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David Pressler atua no IHG (InterContinental Hotels Group) há mais de dez anos
(fotos: Priscilla Haikal e divulgação)

A valorização de uma vida mais saudável, da estética e do espetáculo esportivo fez crescer a demanda por profissionais formados em Educação Física. As oportunidades se diversificaram, indo além do âmbito escolar, abrangendo segmentos empresariais, de saúde e de lazer. O mercado de atividade física movimenta mais de R$ 2 bilhões em negócios no País. São pelo menos 1,5 milhão de frequentadores de academias e 3,5 milhões de adeptos de caminhadas e exercícios em casa. Só no Estado de São Paulo, existem mais de 15 mil academias.

Mesmo com tantos itens favoráveis ao desenvolvimento de uma carreira promissora, este cenário não foi suficiente para convencer David Pressler, atual diretor regional de Vendas Brasil do IHG (InterContinental Hotels Group). O nadador federado desistiu do sonho almejado durante a juventude de cursar Educação Física em alguma universidade pública para fazer parte da primeira turma de Turismo da PUC (Pontifícia Universidade Católica). Vale ressaltar que a escolha teve forte influência emocional e financeira do avô Eunício, decisiva no rumo da vida do estudante de dezenove anos.

Atualmente, o gestor é responsável por coordenar o trabalho de mais de 60 funcionários, e atua numa função com novo formato no País. Sua meta é incrementar o volume de negócios dos hotéis nacionais da rede em 25% nos próximos dois anos. Após 15 anos atuando no ramo da hotelaria, Pressler acumula experiências bem-sucedidas que o fizeram consolidar-se como profissional de destaque na área comercial. A exemplo da abertura do Holiday Inn Manaus, em 2009 – o executivo foi o primeiro contratado do meio de hospedagem que, após quatro meses de operação, atingiu 80% de ocupação.

A persistência para conseguir ingressar na área de Vendas, os sacrifícios pessoais e profissionais durante o desenvolvimento da carreira, e as circunstâncias que levaram o gestor a ingressar no setor hoteleiro foram alguns dos assuntos abordados durante mais de uma hora e meia de conversa com o Hôtelier News.

Por Priscilla Haikal

David Pressler
“Hotelaria é isso, em vários momentos tive que abrir mão de certas
coisas
para poder crescer profissionalmente”

Hôtelier News: Se você pudesse eleger um momento ou uma experiência que foi determinante para sua entrada na hotelaria, qual seria?
David Pressler: Eu considero que minha viagem para a Inglaterra foi um divisor de águas. Terminei o colegial com 17 anos e com 18 eu fui para Bournemouth, uma cidade no sul do país com várias escolas de inglês para estrangeiros. Fiquei um ano por lá e conheci gente do mundo inteiro. Nesse tempo eu trabalhei como promoter, e a função exigia que eu me relacionasse com várias pessoas, e eu gostei bastante desse contato. Ali foi quando comecei a mudar de opinião sobre o que queria realmente para a minha carreira profissional.

HN: Por quê? Você pretendia seguir outra área?
Pressler: Eu fui nadador federado, desde os sete anos eu nadava e participava de competições. Na minha cabeça eu queria fazer Educação Física, dar aulas de natação e estar envolvido com educação física. Até porque, aos 15 anos, eu havia trabalhado como recreacionista para poder ter bolsa na escola onde eu estudava.

HN: Como foi o seu início na hotelaria?
Pressler: Voltei para o Brasil no final de 1998 e precisava trabalhar para pagar o cursinho preparatório para a faculdade. Vi no jornal o anúncio de recepcionista que falasse inglês – por incrível que pareça a gente ainda buscava emprego nos classificados – e o salário era maior do que como professor de idiomas. E foi no hotel Merak, um hotel super antigo de Moema, com perfil corporativo, que eu comecei a me envolver com hotelaria e a gostar muito desse mundo.

HN: A partir desse convívio que você decidiu seguir carreira?
Pressler: Nesse período os esportes já não faziam muito sentido na minha vida, e apesar de estar buscando uma nova profissão, acabei optando por prestar educação física nas universidades públicas de São Paulo (USP, Unesp e Unicamp) e turismo na PUC. Passei em sexto lugar na Unesp, já estava procurando casas para morar em Bauru, e um pouco antes de ir embora minha mãe pediu para eu visitá-la. Meu avô – e tutor na época – queria falar comigo. Detalhe: fazia três anos que meu avô não falava comigo. Isso porque com 16 anos eu passei na EsPCEx (Escola Preparatória de Cadetes do Exército) e desisti de cursar. Foi a maior decepção da vida dele. Ele era aquele vô super tradicional, e como militar, sempre sonhou em ver o neto mais velho na escola de cadetes. Assim que cheguei ele me mostrou o resultado da PUC, dizendo que eu havia sido aprovado e que não deveria me mudar Bauru, ‘para não cometer a segunda burrada da minha vida. Na época a faculdade custava uns R$ 700 e eu argumentei que jamais teria condições de pagar. Ele retrucou dizendo que bancaria o curso para mim. Então acabei ficando, continuei na hotelaria, e amei o curso. Lembro que a turma começou com 70 alunos e só 20 terminaram.

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Pressler posa ao lado do psicanalista e filósofo esloveno Slavoj Zizek

HN: Como foi a sua trajetória do Merak até o IHG?
Pressler: Fiquei um ano no Merak e depois fui trabalhar na Meliá, no antigo Tryp Pamplona, também como recepcionista, em meados dos anos 2000. Desde então eu tinha vontade de enveredar para a área de Vendas, só que para quem começa na parte operacional é bem difícil conseguir fazer essa migração posterior. Até que a gerente geral do hotel na época foi transferida para o Meliá Higienópolis e disse que precisava de um supervisor noturno. Seria meu primeiro passo para assumir um posto de liderança – aos 22 anos. Em termos de carreira, foi uma escolha inteligente, mas acabou refletindo na minha saúde. Eu estava completando um ano de namoro com a minha atual esposa, a gente ainda estava se conhecendo, queríamos sair, viajar, e para quem trabalha à noite é muito difícil conseguir tempo disponível. Foi terrível conciliar minha vida social, minha vida na faculdade e o trabalho. Mas a hotelaria é isso, em vários momentos tive que abrir mão de certas coisas para poder crescer profissionalmente. Este foi só o primeiro. Assim que surgiu oportunidade, consegui transferência para o turno da tarde, o que coincidiu com a gravidez da minha mulher, e tive como estabilizar minha rotina. Em paralelo comecei a me candidatar para a área comercial do Meliá. Cheguei muito próximo de assumir a vaga de executivo de contas, mas não deu certo. Durante esse processo seletivo eu havia mandado meu currículo para alguns hotéis que eu tinha bastante interesse em trabalhar, entre eles, o InterContinental.

HN: Quando você foi chamado, a proposta já era para a área comercial?
Pressler: Não. O primeiro contato que tive foi com o Gustavo Granata, que ligou para uma entrevista, e quase recusei ao saber que não era para Vendas. Ele insistiu, frisou que seria para inaugurar um produto novo, ainda inédito no Brasil, e que eu havia sido muito bem recomendado no mercado. Temos idades muito próximas e ficamos durante mais de quatro horas no restaurante Tarsila falando sobre histórias da hotelaria, visões profissionais que compartilhávamos, sem nem citar a oportunidade de emprego. No mesmo dia ele disse que me queria na equipe para trabalhar na abertura do Staybridge Suites em São Paulo, o primeiro hotel a explorar o conceito de longa permanência na época. Acabei aceitando a proposta, mesmo não sendo em Vendas. Fiz a implantação de procedimentos da área de hospedagem, contratação e treinamento de funcionários. Foi um trabalho super árduo.

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“Com a substituição dos negócios de base e o aumento da gama de clientes,
o hotel teve índices históricos de desempenho e faturamento”

HN: Quanto tempo demorou até alcançar seu objetivo em Vendas?
Pressler: Ainda hoje não atingi. Quando esse dia chegar, eu paro. Era dezembro de 2004, eu estava de férias e a Daniela Pereira – responsável comercial na época – me ligou dizendo que havia sido aprovada a contratação de mais uma pessoa em Vendas no Staybridge. Foi ótimo, tenho muito carinho por ela, é como se fosse uma madrinha para mim. Neste tempo o hotel tinha ocupação média de 70%, e por mais que procurássemos novos negócios, o mercado não estava aquecido. Eu tinha três meses para trazer 40 contas que produzissem 300 noites no mínimo. Então comecei a pesquisar o mercado, a identificar as empresas da região, buscando saber de fusões e negociações entre elas. Aos poucos consegui fazer essa aproximação e fechar algumas contas, diversificando nossos contratos. Ao final do prazo eu já estava com 400 noites. No ano seguinte, com a substituição dos negócios de base e o aumento da gama de clientes, o hotel teve índices históricos de desempenho e faturamento.

HN: Em 2009 você foi um dos responsáveis pela abertura e do posicionamento do Holiday Inn Manaus no mercado. Como se deu essa transferência?
Pressler: O Paco [Garcia, gerente de Operações do IHG para o Brasil] já acompanhava a minha carreira e propôs a minha ida pra lá. Fui o primeiro funcionário contratado do hotel. O País havia acabado de sair da crise de 2008, e a hotelaria sentiu muito esse período. A ocupação no distrito industrial de Manaus girava em torno dos 50%. Os concorrentes tinham de 120 a 150 apartamentos. O Holiday Inn tinha 240. Ao analisar o orçamento de 2009 e 2010, eu pensava: meu Deus do céu! Precisava atrair as empresas mais importantes que produziam no distrito. Após a identificação das principais contas, fui atrás das que podiam me garantir 50% da ocupação o ano inteiro. Fechei com uma tripulação e com uma empresa de origem coreana com forte fluxo na cidade. Aos poucos as ações foram se concretizando, e consegui resultados muito rápidos. O hotel abriu em janeiro com 15% de ocupação. Em fevereiro foi para 30%, e em março – quando os acordos estabelecidos em 2009 começaram a vigorar – a gente atingiu 65%. Meu trabalho voltou a aparecer e a ganhar destaque.


David Pressler e Paco GarciaPressler junto com o gerente de Operações Francisco “Paco” Garcia

HN: E a volta para São Paulo?
Pressler: Eu já havia dito que gostaria de retornar e em 2011 o Paco me chamou para assumir a direção de Vendas e Marketing do InterContinental São Paulo. Minha missão seria muito simples: posicionar o hotel como número um da marca e o primeiro em RevPar (receita por apartamento disponível) do nosso set competitivo. Mesmo sendo bastante desafiador, historicamente o Inter tinha um mix de negócios bem tradicional, mais engessado. Então minha proposta foi de inovar e alterar esse formato, o que logicamente impactava em revenue management. Mesmo com uma descrença inicial acerca dos resultados, o hotel terminou o ano como líder no set competitivo e uma das melhores performances da rede nas Américas.

HN: Há dois meses você assumiu a diretoria regional de Vendas Brasil. Quais suas metas e como pretende alcançá-las?
Pressler: A posição que eu tenho hoje, com esse escopo, é nova no Brasil. Antes era mais institucional, atrelado ao marketing. Depois o formato era voltado para contas e empresas. E hoje meu trabalho é focado nos hotéis, a partir de estratégias individuais junto com os diretores de vendas e marketing, dentro de uma esfera maior do IHG. Meu objetivo está diretamente ligado ao desempenho das unidades, e tomo como base o RGI (Revenue Generated Index), índice que mesura o meu RevPar com o da concorrência. A intenção é aumentá-lo em 25% nos próximos dois anos. Aposto bastante no interior de São Paulo e em Belo Horizonte como feed market.

HN: Sobre novos projetos e desafios que rede prevê para os próximos anos, o que você pode adiantar?
Pressler: A concorrência vai ser muito grande no ano que vem. Meu desafio é trazer volume de grandes contas para o IHG, garantindo maior estabilidade nos próximos três anos, que na minha opinião, são de incerteza. Prefiro olhar a longo prazo, estabelecendo contratos que tragam base para nossos hotéis. Os novos empreendimentos que estão a caminho são o Holiday Express Belém (Pará), Holiday Inn Express Rio Branco (Acre), Holiday Inn Express Porto Velho (Rondônia), Holiday Inn Express Marília (São Paulo) e o Holiday Inn Belo Horizonte Savassi (Minas Gerais).

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