do útil ao agradável é o argumento do Tivoli São Paulo Mofarrej para que os clientes visitem o Narã Bar, situado no lobby do hotel.  Renaud Pfeifer, gerente de Operação do empreendimento, diz que os hóspedes preferem tomar um drink no Narã em vez de sair para outros bares da região. “Eles ficam o dia inteiro fora e chegam ao hotel para dormir, a escolha é por comodidade, de poder tomar um drink e fazer uma refeição rápida no próprio bar do hotel”, argumenta.
 
O luxuoso Narã Lounge & Bar, do Tivoli São Paulo
(foto: divulação)

 
A leitura de Pfeifer não é a mesma de Marc Balanger, gerente geral do recém-inaugurado Pullman. Ele esclarece que o It, bar e restaurante do hotel, localizado na região do Parque do Ibirapuera, tem em seu DNA ser um espaço reconhecido independente do complexo hoteleiro. Para isso, um acervo com vodcas, cachaças e até mesmo vinho servido em taças, serviço dificilmente encontrado em hotéis, é oferecido. “Trabalhamos muito o conceito de vodca e cachaça, com coquetéis diferentes, tudo para dar outra ambientação ao bar”.
 
O gerente do Pullman explica que até mesmo incluir cachaças no menu foi uma estratégia para que o bar ganhasse diferenciais. O mundo da cachaça é engraçado. Muitas delas custam muito mais do que grandes vinhos. E o mais interessante é que o Brasil é referência no segmento”, indica.
 
Bar com direito a DJ
O It tem até mesmo uma porta de acesso externa, para que não hóspedes entrem naturalmente no bar. “O ambiente convida a ficar, não é um espaço fechado, como um terraço. É para que pessoas de fora o conheçam”, articula Balanger. O gerente menciona que os happy hours têm sido frequentes, inclusive com a participação do DJ Herbert Tonn, sempre às sextas-feiras e aos domingos.
 
O moderno It, bar e restaurante do Pullman Ibirapuera
(foto: divulgação)
 
“Nós não queríamos um restaurante com piano ou coisa assim. Nós temos uma trilha musical para o dia-a-dia, feita pelo nosso DJ, até mesmo para a madrugada. E duas vezes por semana ele vem aqui e faz um show, digamos, ao vivo, animando o espaço”, diz Balanger.
Toda essa dedicação tem, antes de qualquer coisa, uma conotação comercial. Mesmo sem revelar números, o gerente Operacional do Tivoli garante que, desde a abertura, houve aumento considerável no fluxo de visitantes, tendo o espaço ganhado a atenção de pessoas do mundo fashion, celebridades, times de futebol etc.
 
Herbert, DJ que assina a trilha musical do Pullman

e se apresenta no It todas as sextas e domingos
(foto: arquivo HN)

 

Lourdes Bottura também vê com otimismo as possibilidades que o bar pode trazer no incremento dos serviços. De acordo com ela, cerca de 15% da receita do hotel é proveniente do bar, o que deixa claro que o nicho deve ser explorado.
  
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