A ABR (Associação Brasileira de Resorts) e o Skal-SP promoveram hoje (1) a primeira edição do evento Turismo Digital com o tema "Economias Colaborativas: A Nova Era do Viajante" no hotel Tivoli São Paulo Mofarrej, na região dos Jardins. O evento teve apoio do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) e da FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação).

João Bueno (ABR) e Arystides Cury (Skal), deram as boas-vindas ao público presente e passaram a palavra a Luigi Rotunno, presidente da ABR que oficializou o início dos trabalhos.

Trícia Neves, da Mapie Consultoria

Trícia Neves, da Mapie Consultoria, tomou a palavra a seguir, na apresentação da palestra "Os hábitos de consumo das novas gerações". A profissional começou usando como exemplos, seus filhos e as suas escolhas para ilustrar o novo padrão de consumo dos novos consumidores. "Perguntamos aos millennials, em pesquisa da Mapie, o que eles queriam em um possível novo modelo de hotelaria. Processos, tecnologia e facilidade foram os itens mais mencionados. O que nos trouxe até aqui pode não ser o suficiente para continuarmos crescendo. É preciso pensar no novo", pontuou a consultora.

De acordo com a Tricia, o Airbnb trouxe experiências únicas e transparência para o consumidor ao proporcionar como adicional à hospedagem, experiências como passeios, imersões culturais e gastronômicas. Segundo Trícia, essa característica – de exclusividade – é positiva. Relação entre marcas e cultura também foi um dos destaques da palestra.

"Só vencerão nessa corrida, os times que, inspirados pelo Waze, mudarem de rumo de acordo com as tendências que dão certo. Envolver o cliente e trazê-lo para o processo é a nova ordem. Se o cliente fizer parte do nosso dia a dia, dificilmente nos perderemos da rota, pois estaremos sempre monitorados. A economia compartilhada foi desejo dele, e o meu desejo para a indústria é que possamos enxergá-la como aliada", afirmou. "O que o cliente que hoje pode não ser o que ele quer amanhã. O segredo é nos mantermos conectados", finalizou.

Luigi Rotunno (ABR), Manuel Gama (FOHB), Ana Luiza Masagão (Royal Palm), Patricia Thomas (Academia de Viagens) e Marcel Frigeira (IBM)

João Bueno convidou Ana Luiza Masagão, do Royal Palm Hotels & Resorts, Patrícia Thomas, da Academia de Viagens, Manuel Gama, do FOHB e Marcel Frigeira, da IBM para o painel "Economia Colaborativa e o Corporativo".

"As plataformas digitais tem dois caminhos – um onde ela é parceira da hotelaria, com geração de diárias para os hotéis. Muitos independentes sequer possuem equipe de vendas, fazendo uso somente dos chamados "ponto com". Hoje em dia, o teclado é o caminho para apresentação dos hotéis e posicionamento deles nas prateleiras. Já por outro lado, existem plataformas que podem ser prejudiciais. O Airbnb é uma excelente ideia no sentido de trazer novas experiências de lazer para os viajantes modernos. No entanto, os apartamentos compartilhados não atrapalham a hotelaria. O que entrava o desempenho da hotelaria hoje, é que cerca de 70% das ofertas do Airbnb não são compartilhados, ou seja, esses sim, concorrem diretamente com a hotelaria. A economia compartilhada não afetou a hotelaria e sim a economia não compartilhada", analisou Manuel Gama, do FOHB.

Para Ana Luiza, que mediou a discussão, o Airbnb fomenta a economia e reflete os progressos naturais da indústria do Turismo. E como o corporativo fica nesse cenário? "Utilizamos os aplicativos de economia compartilhada pela facilidade e transparência que proporcionam. As notas escritas a mão deram lugar a comprovantes automáticos, o que para um gestor faz toda a diferença. Assim, na IBM, encorajamos o uso das novas tecnologias", disse Marcel Frigeira. "O mundo está mudando rapidamente, a cada hora surgem novos fornecedores e players e devemos estar atentos. Entender os novos modelos é importante para o progresso da indústria", completou.

A economia colaborativa se aplica a eventos? Segundo Patrícia, sim. "Seja um viajante corporativo ou um participante de eventos, ao entrar em uma pontocom, ele encontra tudo, e nos canais tradicionais, isso é mais limitado. Participantes de eventos já recebem códigos para o uso do Uber, facilitando a ida e a volta. Hoje, a vida está no celular. Não existem manuais, e sim tutoriais. Devemos observar que as pessoas estão cada vez mais comprando por meio do mobile. Não dá mais para pensar em modelos tradicionais. A economia colaborativa chegou sim no MICE, no corporativo e devemos entender o que isso representa", afirmou.

Luigi Rotunno, Silvio Geneshi (Lide Tecnologia), Magda Nassar (Braztoa), Francisco Leme (ABAV) e João Carlos Pollak (Sofitel Jequitimar)

Economia Colaborativa e o Lazer

No segundo painel da noite, Francisco Leme, vice-presidente da ABAV; Magda Nassar, da Braztoa; e João Carlos Pollak, do Sofitel Jequitimar, discutiram a economia colaborativa e o lazer, com mediação de Silvio Geneshi, da Lide Tecnologia.

Francisco Leme ressaltou a importância do agente de viagens na indústria em detrimento aos chamados pontocom. "O agente de viagens está sempre ali. Muitos obstáculos surgiram para derrubar o profissional, até com a chegada da internet, se acreditava no fim desse profissional. Hoje, a internet é a maior aliada do agente de viagens", finalizou.

Para Magda Nassar, o Airbnb não é novidade e sim a sua distribuição. "Alugar casas que vão desde as maiores mansões até uma cabana de pescadores já é feito há trinta anos. O que está assustando na operação do Airbnb é a sua distribuição e não o que oferecem como produto. O cliente não quer comprar de uma OTA, e sim o preço de uma OTA", explicou Magda. "Hoje quando falamos de Uber, e nos deparamos com a tabela dinâmica, já recorremos ao 99. Ou quando o carro vem caindo aos pedaços, pensamos em usar novamente o táxi na próxima. É o serviço", completou.

João Carlos Pollak reiterou a fala de Magda Nassar, afirmando que o aluguel de imóveis não é novidade. "Na hotelaria estamos sempre reforçando o elemento humano. A tecnologia nunca vai substituir isso. Temos hóspedes que mesmo depois de comprar uma casa no destino, ainda frequentam o hotel. As razões são muitas: querem ter uma experiência olfativa, gastronômica, entre outras. Hoje o Airbnb vende a experiência, vende os passeios, e agora está se tornando uma verdadeira OTA, com reserva de passagens e outros. Isso está acontecendo porque em muitos países já há restrições quanto ao seu campo de atuação original. Precisamos nos transformar, inovar e manter a mente aberta, pois coisas novas sempre acontecerão", opinou Pollak.

Empresariado versus Tecnologia – Qual o Desafio? 
No terceiro painel do evento, Caio Calfat, do Secovi-SP,  falou sobre o surgimento dos novos micro-apartamentos desenvolvidos na capital e o impacto nos hotéis e condo-hotéis.

"O setor imobiliário vive os piores momentos nos últimos dois anos, com queda brusca de vendas e muitos destratos, a grande novidade do mercado imobiliário nos últimos anos. O temor é o de que esses produtos que não foram vendidos ou devolvidos nos destratos, sejam ofertados ao público por meio dessas plataformas, que consideramos como venda de diárias camufladas. Nosso temor é esse: que essa modalidade acabe concorrendo de forma desleal com os hotéis", afirmou. "Isso não ocorre com os condo-hotéis porque são hotéis na essência, e devidamente regulamentados", completou.

Edson Pavão, secretário de Turismo de São Sebastião, respondeu sobre a participação das economias colaborativas nos resultados do litoral norte de São Paulo. "Tivemos um fluxo maior de brasileiros e estrangeiros em 2015. Tivemos clima quente durante todo o ano. Já em 2016, a história mudou. O clima mudou e o cenário junto, com a crise batendo mais forte. A última temporada foi boa, mas fazendo comparativos, vemos que o faturamento, a taxa média e o RevPar tiveram quedas. Eu prefiro pensar na crise como fator principal. A crise acirra a guerra por preços. Acho que há caminhos para minimizar as ameaças causadas pela economia colaborativa", afirmou.

As Plataformas Colaborativas
Penúltimo painel do evento mediado por Luigi Rotunno, anfitrião da noite, "As Plataformas Colaborativas" contou com a participação do deputado Herculano Passos (PSD-SP); Daniela Bertollini, do Expedia; e Marcelo Bicudo, da Allpoints.

Rotunno, dirigindo-se a Marcelo Bicudo, indagou sobre o cenário de start-ups no Brasil. "O mercado sofre pela falta de subsídios para a sua existência. Somos a primeira OTA que não cobra comissão dos hotéis e queremos ser o bitcoin da hotelaria. Vamos trilhar esse caminho, apesar de termos muita coisa jogando contra", revelou Bicudo.

Para Daniela, o conhecimento digital "democratiza o conhecimento do viajante". Segundo a profissional, "hoje o viajante tem muito mais opções. O viajante pode excluir a escolha que fez no início da busca, ou adicionar experiências com um simples clique. No quesito acomodação, temos equipes dedicadas na análise de fotografias, garantindo que sempre sejam as melhores a serem exibidas no portal. Com mais parceiros, podemos negociar melhor, é um triângulo que beneficia a todos no processo". 

O poder público e o empresariado
No quinto e último painel da noite, Dilson Jatahy Fonseca, presidente da ABIH Nacional, falou sobre a atuação ao lado dos associados, incentivando investimentos em tecnologia, inovação e serviços.

"Hoje os hotéis – independentes ou de rede – investem muito", opinou. "Dentro da ABIH, nós estamos sempre promovendo ações como o Conotel, evento realizado na última semana. Como dica, deixo o fortalecimento das parcerias com as OTA´s, principalmente para os hoteleiros independentes, a elaboração de um bom canal direto e a fidelização do cliente", afirmou. De acordo com Jatahy, a economia colaborativa é positiva, exceto se praticada na informalidade.

Para Alexandre Sampaio, presidente da FBHA, as OTA´s também comercializam pousadas que não são formais na sua percepção clara. "Existe um grande processo que precisa ser regulamentado como um todo".

* Crédito das fotos: Hugo Massahiro Okada